segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Semana 8: O desafio torna-se individual

| Luís Cristóvão



Ao fim de oito semanas a filosofar sobre os problemas motivacionais dos jogadores enquanto equipa, atingimos um momento da época, com a mudança de fase no campeonato, em que o desafio começa, também, a ser individual. Ou seja, se para a equipa o processo segue a sua evolução normal, tendo em conta que depois de adversários de maior exigência começamos, agora, a encontrar equipas com quem podemos realmente competir, para cada um dos indivíduos assumimos a problemática de entender até onde eles podem (e querem) evoluir.

Uma coisa é certa: não podemos transformar em jogadores de basquetebol aqueles que não o querem ser. Logo, a primeira etapa do desafio é exatamente essa, perceber se cada um dos jovens já tem em si concretizada a ideia de que quer ser (ou não) um jogador. A segunda etapa passa por tentarmos aproximarmo-nos, enquanto treinadores, das ambições de cada um deles. No nosso grupo de trabalho, existem uns poucos que estão motivados e têm a capacidades físicas para subir de nível de exigência, enquanto outros ora têm problemas de motivação ora precisam de afinar o seu momento físico. Para cada um deles experimentam-se adaptações do processo de treino, de modo a tornar o seu percurso individualmente mais rico. Finalmente, podemos falar de um outro grupo de jogadores que sente dificuldades nos dois âmbitos e, para esses, o elemento de divertimento do processo - seja no treino, seja no jogo - precisa de ganhar maior peso.

A pergunta acaba por ser, no final, como conjugar na equipa os diferentes desafios individuais que nos são apresentados. Sim, porque o desafio individual tem, no basquetebol, como é óbvio, uma materialização colectiva para a qual caminhamos. Indivíduo a indivíduo, plano de vida a plano de vida, conjugamos situações para manter unido um grupo de vinte crianças. E é essa a dificuldade que nos faz andar.

Hoje há treino!

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

10 Anos depois, Philip Island volta a ser de Rossi

| Carolina Neto



A tournée transatlântica da elite do mundial de motociclismo teve a sua segunda paragem em Philip Island, na Austrália. Uma pista junto ao mar, onde os pilotos são brindados pela companhia das gaivotas. Este circuito é a chamada «Meca» do Mundial. Não há nenhum adepto das duas rodas que não sonhe em assistir a um Grande Prémio nas bancadas de Philip Island. Um verdadeiro espectáculo. E a corrida deste fim-de-semana esteve à altura! Surpresas, erros, quedas, abandonos… houve de tudo.

Depois da corrida em Motegi, onde Marc Marquez se sagrou bi-campeão do mundo, as duas rodas foram até à Austrália, sendo que o favorito continuava a ser o novo campeão do Mundo. E tinha tudo para vencer, mas Philip Island foi o terceiro erro cometido pelo piloto espanhol da Honda.
Mas a história deste Grande Prémio foi outra. Depois do erro e consequente queda por parte de Marquez, o veterano «Il doctore» decidiu brindar os aficionados com mais uma vitória. E que vitória tão cheia de significado.

Era o seu 250º Grande Prémio em cima de uma moto da categoria rainha e a prova correu-lhe de feição. Muitos podem alegar que apenas ganhou porque Marc Marquez errou, mas a verdade é que Valentino Rossi sabe aproveitar as oportunidades. E, desta vez, não voltou a falhar. Soube distanciar-se dos rivais mais directos, nomeadamente de Jorge Lorenzo e Cal Crutchlow, e estava no lugar certo para saber aproveitar a queda do líder da corrida.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

PepsiDeild - De brincalhões a campeões na Terra do Fogo e Gelo

| António Valente Cardoso



Não, não se trata de falar de George RR Martin e da sua épica senda literária que tanto sucesso televisivo tem tido, fala-se de futebol, de um arquipélago árctico que contradiz tantas estatísticas e lugares comuns da sociedade ocidental, de uma equipa que ninguém conhecia e se fez campeã.
Começando pelo fim. O Stjarnan sagrou-se campeão islandês em 2014, primeiro título masculino, seguindo o que as meninas do clube já haviam conseguido antes e mantiveram neste ano. O título não podia ter sido mais dramático, última jornada, dois pontos atrás do líder, que visitava, primeira vantagem, empate e o golo vencedor já perto do final da partida, para celebrações… por todo o mundo.

