|Luís F. Cristóvão
Chegou finalmente o dia que nunca havíamos imaginado. Alex Ferguson anunciou que vai deixar de ser o treinador do Manchester United. Para muitos de nós, os Red Devils estiveram sempre ligados a este escocês duro e mal-humorado, a quem fomos reconhecendo o sorriso pela quantidade de títulos que somou à frente da equipa de Manchester.
Quando comecei a acompanhar o futebol inglês, no início dos anos 90, Alex Ferguson era sinónimo de sonhos por alcançar. Lembro-me bem de seguir a época em que os Red Devils alcançaram o seu primeiro título depois de anos e anos de “seca”. 1992/93. Durante boa parte dessa temporada, o Norwich ameaçou chegar ao título, mas com a chegada, a meio da época, de Éric Cantona, as coisas foram mudando de figura. Nesse grupo cruzavam-se o passado e o futuro do United. Jim Leighton, Steve Bruce, Bryan Robson, Mark Hughues, eram a velha guarda que abria espaço para jogadores como Schmeichel, Kanchelskis e o louco francês. À espreita andavam já Gary Neville, David Beckham e Ryan Giggs, figuras centrais da equipa que em 1999 voltou a levar uma Taça dos Campeões para o norte de Inglaterra.
Aí, Alex Ferguson começava a fazer-se lenda. Que outro treinador foi capaz de fazer viver, sob a sua liderança, tantas gerações diferentes de futebolistas, acompanhando um período efervescente de estudo e evolução do jogo, desde 1980 até 2013? São 33 anos de diferença entre o primeiro e o último título, uma liga escocesa com o Aberdeen e uma liga inglesa com o Manchester United. Quando deixar o banco, daqui a um par de semanas, no final deste campeonato, Alex Ferguson terá feito algo de inigualável. Não só porque, marcando a união entre tempos diferentes do futebol, o escocês é um sobrevivente de uma ideia de liderança paciente que dificilmente se reconhece nos dirigentes de hoje, como a sobreposição de objetivos e ambições dificilmente permite uma caminhada como a sua. Já não se criam clubes, como Alex Ferguson criou, desde a linha de água até a ser-se um dos melhores clubes do mundo.
Por isso, com ele, acaba também um pouco da nossa infância. Afinal, é mesmo verdade. Os ídolos não duram para sempre.
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