Quando
Ricardo Sá Pinto foi promovido de treinador dos juniores a técnico da equipa
principal, não se esperava mais do que uma vitória na final da Taça de
Portugal, para a qual Domingos Paciência tinha conseguido a qualificação. Era
importante que a equipa não caísse mais na classificação da Liga, segurando um
4º lugar que parecia, à altura, um mal menor, e que pudesse levar a equipa a
sair da Europa com alguma dignidade. No fundo, pedia-se a Sá Pinto algo que
Domingos poderia fazer, com a diferença de que Domingos não tinha consigo as
bancadas de Alvalade.
Tinha sido,
no entanto, com Domingos que o Sporting praticara algum do seu melhor futebol
na presente temporada. As 15 vitórias em 17 jogos entre o início de setembro e
o início de dezembro prometiam uma equipa leonina a bater-se, de igual para
igual, com qualquer outra equipa portuguesa, o que parecia ser uma mudança
radical no Sporting dos tempos mais recentes. No entanto, com os primeiros
sinais de alguma fadiga física e mental a surgirem logo em dezembro, o mês de
janeiro foi brutal para as expectativas dos leões, começando a cavar um fosso
entre a equipa e os adeptos. A eliminação da Taça da Liga e uma derrota na
Madeira marcaram, definitivamente, o fim do tempo de Domingos em verde e
branco.
Sá Pinto
carrega uma imagem de marca de garra e entrega ao jogo acima de qualquer
suspeita. Esse entusiasmo competitivo tem faltado ao Sporting há já muito
tempo, somando a esse facto a
unanimidade das bancadas em ver o atual treinador como um dos seus, um verdadeiro
sportinguista. Isso foi essencial para tornar Alvalade um reduto de segurança
para a equipa do Sporting, sendo este o grande “upgrade” que o técnico trouxe à
equipa. Sá Pinto ficará também na história como tendo levado o Sporting às
meias finais da Liga Europa, embora tenha, nessas partidas, recorrido a um
estilo com uma marca inconfundível: quem viu o Sporting jogar em Manchester, em
Kharkiv ou em Bilbau não pode ter deixado de identificar o pensamento e a
organização que levaram o SC Braga de Domingos à final da mesma competição na
temporada anterior.
De resto, a
equipa continuou a ter os mesmos problemas que sempre teve. Muitas dificuldades
para jogar fora do seu terreno (Sá Pinto só venceu em Leiria e na Madeira,
frente ao Nacional, em dez partidas jogadas), muitos problemas para ultrapassar
a adversidade (recuperou de uma desvantagem apenas uma vez, frente o Athletic,
em casa), desconcentração competitiva em jogos frente a adversários menos
cotados. Com tudo isto, a marca mais funda foi a derrota, no Jamor, frente à
Académica. Acabar derrotado no único jogo em que era obrigatório ganhar transforma,
de certa forma, a entrada em cena da nova temporada: sem títulos, o Sporting
vê-se ainda obrigado a discutir o playoff de acesso à fase de grupos da Liga
Europa.
O desafio de
preparar uma equipa, de raiz, para disputar título e outras competições será
uma prova de fogo à competência de Sá Pinto. Obviamente, fora desta equação não
poderá ficar a instabilidade que se vive dentro do Sporting, a nível diretivo.
Mas desmitificar as coisas parece ser, realmente, o primeiro passo para
construir sucesso. Pois que, no futebol, tantas vezes os mitos têm mesmo pés de
barro.
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