|Francisco Pinho Sousa
Paris
SG-Barcelona
Passaram
quase 16 anos desde aquele mítico fim de tarde numa Banheira de Roterdão
apinhada de entusiastas do desporto-rei. Frente-a-frente estavam o Paris
Saint-Germain e o Barcelona. Jogava-se então a final da malograda Taça dos
Vencedores das Taças (vulgo Taça das Taças). Do lado francês, craques como Raí,
Leonardo ou Le Guen. A oposição catalã não era menos forte e continha estrelas
como Figo, Ronaldo, Guardiola, Luis Enrique ou Popescu. Esperava-se à época uma
grande final. O jogo foi bem disputado. Os parisienses entraram forte mas os
catalães responderam à altura do desafio. No 37º minuto do encontro, o Fenómeno
Ronaldo sofreu e converteu a grande penalidade decisiva, que valeu a 4ª (e
última) Taça das Taças aos blaugrana.
Pois bem,
década e meia voou e entretanto deparamo-nos como um cenário completamente
diferente: o Barça, que na altura só tinha uma Champions, já leva 4
conquistadas no total. A actual equipa é considerada por muitos como “a melhor
de todos os tempos” (falo, naturalmente, do Barça destes últimos 5 anos). No
entanto à época, como agora, também o Barça tinha o melhor do Mundo (em 1997
Ronaldo, agora Messi).
Já o Paris
Saint-Germain readquiriu um estatuto próximo dos anos 90. Porém, esta equipa
ainda procura o primeiro grande título, ao contrário da formação de 1997, que
já trazia títulos de um passado recente (nomeadamente o campeonato gaulês e a
Taça das Taças). A equipa actual até tem um conjunto de estrelas mais fashion e pomposo do que a mítica equipa
comandada pelo mago Raí mas está a dar os primeiros passos enquanto equipa de
topo.
Hoje
defrontam-se em Paris dois mundos tão antagónicos quanto semelhantes.
Antagónicos porque se, de um lado, temos uma equipa construída à base de
transferências multimilionárias, do outro temos uma equipa formada quase toda
de raíz nos campos de La Masía. As semelhanças estão no glamour que ambas emanam. E quando falo em glamour, é em termos meramente futebolísticos, das sensações que as
equipas nos provocam.
Como podemos
perspectivar então o duelo dentro das quatro linhas? À partida já se sabem
algumas premissas: Barça com bola, PSG organizado atrás, para depois tentar
explorar a velocidade dos seus elementos mais adiantados em contra-ataque.
Parece simples de prever até aqui. O Barça tem aparência de favorito mas, do
outro lado, está Ancelotti no banco. E isso traz sempre a bela da incerteza
para as contas do jogo.
Acredito que
o PSG venha a jogar com 3 médios-centro, variando entre o 4x4x2 habitual e o
4x3x3. No fundo, uma tentativa de Ancelotti tentar reforçar a pressão sobre o
trio do meio-campo culé, com a provável colocação de Chantôme (descaído na
direita mas a fechar por dentro) junto à dupla habitual, constituída por
Matuidi (cão-de-caça autêntico, ladrão de bolas com enorme disponibilidade
física) e Verratti (jovem italiano que parece jogar com as botas de Pirlo, tal
a precisão de passe, seja curto ou longo). Chantôme tem tudo para ser o joker de Ancelotti nesta partida. É
cumpridor do ponto de vista táctico, pressiona bem o portador da bola, pode vir
a ser muito útil.
Atrás, o
técnico italiano deverá confiar em Jallet na direita (lateral posicional, dá
pouca profundidade, mas defende com critério) e no habitual trio de
brasileiros: os centrais Thiago Silva e Alex e o experiente lateral-esquerdo
(ex-culé) Maxwell. Manter o rigor posicional e nas marcações é fundamental.
Acredito que Thiago Silva possa sair como herói do jogo se conseguir fazer o
que, recentemente, só Varane conseguiu (parar Messi).
Na frente, creio
que teremos a presença da dupla Ibra-Lavezzi. Ibra mais posicional, recebendo e
permitindo criação de linhas de passe a Lavezzi e, possivelmente, Pastore.
Acredito que Pastore jogue na esquerda, com Chântome a fechar entre a direita e
o centro. Lucas Moura deverá sentar-se no banco. Opção compreensível, face à
necessidade de reforçar o centro do campo.
O Barça
entrará no jogo para mandar. Busquets ditará as leis a meio-campo, exercendo
uma espécie de barreira invisível, atrás da dupla Iniesta-Xavi, que os ampara e
os liberta ao mesmo tempo. No ataque o cada vez mais “10” Messi terá ,
certamente, marcação cerrada. Prevejo duelo brutal com um colosso dos
defesas-centrais (Thiago Silva). Em apoio, muito provavelmente, Alexis e Villa.
Poderão ser chaves para resolver o jogo, graças à velocidade, capacidade no
um-para-um e finalização.
No fundo,
podemos esperar um confronto de estilos bem diferentes, mas ambos apreciáveis.
Um Barça de posse contra um PSG de linhas compactas e de transição. Busquets vs
Matuidi. Xavi vs Verratti. Iniesta vs Pastore. Ou o mais mainstream Messi vs Ibrahimovic. Duelo de estrelas cintilantes. O
poder do dinheiro afronta o poder da cantera. Quem levará de vencida?
