segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O dia em que a Zâmbia vingou o passado

Numa final a todos os títulos memorável, a Zâmbia conquistou a sua primeira Taça das Nações Africanas. Para a história, ficará a última grande penalidade, marcada por Sunzu, a fechar os 8-7 que bateram a Costa do Marfim. Para a memória do futebol, uma série de momentos únicos.

Rodeado de uma atmosfera emocional, este jogo já prometia muito antes de começar, fosse pela vontade da Costa do Marfim vencer um troféu com a sua melhor geração de sempre, fosse pelo percurso da Zâmbia, a voltar a Libreville 19 anos depois de uma tragédia ter morto a quase totalidade da sua seleção.


O primeiro grande momento do jogo foi de tristeza. Joseph Musonda, lateral esquerdo que vinha fazendo uma CAN de grande qualidade, lesionou-se e teve que abandonar o terreno de jogo, em lágrimas, logo aos 10 minutos de jogo. Podia parecer uma nuvem negra que assolava a equipa zambiana, mas dos pés de Chris Katongo, Mayuka e Kalaba saía um perfume inconfundível de quem se sente inspirado a conquistar algo de maior.

A primeira parte pendeu, assim, para o lado zambiano, mesmo que os marfinenses não deixassem de mostrar quão forte era o seu conjunto, fosse pela excelente exibição de Yaya Touré na zona intermediária, fosse pela presença ameaçadora de Gervinho e Drogba na linha da frente. O empate era um resultado justo, ao intervalo, mas o bom jogo que decorria no relvado merecia golos.

A história da segunda parte foi bastante semelhante, mas com a Costa do Marfim a dominar. A equipa da Zâmbia ia recuando e parecia menos capaz de criar tanto perigo na frente, enquanto os elefantes pareciam decididos a ganhar e assumiam as responsabilidades do jogo. Aos 70 minutos, surgiu a grande oportunidade para a Costa do Marfim se colocar na frente. Grande penalidade assinalada por falta sobre Gervinho, mas Didier Drogba atirou por cima. Um balão de ar oferecido à Zâmbia que passou a acreditar mais nas suas possibilidades.

Um grande jogo merecia, claro, mais de 90 minutos. E durante o prolongamento, nenhuma das equipas parecia querer entregar-se à sorte das grandes penalidades, sendo que ambas já tinham refrescado a sua frente de ataque, Hervé Renard fazendo entrar Félix Katongo e Francis Zahoui chamando Bony. As duas equipas criaram oportunidades mas a final estava destinada a ser decidida da forma mais dramática possível.

Ninguém parecia querer falhar até que, à oitava penalidade, e depois de alguma hesitação entre os marfinenses, Kolo Touré avançou para a bola e rematou, fraco, a permitir a defesa de Mweene. Kalaba teve oportunidade de escrever o seu nome a letras de ouro na história zambiana, mas também desperdiçou a sua oportunidade. Gervinho, chamado a marcar a nona penalidade da Costa do Marfim, atirou por cima. Coube então a Sunzu, jovem jogador do TP Mazembe, a honra de ser o marcador do golo decisivo.

Inesquecível o espírito de um grupo que encarou as grandes penalidades de braços dados e cantando. Inesquecível a festa que se seguiu. Inesquecível a forma como o treinador Hervé Renard caminhou com Musonda, que saíra lesionado, ao colo, permitindo que também ele se juntasse à festa. Inesquecível ver Bwayla, sobrevivente da geração de 93 e atual presidente da federação, saltar e abraçar-se aos jogadores como se fosse um deles. O fascínio do futebol faz-se com momentos destes.

A Zâmbia conquistou a primeira CAN da sua história. Viva a Zâmbia!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Zâmbia e Costa do Marfim: na final, para ganhar

O encontro entre os Elefantes marfinenses e os Chipololo zambianos não seria a final mais esperada desta Taça das Nações Africanas. No entanto, ambas chegam ao último dia como hipóteses de conquistar o título com toda a justiça. Quem sairá com a Taça?


