Há um português a disputar os playoffs da Liga EBA, em Espanha. Chama-se Ricardo Gaocho, tem 23 anos, e passou pelas selecções jovens do nosso país.
Tendo começado a jogar no Clube Elvense de Natação, passou pelo Campomaiorense, Círculo Badajoz, Física de Torres e representa actualmente o ABP Badajoz, equipa que venceu o seu grupo na Liga EBA e entra este fim-de-semana nos playoffs de promoção à liga LEB Prata, enfrentando a equipa B do Real Madrid.
O Planeta Basket falou com este jovem jogador que, depois de um problema físico, volta a jogar a um bom nível e espera ter novas oportunidades em Portugal.
Olá Gao, que balanço fazes desta temporada no ABP Badajoz? Estás a cumprir os teus objectivos?
O meu principal objectivo este ano era saber se podia voltar a jogar basquetebol sem limitações, depois da operação a uma hérnia discal a que fui submetido. A temporada correu melhor do que eu esperava, tanto a nível individual como colectivo, pois consegui treinar toda a temporada sem limitações e, desde a primeira jornada, conseguimos manter o primeiro lugar do grupo D da liga EBA.
Foi muito difícil garantir o primeiro lugar no vosso grupo? O objectivo é a subida?
Foi difícil, pois algumas das equipas desceram da LEB Prata mantendo o plantel completo e muitos jogadores já tiveram experiencia na LEB Prata e Ouro.
Sim, o objectivo agora é chegarmos a final do playoff e subir de divisão.
O que esperas encontrar no confronto frente ao Real Madrid B?
Como todos sabemos o Real Madrid é uma instituição d basquetebol a nível europeu, conforme a presença na final four da Euroliga pode confirmar. Não vamos jogar contra a equipa principal, mas os escalões de formação trabalham todos com os mesmos moldes e muitos dos jogadores da equipa B treinam várias vezes na equipa A do Real Madrid. Vamos tentar contrariar este favoritismo sabendo o grau de dificuldade que vamos encontrar, tendo eles uma rotação de 12 jogadores todos ao mesmo nível.
Começaste a jogar numa região onde o basquetebol tem pouca implementação. O que te fez começar a praticar a modalidade?
Comecei a jogar no Clube Elvense Natação, depois no Campomaiorense, quando acabou a época em júnior passei pelo Circulo de Badajoz e outra vez depois da operação à hérnia para ver se tinha possibilidades de voltar a jogar a um nível superior. Desde sempre na minha família o desporto principal foi o basquetebol, inclusive alguns deles mentores da iniciação deste desporto em Elvas. Também devido ao facto de estarmos tão perto de Espanha, tínhamos acesso à televisão espanhola onde se podiam ver jogos da ACB e da NBA num canal público, passando então para mim o gosto pela modalidade.
Representaste a selecção nacional nas camadas jovens, como foi a experiência?
Foi, sem dúvida, uma boa experiência, principalmente quando vivi um ano no Centro de Alto Rendimento no Porto e participei com a selecção nacional no apuramento para o campeonato europeu na Hungria.
Sentiste que cresceste como jogador ao integrares a selecção?
Sim, senti que cresci como jogador, só tive pena de não me darem continuidade à formação que tive durante esses anos, pois muitos da minha geração e de outras que por ali passaram, já não jogam basquetebol, sendo que poucos integraram selecções seguintes.
Ainda júnior, tiveste a tua primeira experiência em Espanha (Círculo de Badajoz). O que te levou a ir para o país vizinho?
A localização geográfica, o nível em que o basquetebol espanhol se encontra em relação ao português e, acima de tudo, o facto de não ter mais nenhum clube a menos de 100 km.
Depois, voltaste a Portugal para jogar na Física, e apesar de excelentes exibições na equipa B, nunca conseguiste afirmar-te na equipa principal. O que pensas terá contribuído para isso?
No inicio de uma época, quando são alimentadas expectativas e os treinadores dizem que vão dar oportunidade aos jogadores mais novos para começarem a ganhar experiência a outro nível, isso em Portugal raramente acontece, nem quando os resultados são favoráveis em dezenas de pontos os jovens tem a oportunidade de jogar uns minutos e com isto um jogador que treina uma época inteira e se esforça, como aconteceu comigo, não recebe o devido valor. Acaba por ser desmotivante, e leva à desistência de vários jogadores que sobem a sénior. Mesmo não tendo as oportunidades que eu achava que merecia, nunca desisti e sempre lutei por aquilo que realmente gosto.
Ainda assim, fizeste parte da equipa que ganhou a Proliga em 2008. Qual foi a sensação de fazer parte de uma equipa campeã, ainda para mais num ano em que a Proliga teve tanta atenção mediática?
Foi uma sensação única, a equipa sempre trabalhou unida e lutou para que esse objectivo fosse cumprido. Um dos grandes momentos foi chegada à final depois de eliminarmos o Benfica, sendo esta uma equipa que manteve o plantel que tinha na liga profissional.
Depois de saíres da Física, o que aconteceu com a tua carreira?
Quando saí da Física tinha uma hérnia discal na zona L4-L5 que tinha sido diagnosticada há vários meses. Fui a muitos médicos procurar soluções e, em consequência, fiz várias radiografias, TACs e ressonâncias, acabando tudo isto por ser descontado no valor do seguro que tinha do clube. Alguns meses depois, a lesão piorou, não me permitindo treinar ou trabalhar, pois mal conseguia andar ou sentar-me. Posto isto, a única solução foi uma operação complicada e cara que o seguro desportivo não cobriu, precisando assim de uma ajuda monetária dos meus familiares.
Sem clube e depois desta operação, demorei um ano e meio a recuperar, tendo como único apoio a família e amigos.
Estares a jogar no ABP Badajoz é um sinal de que podemos voltar a ver-te num nível mais alto em Portugal?
Chegar ao ABP Badajoz foi de grande mérito para mim, consegui voltar a fazer aquilo que gosto depois de tudo pelo que passei e trabalhei. Gostava de voltar a jogar em Portugal, se o projecto fosse tentador e com objectivos claros, pois voltar a passar pelo que passei e ver equipas com rotações de apenas 6 ou 7 jogadores não é o meu objectivo para o futuro.
Para terminarmos, como comparas os níveis de jogo, na formação, entre as competições portuguesas e espanholas?
Na formação, comparando competições, penso que Espanha está num nível superior, pois os treinadores espanhóis pensam de maneira diferente em relação à importância do trabalho com as jovens promessas e escalões de formação. Outra razão é a grande influência de jogadores espanhóis na NBA e ACB, sendo esta a segunda melhor liga do mundo. Por último, e não menos importante, a quantidade de adeptos que seguem o basquetebol em Espanha também influência.
No ABP Badajoz, que esta na liga EBA, na quarta divisão em Espanha, existe um nível de competitividade igual ou superior ao da Proliga. Treinamos todos os dias e está sempre presente um fisioterapeuta e um preparador físico e para os jogos também nos acompanha um medico. Todas as semanas é feito um “scouting” da próxima equipa com quem vamos jogar, para estarmos preparados e conhecer o nosso adversário.
Desejo-te boa sorte para os próximos jogos e para o resto da tua carreira.
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