Anthony Masetti nasceu em 1951 em
Nova Iorque, cidade dos Estados Unidos para onde se havia mudado o seu pai, há
muitos anos atrás, para ajudar os seus familiares num restaurante em Little
Italy, Manhattan. O pai de Masetti era um adolescente quando fez a longa viagem
para o lado de lá do Atlântico, fugindo ao estado de crise social que se vivia
em Itália poucos anos antes de estalar a Segunda Guerra Mundial. O sonho de
muitos italianos dessa época era encontrar no Novo Mundo o sucesso que a Velha
Europa lhes parecia negar, e assim aconteceu com a família de Masetti.
Nem todos os homens da família
eram, no entanto, pessoas de pouco sucesso. Guido Masetti terá sido o mais
famoso de entre eles, chegando a ser considerado um dos melhores guarda-redes
italianos da década de 1930. O pai de Anthony falava sempre da emoção que tinha
sido ver o seu primo Guido nas laterais do relvado do estádio Nazionale de
Roma, a 10 de Junho de 1934, na final do Campeonato do Mundo de Futebol. Tendo
ficado como uma das lendas do futebol, Guido Masetti foi duas vezes campeão do
Mundo sem nunca ter jogado na equipa nacional.
Anthony Masetti cresceu assim a
ouvir as histórias de futebol contadas por seu pai, ouvinte semanal de todas as
transmissões via rádio de jogos do seu Lázio de Roma. Anthony sonhava com a
glória dos estádios cheios de gente para ver jogos de futebol, coisa que nunca
tinha encontrado em Nova Iorque, onde o mais que se podia ver eram alguns
homens a jogar em terrenos baldios nos fins de tarde de domingo. Anthony sempre
quis ser como aqueles homens que corriam atrás de uma bola, e algumas vezes
chegou a jogar entre eles, quando um dos homens era chamado para trabalhar ou
para resolver algum problema de família e uma das equipas ficava com um
elemento a menos.
Sem treino e sem prática quase
nenhuma, para Anthony não foi problema apresentar-se nos treinos de selecção do
New York Cosmos, uma equipa formada na cidade por dois irmãos turcos, Ahmet e
Nesuhi Ertegun, e o dono da Warner Bros, Steve Ross. Era uma equipa que
prometia ser a sensação da N.A.S.L., a liga norte-americana de “soccer”.
Anthony Masetti não era um portento de qualidades futebolísticas, mas juntava
dois elementos que foram queridos à comissão que seleccionava os jogadores. Era
descendente de italianos, o que constituía, desde logo, um mercado, e tinha a
dedicação suficiente para nunca faltar a um treino, nem se negar a um jogo,
coisa que não era tão habitual como o desejado, dada a maioria dos treinos e
jogos dos primeiros anos do Cosmos se realizarem em campos sem as mínimas
condições.
Com o início do primeiro
campeonato em que o Cosmos participou, Anthony Masetti acabou por revelar-se um
importante trunfo. Dos poucos milhares de pessoas que preenchiam as bancadas
nos jogos em casa do Cosmos, perto de um milhar deslocava-se ali para ver
Anthony Masetti. Era, sem dúvida, um jogador medíocre, que ficava muitas vezes
perdido na extrema-esquerda do ataque da equipa, mas era um Masetti, um
italiano, um rapaz que tinha atingido o seu sonho, e isso levava gente ao estádio. Por isso
jogava Masetti tantas vezes.
Masetti foi assim ganhando o seu
espaço numa equipa que, com o passar dos anos, foi vendo cada vez mais estrelas
a chegar. Pelé, David Aitken, Dave Clemens, Giorgio Chinaglia, e, mais tarde,
Carlos Alberto, Beckenbauer, Neeskens, Marinho, todos eles jogaram ao lado do
mais que famoso Anthony Masetti, o homem cuja família dominava o clube de fãs
do New York Cosmos, sendo, ano após ano, considerado entre os três jogadores
mais apreciados da equipa. Para mais, desde a sua chegada em 1976, tinha-se
tornado no melhor amigo de Giorgio Chinaglia, um outro italiano de Roma, antigo
jogador da Lázio, o clube do seu pai, que veio revolucionar o futebol e o
balneário do Cosmos. Chinaglia era um ponta-de-lança, o homem que queria sempre
a bola e nem Pelé escapava à sua fúria de marcar golos. Se necessário fosse,
Chinaglia colocava-se no caminho do Rei e finalizava como um louco.
Anthony Masetti, que nem precisou
da chegada das estrelas para cada vez ter menos minutos de utilização, manteve
o seu lugar no plantel porque era ele o homem que compreendia Chinaglia. Era
ele quem o acompanhava em todas as saídas nocturnas, era ele quem lhe
proporcionava todos os desejos em tempos de viagens e estágios, era ele quem
promovia, junto do clube de fãs, a eleição de Chinaglia como jogador favorito
do clube. Anthony Masetti jogou no New York Cosmos desde 1971 até 1984, ano em
que a própria N.A.S.L. se extinguiu. Masetti tinha 33 anos e cinco títulos de
campeão, apesar das menos de 100 presenças em jogos, num total de 14 épocas.
Talvez fosse uma estrela um tanto apagada, mas nenhum outro jogador
norte-americano se pode gabar de tal palmarés.
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