|Luís F. Cristóvão
A seleção de Sub-16 feminina fez história, ao garantir, pela primeira vez, a subida à Divisão A neste escalão. O feito foi alcançado em Matosinhos, com Ana Catarina Neves a liderar a equipa técnica que alcançou este feito. Nesta entrevista, procuramos saber, junto da selecionadora, como foi preparada a campanha, quais as sensações da equipa durante a competição e de que forma estamos a preparar o futuro.
Time Out com Ana Catarina Neves |
Inicialmente, dentro do nosso grupo, a subida de divisão não foi assumida como objetivo principal, pois não conhecíamos o valor dos adversários (sub-16 é a primeira geração a competir), nem tivemos competição internacional que nos permitisse fazer uma avaliação e aferição do valor da nossa equipa relativamente às demais. Achámos, sim, que tínhamos uma equipa interessante, trabalhadora e competitiva, à qual fomos propondo metas intermédias em função da fase da competição em que estávamos e da avaliação que fomos fazendo das outras equipas. Foi com esta perspetiva, com exigência e rigor no trabalho, que nos preparamos para enfrentar este enorme desafio, jogo a jogo, um dia de cada vez.
Quantos jogos de preparação foram realizados? O que falta ainda, à estrutura das equipas da nossa federação, para estarmos, no que toca à preparação, ao nível dos nossos concorrentes?
A preparação foi a possível face à atual conjuntura económica que vivemos. Julgo que o fator financeiro é o maior entrave, pois já vamos recebendo convites interessantes para torneios. Disputámos quatro jogos particulares com equipas do Porto e, na Covilhã, jogámos três jogos com seleções nacionais (duas sub-18 e uma sub-16). Do conhecimento que temos, as seleções europeias que lutam pelos melhores lugares na classificação fazem entre 5 a 10 jogos de preparação antes de disputar os Europeus.
Carolina Bernardeco e Maria Kostourkova – as duas no melhor cinco do torneio – dão todos os sinais de que poderão ser duas jogadoras muito consistentes em qualquer nível competitivo. No entanto, neste torneio, outras jogadoras (Chelsea Guimarães, Sofia Almeida, Carolina Gonçalves, Maianca Umabano e Leonor Serralheiro) constituíram uma segunda linha muito forte, jogando quase todas nos limites das suas possibilidades. O fator casa, com o pavilhão sempre cheio, foi essencial para isso ter acontecido?
O entusiasmante ambiente que se viveu em Matosinhos ultrapassou largamente as minhas melhores expectativas e foi um grande impulsionador das nossas exibições. Estava um bocadinho receosa acerca da forma como iríamos reagir ao "jogar em casa" e, ainda por cima, com o pavilhão cheio, dia após dia, a apoiar...mas as nossas atletas revelaram uma maturidade e um equilíbrio emocional fantástico que se traduziu ainda em mais querer, vontade, espirito de sacrifício e concentração.
Como se prepara o scouting para uma competição destas? O que foi feito antes do torneio começar? De resto, durante a competição, a equipa técnica portuguesa foi uma presença constante no pavilhão – isso terá sido essencial para encarar cada partida com maior segurança?
Antes do torneio tivemos acesso a muito poucos dados dos nossos adversários, apenas resultados de torneios ou jogos de preparação. Durante o Europeu, preparámos todos os jogos da mesma forma. Vemos os nossos adversários a jogar ao vivo, analisamos dados estatísticos e vídeos, selecionamos a informação que achamos pertinente e fazemos uma pequena montagem de vídeo que mostramos às jogadoras. No treino da manhã do jogo, abordamos uma ou outra questão estratégica que queremos que aconteça no jogo e estamos prontas para jogar. Da nossa parte, equipa técnica, estando a jogar em Portugal e tendo facilidade de nos movimentarmos pelos dois pavilhões, é claro que preferimos ver jogos, sentir o ambiente, falar com colegas treinadores e amigos e, de certa forma, tranquilizarmo-nos para "o nosso jogo".
No torneio, foi ficando claro que a Sérvia e Portugal estariam um passo à frente das suas concorrentes, devido a um plantel mais forte, mas que teriam que enfrentar equipas com organizações coletivas muito complicadas, como Israel, Dinamarca e Finlândia. A equipa portuguesa alterou a sua filosofia de jogo consoante o adversário, ou tentou, sobretudo, impor o seu estilo sobre os adversários?
Na abordagem que fizemos aos jogos focamo-nos muito nos nossos conteúdos e processos táticos e na forma de os rentabilizar. Acreditámos muito no trabalho e na consistência, aliás, dizemos muitas vezes entre nós que "nós somos o que fazemos diariamente"...dentro e fora do campo.
Beatriz Jordão, a mais jovem da equipa |
Nós escolhemos as 12 jogadoras que disputam os Europeus no pressuposto lógico de formarmos a melhor equipa possível. Se nas 12 escolhidas puder haver atletas mais novas, à partida, tanto melhor poderá ser no ano seguinte, pois poderão transmitir vivências, sensações e hábitos/regras. É sempre uma forma diferente de passar a mensagem sem serem os treinadores...é alguém como elas que conta como foi e passa a ter uma ideia do quanto é preciso trabalhar para ter sucesso.
Em torneios de Sub-16 temos a vantagem de encontrar, ano após ano, aquelas que serão as principais jogadoras da modalidade para a próxima década. Como decorre a prospeção de talentos em Portugal? O que está a ser feito - e o que poderia ser alterado, no futuro – quer pela Federação, quer pelos clubes, para manter o nível de crescimento a que temos assistido?
A Federação tem posto em prática um projeto de Sessões Regulares de Trabalho Técnico, coordenado, no feminino, pelo Ricardo Vasconcelos. Nesses treinos são observadas as jogadoras que as Associações/Clubes acham ter mais interesse e potencial. Vamos também ver jogos, fases finais e contactando frequentemente com os colegas treinadores que nos vão dando as informações que consideram pertinentes. Depois disso, filtramos os dados e elaboramos uma lista "aberta" de jogadoras de interesse nacional.
Temos feito também um estágio por ano de sub-15, onde observamos e avaliamos a prestação das atletas. Em termos futuros, tenho esperança que a suspensão do CNT de sub-15 e sub-16 esteja para acabar, pois a sua atividade foi essencial para o crescimento e desenvolvimento a que temos assistido no basquetebol feminino.
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