Há um claro favorito para o jogo de domingo. Costa do Marfim. Todas as previsões esperavam ver a seleção de Drogba na final e muitos deles sempre acreditaram que seriam os marfinenses a conquistar a CAN 2012. Cinco jogos depois, com nove golos marcados e nenhum golo sofrido, a equipa orientada por François Zahoui chega ao jogo decisivo à custa das suas maiores estrelas e de um realismo tático admirável.

O técnico marfinense cedo avisou para os perigos de uma competição onde os excessos de confiança, tradicionalmente, são punidos com uma eliminação precoce. E sem dúvida que uma equipa que tem a dupla de irmãos Touré a coordenar a ação defensiva, tem garantias de poder chegar longe. Brilhante, é chegar à final sem sofrer golos.

Para os marcar, tem faltado à Costa do Marfim a mesma harmonia ofensiva. No entanto, abundam as estrelas no ataque dos Elefantes e as vitórias foram sendo alcançadas naturalmente, seja com o contributo de Drogba ou Gervinho. O avançado do Chelsea será mesmo o marfinense com mais urgência na conquista deste troféu. À beira de completar 34 anos, será uma oportunidade de ouro para fechar a sua carreira na seleção. Caso contrário, será quase certo vê-lo de novo em 2013 na África do Sul.

Quem enfrentou esta CAN como um momento histórico foi a Zâmbia. O colorido do seu jogo e a mestria de Hervé Renard eram aguardadas, embora poucos arriscassem que Senegal e Gana ficassem pelo caminho depois de jogar com os Chipololo. Mas o que tem estado mesmo na cabeça de todos os zambianos é o ano de 1993. A morte de quase toda a equipa zambiana ocorreu em território gabonês, bem perto do estádio onde se irá realizar a final. Atingir esta etapa era uma ambição coletiva que foi atingida com muita maturidade.

Kalusha Bwayla, único sobrevivente dessa geração de 93 e atual presidente da federação, é uma presença constante junto da equipa. Hervé Renard soube ir adaptando a forma de montar a sua equipa consoante o adversário, criando surpresa e dificultando, em muito, a tarefa de quem os encontrou pela frente. E dentro de campo há muito talento, curiosamente, nenhum em grandes ligas europeias.

Katonga, Kalaba e Mayuka são jogadores de grande categoria técnica e quem tem aparecido nos momentos decisivos. Mas muita atenção à dupla de jovens jogadores do TP Mazembe, Hamonde e Sunzu. Caberá a estes dois jogadores a espinhosa missão de evitar que a Zâmbia sofra golos frente ao ataque mais poderoso da prova. Caso o consigam, a festa será certamente zambiana. De uma forma ou de outra, ambos estarão perto de conseguir lugar em equipas europeias, no próximo verão.

Um jogo grande, entre duas equipas bem construídas e atraentes. A promessa, segura, de muita emoção e imprevisibilidade no resultado.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Gana e Costa do Marfim: confirmar as evidências?

Os dois grandes favoritos à vitória na Taça das Nações Africanas enfrentam, na tarde de hoje, o último obstáculo rumo à final. Para Zâmbia e Mali, duas equipas muito consistentes, joga-se o manter do sonho de conseguir conquistar a Taça pela primeira vez.


Goran Stevanovic, técnico que passou por Portugal enquanto jogador, foi muito claro em relação ao futuro da sua equipa neste torneio: “ver o Gana na final é o mínimo que se espera desta equipa”. A equipa ganesa não conseguiu ainda demonstrar o brilho de épocas anteriores nesta CAN. Passou, sem dificuldades, pelo grupo D, dando a ideia de que conseguia controlar os seus adversários sem se esforçar. Nos quartos de final, a Tunísia, com o seu jogo calculista, conseguiu levar a decisão para o prolongamento, mas André Ayew soube como aproveitar o deslize infantil do guarda-redes tunisino. Agora, frente a Zâmbia, que tem sido uma das equipas com um futebol mais apaixonante desta competição, embora não descure a segurança defensiva, será um adversário bem mais complicado de ultrapassar, pela multiplicidade de perigos que pode causar.