Choveram parabéns ao clube da Holanda, da Polónia, da Roménia, de Portugal, da República Checa, da Costa Rica, do Brasil, da Argentina, de Itália, da Turquia, da Alemanha, da Noruega, do Vietname, da Escócia, de El Salvador, de Inglaterra, das Filipinas, da Eslováquia, da Hungria.
O que faz do Stjarnan algo tão especial? Pois claro, os únicos, incomparáveis e globalmente famosos festejos da equipa em 2010, uma situação que na altura foi criticada pelos dirigentes locais, levando mesmo a jogos à porta fechada para o clube, pelo medo do ridículo. A verdade é que não apenas se catapultaram jogadores, que tinham qualidade, se divertiam e se mostraram ao mundo, que não ficou indiferente. Afinal, era – como é – uma equipa divertida!

Depois da globalização do pequeno clube dos arredores de Reykjavik, de Gardabaer, com cerca de 13 mil habitantes e conhecida por deter a única Ikea do arquipélago, um dos melhores estúdios de televisão e, agora, os campeões e campeãs de futebol na Islândia. O Stjarnan também se revela pelo bonito futebol praticado, ganhando fãs em Motherwell, em Poznan, em Milão, após os desempenhos europeus frente a adversários daí.

Quando um arquipélago de pouco mais de 300 mil habitantes se consegue afirmar no contexto futebolístico, depois de já o ter feito no panorama andebolístico, tal relativiza toda a autocomiseração portuguesa, não? Situação que se estende igualmente à forma como declararam falência, julgaram e prenderam políticos e banqueiros e logo se reergueram, fazendo frente ao todo poderoso FMI, não parecendo tão difícil quanto se apregoa noutras paragens. Talvez não tenham, naturalmente, tantos ‘Velhos do Restelo’…

sábado, 18 de outubro de 2014

Semana 7: Fazer o que há a fazer

|Luís Cristóvão



Esta semana decidi não esperar pelo jogo, deixando claro que, por agora, o jogo será aquilo que menos importa. Se não conseguimos treinar como queremos jogar, o momento competitivo é um vazio. Daí que a contínua chamada de atenção é feita, agora, em tom de exigência: quem quer fazer o que há fazer, segue connosco. Quem não quer, ficará pelo caminho.

A chamada de atenção resulta. Aqueles que são, neste momento, os elementos mais importantes da equipa entendem a situação em que se encontram. Dão mais de si no treino, exigem mais aos outros, começam a compreender quais são os momentos em que brincamos e quais são os que estamos a sério. Esses foram eleitos líderes pelo próprio grupo e farão com que a maioria dos colegas o siga.

Por outro lado, entre os miúdos mais novos ou com menos anos de basquetebol, há claramente aqueles que aceitam o repto. Querem perceber o que podem fazer melhor. Querem descobrir o que está para lá da sua realidade atual. Esforçam-se mais. Dão mais. Testam-se e crescem. Esses ganharão o seu lugar dentro do grupo e rapidamente passarão de ser os rapazes “encolhidos” que apareceram no início da época para se assumirem perante os obstáculos.

Pelo meio, há quem demore mais tempo a entender a chamada ou quem esteja no processo de descobrir que esta não é a sua modalidade. É um processo natural que o treinador deve entender e acompanhar, não desistindo de o formar enquanto desportista e homem, apesar das dificuldades claras para o tornar um basquetebolista.

O acumular do trabalho durante as semanas cria também, nos treinadores, os primeiros sinais de fadiga. Chegamos ao final da prática mais cansados, durante os exercícios queremos mais, as desculpas vão-se desvalorizando, conhecemos agora perfeitamente todos aqueles que partilham o espaço de treino connosco. Entender tudo isto continuamente é um desafio cada vez mais elevado, mas que vai sendo processado com a naturalidade do respirar, do viver, com prazer, aquilo que se faz.

Amanhã há jogo!

domingo, 12 de outubro de 2014

Semana 6: Uma filosofia para a viagem

| Luís Cristóvão



Passado um mês desde o início da temporada e iniciado o período competitivo, a equipa começa a encontrar-se nas suas responsabilidades e capacidades. O teste não está tanto nos jogos oficiais, dado que o início de época nos reservou um calendário de encontros com equipas mais velhas e evoluídas em termos físicos, mas sim naquilo que cada um de nós consegue demonstrar em treino.

No intervalo dos 11-13 anos, o brincar é algo sempre muito presente. Educar os jovens atletas para a integração da ideia de trabalho é uma missão exigente, que nos obriga a uma atenção permanente a tudo o que se passa - a qualquer momento pode surgir uma oportunidade para se delinear de forma mais concreta as barreiras entre uma e outra coisa.

