segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Algumas coisas que aprendemos na CAN 2013

|Luís F. Cristóvão


Passaram menos de 24 horas da final da CAN 2013 e é tempo de fazermos um balanço do que se passou na África do Sul.

África não é, pelos nossos dias, o lugar onde se deverá ir à procura da magia do futebol. Esta conversa voltou a estar na ordem do dia logo no início da competição, onde uma sucessão de empates e jogos sem golos levou algumas vozes, menos habituadas a acompanhar o futebol africano, a declarar pela enésima vez a morte do futebol tradicional daquele continente.

No entanto, há já muito tempo que o futebol africano não é caracterizado pela sua magia. A generalidade das equipas baseia a sua principal força no físico, sendo que pela primeira vez na história da competição nenhuma equipa do “Norte” conseguiu um lugar nos quartos-de-final, facto que vem até reforçar esta ideia. Entre os quatro semi-finalistas, todos os conjuntos tinham defesas fortes e médios de cobertura que aplicam, como primeira opção, o seu corpo como arma para jogar a bola.

Mas para se ser campeão na CAN, como em quase qualquer outro lado, é preciso ter craques. A Nigéria foi a equipa que apresentou a melhor constelação de grandes jogadores. Emenike, que merece uma oportunidade num campeonato mais acessível para quem ama o futebol, terá sido a maior estrela da equipa, sendo que só a lesão que o afastou da final poderá justificar o seu afastamento da lista de melhores jogadores da competição. Victor Moses e Obi Mikel foram os líderes que se esperavam, sendo que Oboabona, defesa-central, e Sunday Mba, médio ofensivo, merecem rapidamente um novo olhar sobre o talento que aparece na Liga Nigeriana.

Fora dos quatro primeiros classificados, Cabo Verde merece uma verdadeira menção honrosa pelo futebol praticado e pela atitude de um conjunto que fazia a sua estreia na elite africana. Lúcio Antunes é, sem dúvida, um dos melhores técnicos do continente, e na equipa dos Tubarões Azuis, Platini, Ryan Mendes, Babanco, Nando e Vozinha merecem, cada um nas suas posições, uma nota de atenção para o que poderão fazer ao nível de clubes. Curiosamente, Ryan Mendes é o único que está, neste momento, numa equipa que poderá fazer multiplicar a atenção sobre o seu talento. Vozinha, como já se sabia para quem seguia o Girabola, é mais uma boa razão para espreitar o que acontece na Liga Angolana.

De uma forma geral, o futebol africano está hoje muito mais próximo do europeu. Não daquele que se praticam nas principais ligas, mas num nível intermédio baixo, onde a presença de grandes craques ainda vai fazendo a diferença perante a força do coletivo. As estrelas (Emenike, Pitroipa, Wakaso, Keita, Adebayor, …) foram capazes de decidir as partidas mais equilibradas. O passo seguinte é conseguir que esta melhoria técnica possa encontrar par nas competições de clubes, sobretudo nas ligas nacionais, onde nem sempre que trabalha com a mesma qualidade que tem sido possível às seleções.

Finalmente, nota para os relvados e para a arbitragem. Sem dúvida, os dois pontos mais fracos desta competição. A meteorologia não foi amiga da organização, com largos períodos de chuva a tornar ainda piores relvados, já de si, muito maus. Já quanto à arbitragem, parece realmente ser difícil explicar certas exibições sem se recorrer à luz do favorecimento de algumas equipas em detrimento de outras. E essa é a pior mancha que pode cair sobre a pureza do jogo.

Artigo publicado no site zerozero

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