Hervé Renard é um homem feliz por estar de regresso ao lugar onde já fora feliz em 2010. Depois de levar a equipa zambiana aos quartos de final pela primeira em 14 anos, Renard imita agora as glórias da geração de 90, aparecendo nas meias-finais como um concorrente sério ao jogo decisivo. Katongo e Mayuka são setas apontadas à baliza ganesa, mas as grandes revelações zambianas estão no reduto mais recuado, onde os jovens Himonde, Lungu e Sunzu garantem a estabilidade do conjunto. Espera-se assim uma partida bem disputada, sobretudo na intermediária, com a vitória a pender para os atacantes que aproveitarem melhor as oportunidades criadas. E Asamoah Gyan ainda só marcou um golo neste torneio...

Na outra partida das meias-finais, a Costa do Marfim enfrenta o vizinho Mali e terá o primeiro grande teste ao seu favoritismo nesta competição. A entrada na CAN não foi brilhante, mas garantiu vitórias e uma passagem pela fase de grupos sem sofrer golos, algo que conseguiu confirmar frente à Guiné Equatorial nos quartos de final. As principais estrelas têm marcado presença e mostrado eficiência, com Drogba a marcar golos que valem vitórias. Ainda assim, François Zahoui chega a este jogo com uma postura de desconfiança em relação ao adversário maliano.

Alain Giresse tem uma longa experiência no futebol africano e a forma do Mali jogar demonstra um saber adquirido à frente de clubes e seleções do continente. Seydou Keita é o seu braço dentro de campo. O experiente médio do Barcelona tem liderado a equipa, não só em termos de jogo, mas como alma de um país em guerra. Ao referir o povo maliano no momento da vitória frente ao Gabão, Keita mostrou bem qual o estado de espírito que reina dentro do grupo.

Maiga é um trabalhador incansável na frente de ataque, mas ainda não marcou. Ainda assim, o Mali mostrou ser uma equipa muito forte a aproveitar as fragilidades adversárias, para além de ter conseguido recuperar de uma desvantagem frente ao país organizador. Frente ao Gabão, Cheick Diabaté entrou muito bem e poderá mesmo ganhar um lugar entre os titulares. Cédric Kanté e o guarda-redes Diakité têm dado muita segurança a uma equipa que pode mesmo mudar o rumo das previsões para este torneio.

Dois jogos de luta tática e inspiração, ao ritmo das estrelas africanas.  

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Mali e Gana são os outros dois semi-finalistas

Depois das vitórias “fáceis” do dia de ontem, os jogos relativos aos quartos-de-final disputados nesta tarde de domingo foram bem mais demorados.

O Mali conseguiu o bilhete para a próxima fase ao bater o Gabão por 5-4 nas grandes penalidades, isto depois de ter salvo o empate bem perto do final dos 90 minutos.  A equipa gabonesa tinha o apoio do seu público, que enchia o estádio em Libreville, e entrou mais contundente no jogo, tendo encontrado pela frente um conjunto maliano que tinha a lição bem estudada e foi evitando o golo dos homens da casa.


O esperado tento acabou por surgir já depois do intervalo, com Mouloungui a colocar o estádio em êxtase. Gernot Rohr, treinador do Gabão, sentiu que tinha a passagem na mão e tomou precauções, refrescando a frente de ataque com a entrada de Marcolino para o lugar do experiente Cousin.  Apesar de ser uma decisão lógica, a saída do jogador mais respeitado do Gabão acabou por marcar a partida, já que os malianos se foram soltando e, já com Yatabaré e Cheick Diabité em campo, conseguiu o golo do empate aos 84 minutos, com este último a fazer um movimento de verdadeiro ponta-de-lança para levar o jogo para prolongamento.

Os 30 minutos extra não tiveram grande história, com ambas as equipas a tentarem assegurar que não sofriam golos. O drama chegou no momento das grandes penalidades. Com o Mali a marcar em todos os cinco remates a que teve direito, coube a Pierre Aubameyang a desilusão da tarde, já que o jovem prodígio gabonês permitiu a defesa de Diakité, deixando a sua equipa pelo caminho.  A jovem estrela saiu do terreno de jogo cabisbaixo e a chorar, juntando-se à galeria de craques que falharam penaltis em partidas decisivas.

Quem também garantiu lugar entre as quatro melhores equipas do continente foi o Gana, depois de vencer a Tunísia por 2-1, após prolongamento. John Mensah deu a liderança aos ganeses logo aos 10 minutos, desviando de cabeça na sequência de um canto.

