terça-feira, 30 de julho de 2013

É preciso maior exigência

Entrevista a André Martins, treinador da Seleção Nacional de Sub-20 Masculinos

|Luís F. Cristóvão

Em jeito de balanço à participação de Portugal no Campeonato Europeu de Sub-20 Masculinos – Divisão B, conversamos com André Martins sobre o percurso desta equipa e a análise às diferenças entre Portugal e os seus adversários. Da entrevista, fica clara a necessidade de uma maior exigência e experiência competitiva, de maneira a apurar as capacidades dos jogadores nacionais.

André Martins no estágio de preparação

Portugal terminou em 5º lugar na Divisão B do Europeu Sub-20, em termos absolutos o 25º a nível europeu. Que diferenças são notórias em comparação com as equipas que terminaram acima de nós na classificação?
A grande diferença que se continua a sentir são os aspetos morfológicos e físicos. Esta diferença é evidente nas diferentes posições dos atletas. Outra diferença notória para as melhores seleções é o facto de todas elas apresentarem 2 ou 3 jogadores que competem nos melhores campeonatos da Europa em seniores, demonstrando uma maturidade competitiva superior a nossa.

O que destacas da preparação para uma competição deste nível? Quantos jogos de preparação foram realizados? O que falta ainda, à estrutura das equipas da nossa federação, para estarmos, no que toca à preparação, ao nível dos nossos concorrentes?
Os jogos de preparação internacionais são determinantes para a melhoria dos resultados. Realizamos 5 jogos de preparação, o que é excelente para a nossa realidade e revela um grande esforço por parte da federação. As melhores seleções, aquelas que partem para o Europeu com a ambição de subir de divisão, realizam 7 a 9 jogos internacionais de preparação. Para estarmos, no que diz respeito a preparação, ao nível dos melhores, necessitamos acima de tudo que os nossos Sub-20 treinem e joguem com regularidade nas competições que são mais adequadas ao seu desenvolvimento (Proliga/Liga).

Ao realizar oito jogos em 11 dias, vencer num campeonato europeu é algo que tem mais implicações físicas e psicológicas do que a nível de talento? Como se gere um grupo para uma intensidade competitiva destas?
A grande vantagem competitiva do grupo deste ano é que tivemos 12 atletas com capacidade para dar contributos positivos para a equipa. Tiramos vantagens claras em relação a outras seleções que dependiam muito do rendimento de um ou dois jogadores. A gestão de uma competição com estas características é muito "dura". O grande trabalho de preparação mental tem que ser feito durante a fase preparação, procurando em treino "simular" e treinar problemas semelhantes aos que vamos encontrar na competição. Durante o Europeu, na minha opinião, a "chave" da gestão de um grupo está em pensar num jogo de cada vez e na definição de objetivos claros e realistas.

Como se processa o scouting para uma competição como este Europeu? Os adversários foram observados previamente? E durante o torneio, as equipas são observadas de maneira a alinhavar estratégias para os encontros?
Procuramos recolher o máximo de informação dos adversários, este ano conseguimos ter acesso a jogos da Finlândia, Bélgica e Holanda antes do europeu. Durante a competição o professor João Costeira fica responsável pela edição de imagens da equipa adversaria. A sessão tem entre 5 a 10 minutos, é acompanhada de um relatório de scouting com os pontos mais relevantes na estratégia do jogo, bem como a informação individual dos jogadores adversários.

Das três derrotas averbadas neste Europeu, duas foram frente a países que têm equipas regularmente presentes na Euroleague, outra frente a um país que tem estado ao nível de Portugal nas diferentes competições. Há uma explicação para termos perdido por 20 pontos frente à Suíça no primeiro encontro, quando no derradeiro jogo os vencemos por 6?
Miguel Maria joga em França
O resultado do jogo com a Suíça não mostra o equilíbrio que a partida teve. A Suíça apenas passou para a frente no último período da partida e nos últimos 2 minutos do jogo arriscamos tudo para vencer o jogo, fomos pouco inteligentes, jogamos com coração e sem "cabeça". Existe uma explicação simples para o sucedido, muitos dos nossos atletas não estão habituados a jogar encontros equilibrados " sobre pressão", onde a disciplina tática e o equilíbrio emocional são determinantes. Não é por acaso que nas segundas fases dos Europeus vencemos a maioria dos jogos equilibrados. Estamos mais preparados, já passamos por experiências competitivas semelhantes na primeira fase do campeonato. Aprendemos muito e melhoramos muito com o decorrer da prova. O jogador português e as equipas portuguesas têm capacidade para jogar com os melhores.

Dos sete jogadores que terminaram este ano o seu ciclo nos escalões de formação a nível de seleção (Emanuel Sá, Júlio Silva, Jonah Callenbach, Miguel Maria, João Ribeiro, Bruno Cabanas e Artur Castela), nenhum jogou regularmente na Liga Portuguesa ou nas equipas principais dos seus clubes no estrangeiro. De que forma podem estes atletas estar preparados para entrar nas contas da Seleção Nacional Sénior?
Uma seleção de seniores é para os melhores de muitas gerações, só um grande talento consegue "saltar" diretamente de uma seleção de jovens para uma seleção sénior. No entanto, se não jogarem durante o ano nos clubes, nas melhores competições, não é com um mês de trabalho na seleção que vão estar preparados para as exigências da competição internacional.


Sem comentários:

Enviar um comentário