Esta semana, a cada dia procurou-se ativar esse sentido de responsabilidade. Primeiro, para o treino em si, elevando o grau de exigência, obrigando cada atleta a assumir os sacrifícios necessários para acompanhar o grupo. Segundo, para a união da equipa, transformando um incidente disciplinar numa ocasião para sublinhar os deveres e direitos de cada um. Finalmente, no momento competitivo, sublinhando as atitudes que nos permitem obter melhores resultados, como ficou claro num dos períodos do jogo.

Foi uma semana cansativa e exigente para todos. No regresso a casa, já de noite e com chuva intensa, a música corria ao gosto dos miúdos que se entretinham nas suas brincadeiras nos bancos detrás. Enquanto conduzia, ao meu lado, um deles dormitava. Não se entra numa família só porque se quer. Este grupo vem já junto há dois anos e vai assimilando a ideia de ter mais um elemento na cadeira hierárquica da equipa. Só sendo, sempre, um adulto que compreende e que se tem lugar. Será essa a filosofia para a viagem.

Amanhã há treino!

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Ryan Gauld: um projeto a longo-prazo para a seleção escocesa

|Andy McDougall



A maior surpresa do mais recente plantel de Gordon Strachan foi a inclusão pela primeira vez de Ryan Gauld, médio-atacante do Sporting.

Após ter começado a sua carreira profissional com o Dundee United, o nome de Gauld é bem conhecido na Escócia e a sua transferência ao Sporting gerou bastante interesse.

Não é comum que um jogador escocês vá para fora da Grã-Bretanha para jogar, mas Gauld não é um jogador comum. Há muita esperança de que chegará a ser uma peça chave na seleção e já vimos na seleção sub-21 o que pode fazer. O miúdo de 18 anos é longe de ser um jogador tipicamente escocês e isso entusiasma os adeptos escoceses que frequentemente perguntam-me como correm as coisas para ele em Portugal.

O facto de não ter jogado nem um minuto na equipa principal do Sporting não é razão para estarmos preocupados – é entendido que Gauld é jovem e que ganhar ritmo na equipa B vai-lhe servir bem – mas é por isso que muitos ficaram surpreendidos de ler o nome dele na lista de Strachan para os jogos de qualificação frente à Geórgia e à Polónia.

No entanto, se olharmos com outra perspectiva, talvez não seja tão surpreendente. Seria uma verdadeira surpresa se Gauld participar nestes duelos; o plantel é grande (uns 27 jogadores) e não seria a primeira vez que Strachan incluiu um jovem apenas para lhe dar experiência com a seleção A e trabalhar com eles nos treinos.

Strachan sempre tem sido um treinador mais do que um seleccionador e segue assim; chamando tantos jogadores dá-lhe a oportunidade de trabalhar com um grupo maior e incluir uns jovens para conhecê-los.

Isto passou mais recentemente com Callum McGregor, médio-atacante de 21 anos do Celtic que começou a época atual de maneira ótima. Ele foi chamado para o jogo diante da Alemanha mas nem sequer foi incluído no banco de suplentes. Outros jovens chamados e não utilizados por Strachan no passado incluem Tony Watt (naquela altura do Celtic mas agora do Standard Liège) e Stuart Armstrong (do Dundee United). Há outros exemplos mas estes dois ainda não fizeram um jogo com a seleção A, embora seja esperado que serão jogadores internacionais no futuro.

Também no plantel atual fica Stevie May, avançado de 21 anos do Sheffield Wednesday (e ex-St Johnstone), que, como Gauld, está a marcar a sua primeira presença com os seniores e Strachan já falou na possibilidade de chamar um terceiro jovem se alguém baixar do plantel.

No fundo, todo isto quer dizer que é bom ver Gauld no plantel mas é importante mantermos realistas e não mal-interpretar a chamada dele. E se ficar fora do próximo plantel, não deveríamos pensar que decepcionou ou que baixou o seu nível ou a sua reputação.

Para Gauld, este é o primeiro passo do que esperamos será uma longe associação com a seleção, mas temos de estarmos pacientes e ter em conta que com apenas 18 anos ainda poderá jogar nos sub-21 para uns anos mais.