Com a equipa do Norte de África a ser conhecida pela sua atitude defensiva (filosofia calculista também partilhada pelos ganeses), esperava-se que um golo madrugador pudesse dar ânimo a um jogo. Falsas esperanças. A partida foi muito bem jogada, tendo em campo duas equipas muito evoluídas tecnicamente, mas sempre a um ritmo baixo.  Os tunisinos lançavam a velocidade de Msakni, Dhaouadi e Khelifa com passes longos, e foi este último quem empatou a partida, na sequência de uma jogada envolvente, aparecendo a finalizar de cabeça ao segundo poste.

A segunda parte foi momento de estudo para ambos os conjuntos, a baixar ainda mais a caixa de velocidades e a esperar pelo erro do adversário ou pelo prolongamento. Como os erros foram poucos e nunca aproveitados, a partida seguiu para prolongamento, com o guarda-redes tunisino (que até se estava a cotar como um dos melhores em campo) a oferecer a passagem aos ganeses. Numa bola bombeada para a área, Mathlouthi deixou escapar a bola entre as mãos e permitiu que André Ayew marcasse um dos golos mais fáceis da sua carreira.

A vitória da equipa de Goran Stevanovic acaba por ser justa, sobretudo pela maior solidez do seu bloco, que não permitiu veleidades ao ataque da Águias de Cartago. Na próxima quarta-feira, a Zâmbia enfrentará o conjunto ganês, enquanto o Mali terá pela frente a Costa do Marfim, duas partidas de grande equilíbrio que decidirão os finalistas desta CAN 2012.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Zâmbia e Costa do Marfim nas meias-finais

E ao primeiro dia dos quartos-de-final, aqueles que mais sonharam na Taça das Nações Africanas tiveram que enfrentar a realidade. Com o resultado de 3-0 a repetir-se nas duas partidas, Sudão e Guiné Equatorial acabaram por se despedir da competição.


A equipa da Guiné Equatorial tentou vender o mais caro que pôde esta partida, mas os Elefantes não permitiram veleidades. Se Drogba ainda deu oportunidade para que Danilo brilhasse ao defender uma grande penalidade, pouco depois rematou sem hipóteses para o guardião de origem brasileira.

Na segunda parte, Drogba bisou, desta vez com uma cabeçada implacável, deixando que Yaya Touré marcasse ainda um dos mais espectaculares golos deste torneio, num livre marcado de forma perfeita, bem longe da área. A exibição da Costa do Marfim foi convincente e esteve ao nível do que se espera para um forte candidato a vencer a CAN.

Para a equipa da Guiné Equatorial, fica o dever cumprido com brilhantismo, pois se ninguém esperava nada desta equipa, a verdade é que os guineenses mostraram atributos para merecer um lugar entre as oito selecções mais fortes da competição. Javier Balboa, Juvenal, Danilo e companhia aproveitaram da melhor forma uma oportunidade que pode ser única, dado que o país nunca conseguiu qualificar-se para uma prova desta qualidade.

Na outra partida disputada hoje, a Zâmbia voltou a afirmar-se como um candidato que vai correndo por fora e já está nas meias-finais. Os golos dos zambianos foram marcados por Sunzu, Katongo e Chamanga, numa partida onde o Sudão não demonstrou capacidade para lutar pelo resultado.

Os zambianos voltam a uma fase da competição onde não chegavam desde 1994, quando perderam na final para a Nigéria, em Tunes. Já para os sudaneses, aproveitaram bem as fragilidades dos seus opositores no grupo para voltarem a provar uma passagem para lá da primeira fase, algo que não era atingido desde 1970, quando organizaram e venceram a CAN.

As duas equipas esperam agora pelos resultados de amanhã para se ficarem a conhecer os jogos das meias-finais, que se disputarão na próxima quarta-feira.

Física v Póvoa



Proliga 2011/12
Física v Póvoa
Tranmissão Física TV
Comentários: Luís Cristóvão

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Agora é mata-mata!

A Taça das Nações Africanas chega ao momento das decisões, com as oito melhores seleções da competição a disputarem os quartos de final. A única certeza é um grande equilíbrio nas quatro partidas que se disputarão este fim de semana.