Bayern-Juventus
Pesquisando
a história de confrontos entre estes dois colossos do futebol europeu, constato
que só tivemos 6 duelos entre estes 2 antagonistas (2004, 2005 e 2009, sempre
na fase de grupos da Champions). Parece um número incrivelmente pequeno, tendo
em conta o número de jogos europeus de ambas as formações. Se olharmos para
esse histórico, concluímos que este confronto não é, nem de perto nem de longe,
um clássico do futebol europeu. Diria antes que se trata de um confronto entre
dois emblemas históricos. E que confronto este!
Frente-a-frente
duas das melhores equipas da temporada 2012/13. Um demolidor Bayern,
praticamente campeão da Bundesliga (vem de uma vitória por 9-2 sobre o
Hamburgo…), encontra uma Juventus que, muito provavelmente, deverá seguir o
mesmo caminho triunfal na Série A. Frente-a-frente, duas gerações de
treinadores diferentes, duas concepções de futebol com várias semelhanças e
cujas equipas são a reprodução fiel do pensamento dos seus técnicos.
Para hoje,
diria que o Bayern é favorito. Sobretudo pelo factor-casa e pela capacidade
ofensiva impressionante que esta equipa vai demonstrando. O jogo contra o
Hamburgo foi uma história diferente, algo que certamente não se repetirá esta
noite. A Juventus sabe defender, tem princípios de jogo bem definidos e, além
do mais, trata-se de uma eliminatória, logo não acredito que qualquer uma
destas equipas deixe a outra KO para a 2ª mão.
Se não
tivermos uma variação relativamente ao que é habitual, teremos um confronto
entre o 4x2x3x1 de Juup Heyneckes e o 3x5x2 de Antonio Conte. Bayern deverá
mandar, como também é habitual. Juventus deverá jogar mais atrás, um pouco como
fez em jogos mais complicados esta temporada (Nápoles ou até na deslocação a
Glasgow), tentando explorar a verticalidade dos laterais e a mobilidade da
dupla Vucinic-Giovinco. O trabalho criativo de Pirlo e de transição de
Marchisio e Vidal serão fundamentais. A presença de alas fortes no Bayern
poderá inibir, porém, as subidas regulares de Lichtsteiner e Asamoah. Terão de
ter em atenção, além de Robben e Ribéry, dois autênticos comboios: Lahm e
Alaba.
O Bayern
deverá apostar numa circulação permanente, com muita mobilidade e várias
permutas posicionais, sobretudo no meio-campo e nas zonas mais adiantadas. É
uma equipa que tem excelentes intérpretes de um jogo de posse (Kroos,
Schweinsteiger ou Javi Martinez), conciliando-os ao mesmo tempo com velocistas
como os alas Robben e Ribéry e os laterais Lahm e Alaba. No centro do ataque,
deverá jogar Pizarro ou Mandzukic, ele que fez um “hat-trick” na última jornada
do campeonato.
Restam
dúvidas no meio-campo ofensivo. As últimas indicações demonstram que Muller
será o homem que jogará atrás de Pizarro, com Kroos e Schweinsteiger a proteger
as costas. Em termos defensivos, além dos já citados laterais, deverão jogar
Boateng e Dante, dupla habitual. Dois centrais que dobram muito bem os laterais
em compensação. Por vezes, falta-lhes algum rigor em certas acções mas têm
conseguido formar uma dupla sólida.
Do outro
lado está, porém, um trio de defesas em grande forma. Barzagli, Bonucci e
Chiellini têm feito exibições irrepreensíveis. São três centrais fisicamente
fortíssimos, com muita potência, fortes na marcação e implacáveis no desarme.
Os problemas maiores surgem quando a equipa está demasiado balanceada para o ataque
e os três ficam muito desapoiados, à mercê do contra-ataque vigoroso dos
adversários. Amanhã, muito provavelmente, contarão com a flexibilidade e
disponibilidade de Lichtsteiner e Asamoah (ou Peluso, que até me parece uma
solução sensata para garantir estabilidade defensiva).
E depois
temos Pirlo. O cérebro do jogo bianconero.
Cada bola endereçada a um companheiro é como se fosse um poema saído da máquina
de escrever de um Ungaretti ou de um Pasolini (que por sinal era um fanático de
futebol). Dele vai depender muita da capacidade criativa desta Juventus. Ele é
o porto de abrigo da posse juventina. Deem-lhe a bola que ele logo descortina o
que fazer. Se não for teleguiado, toca curto, para que os seus discípulos Vidal
e Marchisio levem a mensagem até perto da baliza contrária.
Temos,
portanto, uma grande noite europeia em perspectiva. Duas equipas da elite.
Depois de Barça e Real, parecem-me, honestamente, os dois maiores candidatos à
conquista do ceptro europeu. Um Bayern que mistura posse e vertigem desenfreada.
Uma Juve intensa a defender, a sair para o ataque, sempre com muito dinamismo e
verticalidade. Só podemos esperar um espectáculo de topo. Uma espécie de Cirque du Soleil do futebol.
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