Dele se esperava que fosse
o novo grande craque do futebol mexicano. No início dos anos setenta vivia-se
um clima de prosperidade no futebol mexicano, com os estádios cheios de gente
que procurava encontrar no campeonato local o mesmo
futebol espectacular das grandes selecções, como a do Brasil. No
entanto, faltava encontrar um jovem jogador que pegasse em todo este entusiasmo
e se transformasse em símbolo. Dele se esperaria que fosse o novo grande craque
do futebol mexicano. O seu nome era Ulisses Lima.
Ulisses Lima nasceu a 25 de
Dezembro de 1953. Desde muito cedo frequentou as escolas de formação do
Pumas-Unam, a equipa da Universidade da Cidade do México. O seu futebol
atraente, o forte carisma que detinha e o natural entusiasmo mexicano levava a
que centenas e centenas de adeptos se juntassem para ver as suas exibições nas
camadas jovens do Pumas. Parecia ser uma questão de tempo até que fosse chamado
para a equipa principal. Toda a gente esperava que isso acontecesse, toda a
gente queria o craque entre os maiores. E assim foi.
A grande estreia de Ulisses
Lima na equipa sénior do Pumas deu-se em Janeiro de 1970. Era um adolescente
iluminado, o jovem Ulisses. Parecia sempre optar pelo movimento mais
complicado, o passe mais arriscado, a corrida mais impossível. Era também um
provocador das tácticas e das linhas definidas pelo treinador. Em campo,
Ulisses mandava, decidia. Apesar desse facto se tornar um pouco irritante para
os seus colegas de equipa, a verdade é que no final de cada movimento, Ulisses
originava uma jogada perigosa ou de golo. E tudo lhe era perdoado no momento do
festejo.
Tanto furor a sua presença
criava que acabou por ser chamado para a equipa nacional no Mundial de 70,
realizado no seu país. O ainda adolescente Ulisses Lima viu os quatro jogos da
carreira do México sentado no banco, mas a simples presença naquele quadro
fizeram-lhe sentir que tinha atingido o auge. Terminado o Mundial, o seu
contrato profissional foi melhorado e Ulisses pôde mudar-se de casa
dos pais para um apartamento bem no centro da cidade. Conquistado o mundo do
futebol, a Ulisses faltava agora a conquista de vários outros mundos.
Começou a ser visto na
companhia de alguns adolescentes ligados à literatura. Ele e o seu melhor
amigo, Arturo Belano, eram denominados como os líderes de uma nova
corrente, intitulada de "realismo
visceral". Arturo Belano era o verdadeiro conhecedor da
poesia e da literatura, já Ulisses Lima era o agente provocador, capaz de
aparecer em saraus ou em apresentações de livros a insultar os maiores nomes da
literatura mexicana. A presença deste grupo de jovens, no entanto, não era tão
incómoda quanto isso. Eram os novos, tinham direito às suas aventuras, ninguém
lhes dava assim tanta importância.
Não era isso, ainda assim,
o que eles sentiam. Para Ulisses Lima, a literatura tornara-se numa missão.
Agora passava a maior parte das suas noites nos bares mais escuros da cidade,
como se procurasse um encontro com um misticismo que lhe alterasse o curso da vida.
Continuava a jogar no Pumas, e por isso era reconhecido, embora não colocasse
em campo a mesma magia de antes. Disso se ressentiu a selecção mexicana que
acabou por ficar de fora do Mundial de 74. Ulisses Lima tinha agora 21 anos e
ainda se esperava que ele fosse o grande craque do futebol mexicano. Só ele já
não acreditava em tal coisa.
Ulisses Lima e o seu
amigo Arturo Belano continuavam a sua investigação acerca do
"realismo visceral" e começaram a planear uma viagem pelo México. As
aparições de Ulisses Lima eram agora mais esparsas. Faltava muito aos treinos,
facto que lhe era perdoado pelos treinadores devido a ser um dos heróis dos
adeptos dos Pumas. Mas também isso parecia estar agora cada vez mais em causa,
a tal ponto que já havia sido afastado da selecção e a sua presença em campo
parecia não adiantar nada para o sucesso da equipa mexicana. De qualquer forma,
a data da viagem planeada pelos dois amigos aproximava-se e nada do que pudesse
acontecer no seu clube lhe alteraria os planos.
O último jogo de Ulisses
Lima pelo Pumas foi contra a equipa do Tecos-UAG. Ulisses Lima foi mais
uma vez titular, mas uma noite mal dormida e o seu total alheamento do jogo
nada de bom prometiam. Dizem até que Ulisses entrou em campo a ler um livro de
filosofia alemã e que, durante os poucos mais de vinte minutos que esteve em
campo, o transportava dentro dos calções. O treinador acabou por não aguentar
mais ter aquele peso morto em campo e substituí-o por um jovem jogador chamado
Hugo Sánchez, que poucos pareciam acreditar que se tornasse sequer num
jogador de nível médio.
A viagem de Ulisses Lima
e Arturo Belano realizou-se com destino incerto. Vários relatam
que se dirigiram para Norte, em busca de Cesárea Tinajero, a mãe do
"realismo visceral". No entanto, nenhum desses relatos pôde ser
comprovado por qualquer facto concreto. A única coisa que se sabe é que,
durante vinte anos, Ulisses Lima desapareceu do mapa. A isso não deverá ser
estranho o dado de, no Deserto de Sonora, não existirem clubes de futebol.
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