Strachan, pela sua parte, já se mostrou disposto a incluir jovens no grupo da seleção mas não tanto para apostar neles nos jogos. Porém, para já, é encorajador a ver que tem interesse em jovens promissores e a política de introduzi-los cedo ao plantel – antes que estejam prontos de jogar – poderia constituir um processo muito sábio. Com certeza tem sentido que se já conheçam os seus companheiros e como é a vida com a seleção A, será mais fácil para novos jogadores integrar-se quando é preciso que joguem, pois já estarão cómodos e saberão as tácticas e o que o treinador espera deles. Vamos ver como evoluirá a equipa, mas o pensamento de longo prazo de Strachan poderia trazer bons resultados para a seleção escocesa.

domingo, 5 de outubro de 2014

Semana 5: Para onde vamos?

| Luís Cristóvão



Uma coisa podemos ter certa: formar demora o seu tempo. Formar uma pessoa, formar um atleta, formar uma equipa. Começar a temporada oficial é dar de caras com isso mesmo. Com o tempo que tudo demora. Porque se, para formar uma pessoa, sabemos que trabalhar todos os dias é o único caminho, para o fazer com um atleta ou uma equipa não será muito diferente. Tem tudo que ver com o tempo que nos faz medir as coisas.

O primeiro lugar onde queremos chegar é a ter uma equipa. Um conjunto de jovens que sejam solidários entre eles e com os objetivos delineados, possa ser uma vitória, um número de pontos marcados, alguns gestos técnicos conseguidos. E a equipa existe, apesar de numa idade em que a individualidade está muito marcada, a consciência da necessidade que temos uns dos outros está lá.

Para termos atletas, vai demorar um pouco mais. A disponibilidade física é, ainda, a grande parte do que cada um deles pode dar, sendo que aqui e ali começamos a perceber os sinais da inteligência de jogo e, sobretudo, de inteligência emocional. O jogador que apoia os outros, aconteça o que acontecer, o jogador que sabe ler as situações, por complexas que elas ainda lhe possam parecer.

Vai demorar mais tempo até termos pessoas. Mas, em última análise, é para aí que queremos ir. Ter pessoas conscientes do trabalho que é preciso desenvolver para o seu futuro e, se tivermos sorte, para o futuro do basquetebol. Chegar a formar uma pessoa que seja que consiga, daqui a uns anos, perceber o que é certo e errado de se fazer com um grupo de outros jovens que ambicionem, também eles, a jogar basquetebol.

Porque, uma vez mais, a disponibilidade física pode selecionar-se. Mas é preciso alimentá-la de gestos técnicos corretos, consciência da importância de testar os seus limites e aumentá-los, jogo a jogo, treino a treino, em todas as ocasiões. Se nós não formos capazes de formar pessoas assim - e talvez uma boa explicação para o ponto em que se encontra o nosso basquetebol esteja aí mesmo -, então não conseguiremos inverter um destino de mediocridade. E essa é a guerra que estamos aqui a combater.

Amanhã há treino!

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Futebol no Feminino, um preconceito que custa a desaparecer

| António Valente Cardoso



A ideia de macho latino assenta na perfeição que se observa a dimensão aos desportos colectivos femininos no eixo mediterrânico, particularmente em Portugal e com ainda maior foco naqueles que são determinados como sendo masculinos, um pouco como determinadas profissões.

Se existem dificuldades nas modalidades amadoras portuguesas, que lutam pela sobrevivência num país que continua a não possuir uma política desportiva, académico-desportiva, sustentada, continuada, que permitiria uma poupança nos gastos de saúde imensamente superior a um investimento bem desenhado, projectado, desenvolvido e aplicado, tal ainda se acentua no desporto colectivo feminino. Nas modalidades de pavilhão como o andebol, o voleibol ou o basquetebol, valem os colégios privados, algumas escolas avulsas com uma boa ideia da importância do desenvolvimento e prática desportiva na própria resposta académica mais positiva, e alguns clubes, sensíveis e preocupados com essa problemática ou meramente agarrados à importância histórica, aos títulos que o feminino lhes granjeou e assegura.

É notável o esforço das atletas, muitas ainda a lutarem contra os preconceitos dentro da própria casa, por parte dos amigos e afins, numa retrógrada visão de que o futebol é para homens, situação extensível ao futsal. Muitas deslocam-se 50, 100 km duas ou três vezes por semana para irem treinar, um enorme desgaste, uma perda na ‘diversão’ ou no descanso pela dedicação, pelo amor pelo ‘Beautiful Game’.

Hoje, o futebol feminino em Portugal, após avanços e recuos nas últimas três décadas, parece finalmente focado num crescimento sem marcha atrás, sem magriços acoplados, com excelentes resultados, ainda maiores face a tão escasso investimento. Quer na variante de cinco, futsal, quer na variante de relvado, num instante se viram dezenas de atletas a emigrarem, uma prova – se necessário fosse – da inata qualidade da desportista portuguesa, como nos masculinos, sem os bacocos conceitos do ‘somos pequeninos’, não há ‘profundidade’.