|Luís F. Cristóvão
Rui Alves orientou a seleção masculina que, na Divisão B Europeia, disputada na Bósnia e Herzegovina, terminou na 15ª posição. Ainda assim, com vários jogadores a terminar no Top 10 de estatística individual – Diogo Brito nos pontos marcados e assistências, Pedro Oliveira nas assistências e Ricardo Monteiro nos ressaltos -, existe matéria-prima a ter em conta para o futuro do basquetebol nacional. Rui Alves fala, neste entrevista, da preparação para a competição, bem como da gestão feita durante os dias da prova.
O que destaca da preparação para uma competição deste nível? Quantos jogos de preparação foram realizados? O que falta ainda, à estrutura das equipas da nossa federação, para estarmos, no que toca à preparação, ao nível dos nossos concorrentes?
Na fase de preparação, destaco o número de dias de estágio e a competição prévia à participação no campeonato. Este ano realizamos 7 jogos internacionais, muito acima do habitual, mas, por outro lado, os cortes nos dias de estágio a que nos vimos sujeitos fizeram com que não chegássemos sequer aos 40 treinos realizados. Os nossos concorrentes têm uma vantagem sobre nós que é a situação geográfica… jogamos com seleções que se meteram num autocarro e passavam 5 ou 6 fronteiras para jogar, e levavam 20 ou mais jogos de preparação. Mas, repito, a preparação deste ano para nós até foi muito melhor do que é habitual neste escalão.
Durante a temporada, o Rui Alves teve a seu cargo não só a Seleção Sub-16, mas também a identificação e seleção de novos talentos. O que poderia ser feito de diferente na deteção de talentos? Qual o papel que os clubes devem ter neste processo?
Naturalmente que os clubes são fundamentais… não há jogadores sem clubes, não há seleções, nem associações, nem coisa nenhuma. O programa nacional de deteção de talentos não surge para substituir os clubes, pelo contrário, é para os servir. Agora somos é conscientes que a prática federada está cada vez mais próxima da área da recreação e lazer do que do alto rendimento. Daí desenvolvermos um projeto para que os mais aptos fossem detetados, recrutados e estimulados de forma diferente. Se tivermos mais e melhores jogadores, teremos melhores equipas, melhores clubes, melhores seleções distritais e nacionais.
Num escalão que marca o início da experiência internacional dos atletas – e que poderá, assim, permitir uma comparação mais direta entre os diversos países -, o que identifica como vantagens e desvantagens do jogador de basquetebol português?
É muito difícil caracterizar, catalogar de forma tão definitiva, jogadores de 16 anos, portugueses ou estrangeiros. Mesmo na nossa seleção, entre os 12 jogadores, é difícil traçar uma marca. E não digo isto com sentido pejorativo… a heterogenia pode até ser uma vantagem.
Como se processa o scouting para uma competição como este Europeu? Os adversários foram observados previamente? E durante o torneio, as equipas são observadas de maneira a alinhavar estratégias para os encontros?
No nosso caso em concreto o scouting é uma ferramenta fundamental. Todos os jogos foram preparados até ao mais ínfimo detalhe. As seleções adversárias foram observadas durante a competição, em vídeo e in loco, a informação foi tratada e fornecida aos jogadores, quer em vídeo, quer na definição de estratégias pelo método de walkthrough no treino prévio ao jogo.
Ao realizar nove jogos em 11 dias, vencer num campeonato europeu é algo que tem mais implicações físicas e psicológicas do que a nível de talento? Como se gere um grupo para uma intensidade competitiva destas?
Vencer um campeonato europeu neste formato competitivo obriga a enorme talento, excelente capacidade física, alto nível de compromisso e uma preparação dos jogos muito cuidada. A gestão do grupo depende dos objetivos naturalmente. Quando se joga para não descer de divisão é uma coisa, quando se joga para tentar subir é outra. No nosso caso, a ideia foi sempre a de garantir o compromisso do grupo, a entrega, jogo a jogo… pensar um jogo de cada vez na busca pela melhor classificação possível…
Tendo em conta o resultado final da nossa participação, faz sentido levar atletas a uma competição destas e dar-lhes menos de 10 minutos de jogo? Não se perdem oportunidades de fazer crescer os jogadores, em termos competitivos, nestas condições?
Não há nenhuma equipa ou seleção do mundo, a jogar uma competição “a sério”, que possa dar 10 minutos de jogo a 12 jogadores. Se há, nunca vi. Neste escalão em concreto, sou de opinião que qualquer que seja o jogador que esteja em campo nunca é uma oportunidade perdida, pois estão no início de um percurso.
Como enquadra a geração de 97 nas recentes gerações do nosso basquetebol? E o que podemos esperar, na sua opinião, das gerações de 98 e 99, em masculinos?
Como já referi antes, é difícil caracterizar a geração de 97 como um todo de 12 ou 20 jogadores… porque é uma geração extremamente heterogénea. Acabamos com jogadores no Top 10 de pontos marcados, ressaltos, assistências… mas não nos faz a todos grandes marcadores nem ressaltadores… Acrescentava só que, defensivamente, talvez o desempenho coletivo tenha sido abaixo do conseguido em anos anteriores. Quanto ao que podemos esperar, isso vai depender muito do trabalho que se vai realizar. Além do treino nos clubes e do trabalho associativo, temos alguns jogadores a residir no CAR Jamor, mas espero que as Sessões Regulares de Trabalho Técnico continuem, pois só com mais e melhor trabalho é que poderemos esperar melhores jogadores e melhores resultados.
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