Textos de antevisão para as partidas Zâmbia – Sudão, Costa do Marfim – Guiné Equatorial, Gabão – Mali e Gana – Tunísia.


A segunda fase da CAN começa com um jogo inesperado. Se a Zâmbia era uma favorita a criar surpresa no grupo A (mesmo que poucos se atrevessem a prever um Senegal tão alheado do jogo), o Sudão estava entre as equipas menos cotadas do torneio. No entanto, a equipa zambiana desde cedo começou a mostrar as suas qualidades, afirmando-se como uma equipa sólida na defesa e atrevida no ataque, capaz de resolver partidas e gerir vantagens sem tremideiras. Hervé Renard afirmou-se como um treinador de sucesso no futebol africano (depois da passagem de má memória por Angola) e conta com Mayuka, Katongo e Kalaba para garantir um lugar nas meias-finais da prova. Os desconhecidos sudaneses deixaram de fora duas equipas que prometiam uma boa presença, Angola e Burkina Faso, chegando a esta fase com a sensação de dever cumprido. Será muito importante que os zambianos levem a sua concentração em alta, pois os sudaneses já demonstraram ser uma equipa que aproveita qualquer falha para se colocar na frente. Ainda assim, total favoritismo para a Zâmbia.

O final da tarde de sábado será o momento de Costa do Marfim e Guiné Equatorial se defrontarem. Um duelo muito interessante, entre a equipa mais e a menos cotada desta competição. Os guineenses têm a vantagem de jogar em casa, embora atingir os quartos de final seja já algo de muito inesperado e surpreendente para uma equipa de quem nada se esperava e que, inclusive, só há cerca de um mês assinou contrato com o seu treinador. Mas, na verdade, quando se fala de uma seleção com jogadores do quarto nível do futebol espanhol, ignora-se que boa parte deles passou por equipas profissionais nos escalões de formação e beneficiaram de condições de treino que nem sempre se encontram em África. Logo, há que relativizar a comparação entre níveis de jogo de uns e outros. Os elefantes ainda não mostraram tudo aquilo que podem dar, e este jogo é o momento perfeito para arrancarem para uma presença na final. Drogba e companhia têm essa exigência sobre si e nada que não seja uma vitória lhes será perdoado, tanto que a Costa do Marfim é uma equipa que tem as suas maiores estrelas numa idade avançada.

Para domingo estão marcados dois jogos de difícil previsão quanto a vencedores. O outro país organizador, o Gabão, enfrenta o Mali e iremos assistir a uma partida onde o futebol inspirado e ofensivo dos gaboneses terá que ultrapassar o jogo de água fria dos malianos. A juventude de Pierre Aubameyang e a experiência de Daniel Cousin prometem criar muitas dificuldades a um adversário que também terá que lidar com um estádio cheio contra si. Por seu lado, Alain Giresse conta com Cédric Kanté para liderar a defesa do seu último reduto, tendo em Seydou Keita um dos capitães mais experientes da CAN. Ainda que as equipas mais organizadas defensivamente costumem chegar mais longe neste torneio, parece que o Gabão não estará disponível para deixar passar a oportunidade de atingir as meias-finais em sua casa.

A última equipa a chegar às meias-finais sairá do encontro entre duas das equipas mais sólidas da CAN. Gana e Tunísia têm ambas aspirações a vencer o torneio. A equipa ganesa tem uma ligeira superioridade, mas ainda não mostrou em campo o favoritismo que lhe tem vindo a ser atribuído. Todas as suas estrelas têm estado mais preocupadas em ajudar a equipa a chegar longe sem atribulações, daí que não se possa apontar particular destaque para nenhum dos jogadores. Goran Stevanovic sabe também que os tunisinos são das equipas mais complicadas de enfrentar em África, uma espécie de lado obscuro da força. Trabelsi montou o seu conjunto para, em primeiro lugar, não sofrer golos, ainda que oferecendo a bola ao seu adversário. A equipa sente-se confortável a defender em bloco baixo e isso dá-lhe até algum ascendente para, nas transições, recorrer a Khalifa e Dhadouadi, nas alas, para colocarem em alerta máximo o seu adversário. Espera-se um grande duelo tático entre conjuntos muito fortes, uma excelente oportunidade para que Asamoah Gyan reapareça como figura de proa da equipa ganesa, marcando para resolver a partida.

