domingo, 20 de maio de 2012

Desmitificar Sá Pinto


Quando Ricardo Sá Pinto foi promovido de treinador dos juniores a técnico da equipa principal, não se esperava mais do que uma vitória na final da Taça de Portugal, para a qual Domingos Paciência tinha conseguido a qualificação. Era importante que a equipa não caísse mais na classificação da Liga, segurando um 4º lugar que parecia, à altura, um mal menor, e que pudesse levar a equipa a sair da Europa com alguma dignidade. No fundo, pedia-se a Sá Pinto algo que Domingos poderia fazer, com a diferença de que Domingos não tinha consigo as bancadas de Alvalade.


Tinha sido, no entanto, com Domingos que o Sporting praticara algum do seu melhor futebol na presente temporada. As 15 vitórias em 17 jogos entre o início de setembro e o início de dezembro prometiam uma equipa leonina a bater-se, de igual para igual, com qualquer outra equipa portuguesa, o que parecia ser uma mudança radical no Sporting dos tempos mais recentes. No entanto, com os primeiros sinais de alguma fadiga física e mental a surgirem logo em dezembro, o mês de janeiro foi brutal para as expectativas dos leões, começando a cavar um fosso entre a equipa e os adeptos. A eliminação da Taça da Liga e uma derrota na Madeira marcaram, definitivamente, o fim do tempo de Domingos em verde e branco.

Sá Pinto carrega uma imagem de marca de garra e entrega ao jogo acima de qualquer suspeita. Esse entusiasmo competitivo tem faltado ao Sporting há já muito tempo, somando a esse facto  a unanimidade das bancadas em ver o atual treinador como um dos seus, um verdadeiro sportinguista. Isso foi essencial para tornar Alvalade um reduto de segurança para a equipa do Sporting, sendo este o grande “upgrade” que o técnico trouxe à equipa. Sá Pinto ficará também na história como tendo levado o Sporting às meias finais da Liga Europa, embora tenha, nessas partidas, recorrido a um estilo com uma marca inconfundível: quem viu o Sporting jogar em Manchester, em Kharkiv ou em Bilbau não pode ter deixado de identificar o pensamento e a organização que levaram o SC Braga de Domingos à final da mesma competição na temporada anterior.

De resto, a equipa continuou a ter os mesmos problemas que sempre teve. Muitas dificuldades para jogar fora do seu terreno (Sá Pinto só venceu em Leiria e na Madeira, frente ao Nacional, em dez partidas jogadas), muitos problemas para ultrapassar a adversidade (recuperou de uma desvantagem apenas uma vez, frente o Athletic, em casa), desconcentração competitiva em jogos frente a adversários menos cotados. Com tudo isto, a marca mais funda foi a derrota, no Jamor, frente à Académica. Acabar derrotado no único jogo em que era obrigatório ganhar transforma, de certa forma, a entrada em cena da nova temporada: sem títulos, o Sporting vê-se ainda obrigado a discutir o playoff de acesso à fase de grupos da Liga Europa.

O desafio de preparar uma equipa, de raiz, para disputar título e outras competições será uma prova de fogo à competência de Sá Pinto. Obviamente, fora desta equação não poderá ficar a instabilidade que se vive dentro do Sporting, a nível diretivo. Mas desmitificar as coisas parece ser, realmente, o primeiro passo para construir sucesso. Pois que, no futebol, tantas vezes os mitos têm mesmo pés de barro.  

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