|Luís F. Cristóvão
É impossível escapar à força de um Barcelona – Real Madrid nos dias de hoje, para mais quando ambas as instituições se prepararam tão bem para dominar o espetro comunicacional do desporto mundial. Com estratégias bem diferentes, os dois colossos espanhóis souberam colocar-se nas bocas do mundo e transformar as suas disputas em algo que ninguém pode perder.
A estratégia catalã, que passou por exacerbar o sentimento regionalista dos seus adeptos, através de um técnico que dominava na perfeição essa linguagem e com uma equipa de jogadores formados na “casa”, tem que lidar agora com a fragilidade da falta de um líder, não tanto ao nível desportivo, onde Tito Vilanova, perto ou longe, consegue manter o desenho tático, mas ao nível mental, onde a ausência de um líder que esteja ao lado dos jogadores se faz sentir na forma como o Barcelona se parece apagar em momentos de sobressalto.
Aconteceu no jogo de Milão e voltou a acontecer no jogo de ontem. Perante um adversário que se mostrou minimamente capaz de afetar a equipa no desenho tático, não houve um espírito coletivo que conseguisse manter a equipa em jogo. Xavi e Messi, simplesmente, não conseguiram entrar no jogo, e a queda de Puyol na jogada do segundo golo do Real funciona como boa metáfora da quebra de liderança. Isto não significa que algo esteja perdido para os catalães (para além da Taça do Rei deste ano, como é óbvio). Significa apenas que é urgente encontrar quem reagrupe as forças e dê o passo seguinte. O facto de Guardiola se ir sentar num banco adversário na próxima temporada, diz o suficiente para quem acha que o “projeto Pep” seria eterno em Barcelona.
A estratégia do Real Madrid teve que apontar no sentido contrário. Contra a tradição elitista e sobranceira do seu clube, Florentino Pérez percebeu que estava um degrau atrás do Barcelona e chamou José Mourinho para liderar o ataque aos catalães. A nível desportivo houve sucesso, mas não houve domínio, que parece ser a única coisa aceitável para os adeptos do Real. Assim, a estadia de Mourinho em Madrid prolonga-se perante uma variedade de críticas e ataques de quem, historicamente, esteve do lado do clube desde sempre. Se isso não terá beneficiado a imagem do Real e de Pérez, ajudou, pelo menos, Mourinho a trabalhar subterraneamente no seu objetivo. Perdida a Liga deste ano, o Real tentará ainda chegar à vitória na Taça do Rei e na Liga dos Campeões.
Essa é a questão de futuro imediato para os dois conjuntos. Ainda com Jordi Roura como treinador interino, o Barcelona terá que recuperar de uma desvantagem de dois golos consentida ao AC Milan. Se desportivamente parece acessível o virar do resultado, o Barcelona terá que ter Xavi e Messi em superação, no sentido guerreiro do termo, para o conseguir executar. Já o Real Madrid chegará a Manchester com a obrigatoriedade de marcar um golo para virar a eliminatória a seu favor. Muito à imagem do que fez ontem em Barcelona. Alex Ferguson, no entanto, é um timoneiro à altura de Mourinho. Sabendo bem disso, ao português restará encontrar mais uma fórmula para fazer aquilo que sempre fez na sua carreira: ganhar títulos na maneira como entende a fragilidade dos outros.
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