Di Matteo: “Villas Boas é um perfeccionista”

Roberto Di Matteo, adjunto de André Villas Boas no Chelsea, deu uma entrevista em exclusivo para o SAPO Desporto, onde o antigo internacional italiano fala da sua carreira e do atual momento da equipa onde trabalha com vários portugueses. O assunto do dia é, sem dúvida, o encontro entre Chelsea e Manchester United no próximo domingo.
Filho de emigrantes italianos radicados na Suíça, Roberto Di Matteo iniciou a sua carreira nesse país, mas sempre com o sonho de chegar à seleção italiana. O primeiro passo foi dado em 1993, quando deixou o Aarau para assinar pela Lazio. Três anos bastaram para passar para o Chelsea, onde foi uma figura de proa da era anterior à chegada de Abramovich.
Como treinador, começou no modesto MK Dons e conseguiu levar o West Bromwich Albion à Premier League. No entanto, esta temporada decidiu dar um novo rumo à sua carreira para assumir o desafio de se juntar à equipa técnica de André Villas Boas no Chelsea.



SAPO Desporto: Nasceu na Suíça e por lá jogou até aos 24 anos. Porque é que não optou por representar a seleção suíça?



Di Matteo: Sim, de facto tive a oportunidade de optar pela nacionalidade suíça, mas não quis fazê-lo apenas por razões futebolísticas, já que sempre me senti italiano. Logo, nunca me tornei elegível para representar a seleção suíça.



SD: Quando assinou pela Lazio, qual foi a sensação de se juntar a um grupo de jogadores de nomeada?



DM: Para mim foi como um sonho tornado realidade, não só por ter a oportunidade de finalmente jogar na Série A italiana, mas de o fazer ao lado de jogadores como Gascoine, Signori, Boksic e Casiraghi.



SD: Apesar de ser um dos plantéis mais fortes de sempre da Lazio, enquanto lá esteve, nunca ganharam nem campeonatos nem taças. Quais as razões desse insucesso?



DM: Foi o início de uma nova era no clube, com o presidente Cragnotti. Tínhamos um plantel muito talentoso, mas também havia que percorrer um caminho para estar ao nível dos grandes, como a Juventus, o AC Milan ou o Inter, que tinham já a experiência e o hábito adquirido de vencer os grandes troféus. Na verdade, o sucesso é algo que não se pode comprar. Há que construí-lo.



SD: Jogou com alguns dos melhores jogadores do mundo. Quem elegeria como o melhor?



DM: Teria que ser o Paolo Maldini. Foi um jogador completo. Tinha técnica, velocidade, força, conhecimento tático e a ambição de ter uma carreira de muito sucesso.



SD: Que equipa é melhor. O Chelsea dos anos 90, onde jogou, ou o deste ano, onde está na equipa técnica?



DM: Acho que são duas equipas muito diferentes. Acho que a equipa atual tem mais qualidade e profundidade também. Em comum têm o fato de ambas terem tido sucesso no seu tempo.



SD: Depois de ter tido uma experiência como treinador na Liga Inglesa, com a equipa do West Bromwich Albion, como está a viver a experiência de treinador adjunto?



DM: Tive a necessidade de me adaptar a um novo papel, mas posso dizer que foi bastante fácil, graças ao André Villas Boas e ao José Rocha. Para mim está a ser uma experiência muito valiosa, trabalhar no Chelsea com um treinador da Elite Europeia, como é o André.



SD: No que é que André Villas Boas é diferente de outros treinadores com quem trabalhou no passado?



DM: Está a ser uma agradável e fantástica experiência trabalhar com o André. Ele é um perfecionista. Preciso, reflexivo, ambicioso e muito trabalhador.



SD: E os jogadores portugueses, o que nos tem a dizer sobre eles?



DM: Quer o Hilário, o Paulo Ferreira, o Bosingwa ou o Raul Meireles são todos grandes profissionais.  Tenho uma excelente relação com qualquer deles.



SD: No próximo domingo, o Chelsea recebe o Manchester United. Será que esta é a oportunidade para a equipa dar a volta e ter uma segunda volta de sucesso?



