César Rosh nasceu em San Felipe,
na região chilena de Valparaíso, descendente de judeus fugidos da Europa
durante a Segunda Guerra Mundial. César foi uma criança normal, andou na
escola, correu nas ruas, fez todas as brincadeiras que um miúdo chileno faria
em San Felipe. No entanto, à medida que crescia, aumentava nele uma sensação de
deslocamento para a qual não encontrava explicação. Muito cedo começou a jogar
futebol no Unión, o clube local, onde rapidamente se tornou numa das sensações
do futebol chileno, tal o seu talento e compleição física, que faziam dele um
volante característico das equipas sul-americanas, jogando bem em frente dos
defesas centrais, lançando ataques com passes de alta precisão.
Foram essas as qualidades que o
levaram a ser convocado para a equipa chilena no Mundial de Sub-17, realizado
em 1993, no Japão. Dessa equipa faziam parte alguns jogadores que depois
tiveram grandes carreiras profissionais, como Sebastian Rozental (outro
descendente de judeus europeus) e Héctor Tapia. César Rosh destacou-se na
equipa chilena que chegou até ao terceiro lugar no campeonato. Na memória ficou
um jogo épico contra a Polónia, que viria a garantir a passagem do Chile à fase
seguinte. A perder por 1-3 e a precisar do empate, os chilenos fizeram uma
fabulosa segunda parte e asseguraram esse desejado 3-3. Naquela tarde de 26 de Agosto, em Hiroshima,
César Rosh acabou por ser eleito a figura do jogo.
Muitas vezes estes campeonatos garantem
aos jogadores um lugar numa liga profissional europeia. Com César Rosh foi
quase assim. Apesar de ter recebidos vários convites de equipas espanholas e
francesas, Rosh acabou por seguir para Israel. Alguma coisa lhe dizia que esse
contacto com as suas raízes familiares lhe seria proveitoso, talvez uma forma
de compensar a sua sensação de deslocamento. E assim, perto de completar 18
anos, César Rosh chegou a Jerusalém para vestir a camisola amarela do Beitar
FC. César aprendeu rapidamente a falar fluentemente hebraico, língua que já lhe
era conhecida pelo facto dos seus avós a falarem em casa. Dado ser um
descendente de Judeus, o seu objectivo era obter a nacionalidade israelita, apesar de continuar
a representar as selecções chilenas nas competições futebolísticas.
A felicidade de César foi-se,
entretanto, misturando com a nebulosidade da sua carreira futebolística. Tendo ficado durante várias épocas no Beitar
FC, César fez parte da equipa que se tornou bicampeã israelita nos anos de 1997
e 1998. Foi também durante esses cinco anos que César foi aprofundando os seus
conhecimentos sobre a realidade israelita, tendo sido chamado a cumprir o serviço militar obrigatório, por
ter finalmente obtido a nacionalidade, quando, aos 22 anos, era mais requisitado do
que nunca. Durante três anos, César
manteve-se como integrante do plantel do Beitar FC, embora as suas aparições
fossem condicionadas pelos exercícios em que estava destacado. Quando, aos 25
anos, voltou a ser um civil, César era um homem diferente.
César havia já renunciado a
representar o Chile antes de entrar no exército israelita, no entanto, voltou a
anunciar-se disponível, para surpresa de muitos dos jornalistas desportivos do
seu país, mas para gáudio dos dirigentes da equipa que, nessa altura, fazia uma
travessia no deserto, sem grandes sucessos na Copa América e sem conseguir
qualificar-se para os Mundiais de Futebol. Profissionalmente, César Rosh fez
ainda mais uma época no Beitar FC, tendo sido transferido, em 2002, para o
Zamalek, do Egipto, transferência que causou algum furor, por se tratar de um
judeu em terras árabes. Mas a verdade é que o seu passaporte chileno e o seu
estilo de jogo lutador convenceram uma massa adepta habituada a ver sul-americanos
no seu plantel. César Rosh manteve-se durante três épocas no Egipto, onde
conquistou um Campeonato Nacional e uma Liga dos Campeões Árabes.
Muito requisitado nos campeonatos
europeus, César Rosh transferiu-se então para o Ankaraspor, equipa da capital
da Turquia, que se estreou nesse ano nas competições europeias. Era mais uma
escolha estranha no seu currículo de jogador, já que a equipa da Ancara nunca
conseguiu melhor do que lugares de meio da tabela na Super Lig Turca. Mas César
Rosh por ali se manteve durante outras três épocas. O que não passou
despercebido aos seus colegas foi o facto de César Rosh ser, talvez, o
sul-americano mais reservado da história do futebol. Pouco participava das
saídas dos seus colegas, nunca nenhum foi convidado para ir a sua casa e os
seus passatempos incluíam coisas tão estranhas e invulgares como coleccionismo
de revistas militares turcas e observação de aviões.
No Verão de 2008, César Rosh
voltou a Israel onde, depois de ter assinado contrato com o Beitar FC, poucos
jogos fez. Durante os primeiros meses, foi notória a sua aproximação a alguns
elementos da claque do clube, La Família Ultras, muito ligada à
extrema-direita israelita. A verdade é que César nunca perdeu a ligação com o
exército israelita enquanto esteve a jogar no estrangeiro ou nas suas viagens
para representar a selecção chilena. Muitos desconfiavam da sua ligação aos
serviços secretos, outros diziam tratar-se de uma ligação a grupos paramilitares
saídos do exército, outros ainda defendiam que César Rosh, sendo um grande
futebolista, sofria de alguns distúrbios de personalidade, sempre a imaginar
teorias da conspiração em tudo o que se passava à sua volta.
A verdade é que, apesar de ter
contrato, César Rosh deixou de comparecer aos treinos do Beitar FC, não mais
respondeu a nenhuma convocatória da selecção chilena, nem se dispõe de qualquer
registo futebolístico com o seu nome em nenhuma parte do mundo. Em suma, desapareceu
sem deixar rasto. Coisa que só alguns espiões dos serviços secretos e uns
poucos loucos conseguem na vida.
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