DM: Vai ser um grande jogo! Na primeira volta, estivemos muitíssimo bem, mas acabamos por perder. Agora, no domingo, temos uma nova oportunidade para mostrar qualidade e, sobretudo, os progressos que conseguimos no passado recente. É fundamental ter um resultado positivo neste jogo, para que no final da época, possamos terminar com a melhor classificação possível.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

CAN 2012: o grupo D foi assim

Gana e Mali seguem em frente num grupo onde ganhou quem foi mais eficiente. A Guiné Conacri poderá sair de competição com uma certa sensação de injustiça, mas a verdade é que não conseguiu superiorizar-se a nenhum dos seus adversários directos.

Isso foi claro logo na primeira jornada, quando um Mali mais maduro e mais seguro dos seus objetivos bateu a equipa guineense. O triunfo da equipa de Alain Giresse não teve grande espectacularidade, mas deu um sinal forte do que se passaria neste grupo.

Por seu lado, o Gana também nunca se esforçou mais que o necessário para assegurar a vitória no grupo. 1-0 no primeiro jogo frente ao Botsuana, 2-0 frente ao Mali e um empate a fechar a primeira fase que o fez cumprir os objectivos. A equipa ganesa tenta, mais uma vez, recorrer à racionalidade para evoluir numa competição deste nível. Mais uma vez, precisará também que a sorte esteja do seu lado para poder vencer. Mas o quadro até à final é bem complicado.

A equipa maliana até parece mais animada com as perspectivas de avançar na competição. Mesmo tendo que enfrentar o Gabão, que joga em casa, conseguiu evitar os gigantes da CAN, que estão todos no caminho do Gana. Isto dito, ser-se primeiro é, em todos os casos, melhor do que ficar em segundo.

A equipa da Guiné Conacri foi quem mais golos marcou nesta primeira fase da CAN. Mesmo assim acabou eliminada. Na verdade, a maioria dos golos foram conseguidos numa tarde de desacerto das Zebras, que sofreram a maior goleada do torneio, a jogar com 10 elementos. Michel Dussuyer comandou um grupo muito jovem e com claras capacidades para conseguir melhor. No entanto, ao perder frente ao Mali, acabou por ficar em grande desvantagem. Sai, ainda assim, da CAN, com um futuro promissor, a confirmar já na CAN 2013.

O Botsuana tocou o céu em 2011 e entrou em 2012 com uma descida aos infernos. Estreante a este nível, termina a CAN como a pior equipa, zero pontos e um goal average de 2-9. Depois de no ano passado ter sido a grande sensação do futebol africano, as Zebras sentiram falta de experiência para jogar num torneio destas dimensões. Muito provavelmente foram retirados preciosos ensinamentos para que na próxima edição (em 2013 vão ter a CAN à porta de casa, na África do Sul) possam, então, comprovar as boas promessas que deixaram na fase de qualificação.


A figura

Abdoulaye Diallo

Num grupo onde as equipas apuradas se valeram pela força do colectivo, um jovem jogador deixou uma forte impressão nos observadores. Diallo chegara a esta CAN como uma das promessas do futebol africano. Aos 21 anos, a jogar na segunda divisão francesa, no Bastia, Diallo não se encolheu numa competição maior e deu sinais de merecer subir na sua carreira. A Guiné Conacri até ficou pelo caminho, mas para Diallo, a CAN 2012 poderá ser o início de uma bela história.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CAN 2012: o grupo C foi assim

O Gabão, a jogar em casa, e a Tunísia foram os justos apurados de um grupo onde Marrocos desiludiu uma vez mais. Mas comecemos pelas coisas positivas.

A equipa de Gernot Rohr é a mais convincente da primeira fase da CAN. Três vitórias, frente a adversários complicados como a Tunísia e Marrocos, um futebol atraente, ofensivo, empurrado pelo apoio popular de um país que parou (mesmo, o Presidente decretou feriado os dias de jogo da seleção) para assistir às suas partidas.

Para mais, um bom guarda-redes, Ovono, uma defesa forte e uma frente de ataque onde Aubameyang se destaca como uma das grandes certezas da competição são atributos suficientes para acreditar que poderemos ver esta equipa numa fase adiantada da CAN. Acrescente-se a muita juventude do onze utilizado pelo treinador para ver no Gabão uma força do futuro no futebol africano.

A Tunísia, por seu lado, não é uma equipa atraente ao olhar, mas a sua eficácia deve ser louvada. A qualificação foi garantida logo no primeiro dia, onde frente a um criativo Marrocos, os tunisinos souberam controlar o ritmo do jogo e impôr uma derrota aos seus rivais. Msakni, Khalifa e Dhadouadi têm-se destacado na transição ofensiva, demonstrando que Trabelsi também sabe dispor as suas peças para marcar golos.

Eric Gerets conduziu a desilusão do torneio. Com muita qualidade técnica mas pouco poder de fogo, Marrocos só se pode queixar de si próprio. Perdendo frente à Tunísia naquela que foi a sua melhor exibição, a passividade da equipa frente ao Gabão, ainda que podendo queixar-se da sorte por sofrer um golo ao cair do pano, condenou a seleção do norte de África a uma saída precoce da CAN. Fica, ainda assim, a promessa do treinador belga de voltar já no próximo ano. Isto se lhe permitirem tal crédito.

Finalmente, o Níger fez a sua estreia na CAN sem conseguir nenhum ponto. A equipa havia surpreendido ao qualificar-se e percebe-se porquê. Muita força física, mas pouca qualidade técnica e organização, vale à equipa nigerina uma força da natureza como Moussa Mazzou para fazer alguma mossa nos adversários. Terá que evoluir muito para conseguir ser figura numa competição continental. E voltar a ter a sorte dos adversários serem maus na matemática.


A figura

Pierre Aubameyang

Nascido em França, Aubameyang fez notícia ao ter sido contratado pelo AC Milan quando era ainda muito jovem. No entanto, nunca conseguiu mostrar em campo as razões da sua ida para Itália, tendo sido sucessivamente emprestado a equipas francesas sem também mostrar o tal potencial. No Saint-Etiénne desde há um ano atrás, Aubameyang começou a mostrar, finalmente, poder de fogo, o que tem vindo a ser largamente comprovado na CAN. Conhecido como o Neymar africano, o jovem gabonês é uma peça essencial do sucesso da sua equipa e poderá sair daqui com o seu valor restabelecido.

Indecisão no grupo D

No único grupo onde todas as decisões ficaram guardadas para a última jornada, o Gana parte como favorito, mas Guiné Conacri e Mali estão na luta pelo apuramento. Vai ser uma tarde de emoção na Taça das Nações Africanas.

A equipa ganesa é vista como uma das principais favoritas à vitória nesta CAN, mas até aqui parece longe de convencer quem segue a competição. Ainda assim, duas vitórias frente a Mali e Botsuana deixam a equipa orientada por Goran Stevanovic muito perto de assegurar um lugar entre as oito melhores equipas.

Pela frente terá a Guiné Conacri, equipa que perdeu o seu primeiro jogo mas demonstrou um forte poderio ofensivo frente às Zebras. Terá sido um sinal de crescimento da equipa guineense ou apenas resultado da fragilidade defensiva do Botsuana? Isso mesmo estará em teste no jogo frente ao Gana. Os crédito está todo no campo adversário, uma equipa muito mais madura e com o olhar focado num título que lhe tem fugido.

Para as contas do grupo muito contará o que se vai passar no jogo entre Mali e Botsuana. O conjunto orientado por Alan Giresse precisa de uma vitória expressiva para garantir a qualificação sem ter de estar com os ouvidos na outra partida. Mas esse poderá ser um problema. A equipa revelou-se perdulária nos primeiros jogos e não será de esperar que o Botsuana repita a péssima exibição que teve contra a Guiné.

Stanley Tsoshane, treinador das Zebras, quererá mesmo sair da CAN em grande, apagando a impressão deixada nessa partida. Apesar de uma frente de ataque onde se denota criatividade, o ritmo de jogo da seleção do Botsuana está uns furos abaixo dos seus opositores, sendo que o fato de estar num grupo muito forte também não ajudou a esta primeira experiência da equipa do sul do continente entre a elite do futebol africano.

São fortes as razões para acompanhar o que se passará nos dois jogos desta tarde.