quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Planeta Basket: O Segredo do sucesso - Entrevista a Antonio Maceiras

Em entrevista exclusiva, o dirigente espanhol António Maceiras sugere a entrada de uma equipa portuguesa na Liga ACB.
António Maceiras é um nome incontornável do basquetebol espanhol. Com passagens pela direcção desportiva de equipas como o Barcelona, Akasvayu Girona e Real Madrid, bem se pode dizer que Maceiras já esteve em todas as trincheiras da luta pelo poder na Liga ACB. Para além disso, desenvolveu actividade enquanto agente de jogadores e fui representante dos San Antonio Spurs na Europa. Hoje em dia, enquanto aguarda por um novo desafio, Maceiras escreve semanalmente sobre basquetebol, mostrando os seus vastos conhecimentos sobre a modalidade.
O Planeta Basket teve oportunidade de, numa entrevista exclusiva, ficar a conhecer melhor as diferentes etapas da carreira deste senhor do “baloncesto”.
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Como começou a tua ligação ao basquetebol?
Comecei a jogar no clube do meu bairro, mas aos 19 anos já sabia que não teria condições para ser um bom jogador. Passei a  treinador, o que me dava muito prazer, e me deu oportunidade de trabalhar em várias equipas. Como fui ganhando boa fama a recrutar jovens jogadores, o Barcelona contratou-me para trabalhar nos escalões de formação. Foi aí que começou a minha carreira no dirigismo.
Enquanto Director Desportivo do Barcelona, consolidaste a importância do basquetebol no clube e ganhaste a primeira Euroleague para o emblema catalão. Que balanço fazes desses anos?
Foi uma etapa muito importante da minha vida, catorze épocas, oito delas como responsável máximo da secção de basquetebol. Tive a sorte de trabalhar com duas pessoas extraordinárias, Salvador Alemany e Aito G. Reneses. Com eles aprendi como funciona o basquetebol profissional e como se gere uma equipa. Os resultados foram consequência de trabalhar com excelentes pessoas  num projecto sólido e estável.
Tens também o crédito de ter descoberto o Juan Carlos Navarro, um dos melhores jogadores espanhóis da actualidade. Conta-nos como se passou.
Devo confessar que foi uma questão de sorte. Ele tinha onze anos e jogava com miúdos dois anos mais velhos, em Sant Felliu. Se não me tivesse encontrado com o seu pai, que me chamou a atenção para a diferença de idades, não me teria dado conta das qualidades de Juan Carlos. Naquela idade, ser capaz de acompanhar jovens dois anos mais velhos, tornava-o muito mais prometedor do que poderia parecer.
Depois de sair do Barcelona, tornaste-te no homem forte do Akasvayu Girona. Como se transforma uma equipa de fundo da tabela num vencedor de competições europeias?
Foi muito triste o que se passou com o Girona [o clube acabou por sair da Liga ACB quando o patrocinador parou o investimento]. Josep Amat, o proprietário da Akasvayu, apostou muito no basquetebol local. Na primeira temporada, fizeram-se contratações espectaculares, mas os resultados foram decepcionantes. Então, ao reestruturarem o clube, contrataram-me para liderar o projecto. Fomos buscar jovens jogadores como Marc Gasol, San Emeterio, Keselj ou Victor Sada, que ajudaram muito a equipa e acabaram por se tornar estrelas. Demos todas as condições aos treinadores que estiveram connosco e, tanto o Pesic como o Pedro Martinez, fizeram um grande trabalho. Foram os dois melhores anos da história do clube, o período que lá passei.
Em última análise, é mesmo o dinheiro o factor mais importante na construção de um bom plantel…?
O dinheiro permite-te comprar caro, mas é mesmo preciso saber comprar bem. É necessário consolidar uma estrutura e ter uma filosofia para que o clube seja sólido. Em Girona, infelizmente, a crise do sector imobiliário não permitiu que continuássemos.
Trabalhaste como Director dos San Antonio Spurs na Europa. Quais são as principais diferenças entre a NBA e o basquetebol europeu?
Há uma grande diferença entre o nível de gestão nos Estados Unidos e na Europa. Na NBA, tudo é rigor e análise constante, dispõem de muitos mais meios e estrutura. Isso leva a que os processos de decisão sejam mais completos e fiáveis. Por lá, os clubes são empresas que perseguem objectivos económicos, enquanto por cá, o peso dos adeptos tem muito mais importância.
Na temporada passada, foste Director Desportivo do Real Madrid. Foi o teu maior desafio, criar uma equipa vencedora num só ano? Acreditas que tal é possível?
Foi frustrante ter só um ano para trabalhar no projecto. Começámos muito tarde, a meio de Junho, com um ponto de partida difícil de manobrar. Pessoalmente, acho que íamos na direcção correcta, mas faltou-nos mais tempo. Ser campeão num primeiro ano é possível, mas não acredito que seja um projecto consistente. Para isso, é preciso trabalhar em continuidade.
Quais foram os critérios para escolher o treinador Ettore Messina?
É um treinador de grande prestígio e com uma carreira impressionante na Europa. O seu palmarés e as suas capacidades fazem com que tenha tudo o que o Real precisa.
Consideras que o Real Madrid, nas mãos de Florentino Pérez, tem o síndrome dos galácticos?
No Basquetebol, os galácticos estão na NBA, fora do alcance das equipas europeias. Florentino Pérez tem noção disso.
O que falta então ao Real Madrid para que volte a ser dominador em Espanha e na Europa?
Vai ser preciso paciência e estabilidade para que a equipa continue a trabalhar. Têm um excelente plantel, com muita juventude, e um grande treinador, há que dar-lhes tempo para evoluírem.
O que pensas do basquetebol português?
Acho que tem muito potencial, alguns jogadores e treinadores espanhóis que por aí passaram dizem-me que a liga é difícil. Já há algum tempo que considero que seria bom que houvesse uma equipa de Portugal na Liga ACB. Seria bom, tanto para a liga espanhola como para o basquetebol português.
Há algum jogador português a quem reconheças qualidades para jogar na Liga ACB?
O Carlos Andrade e o Sérgio Ramos já deram provas na ACB. O Betinho, do Leche Río Breogan, é um jogador de quem gosto muito.
Para terminar, como se prepara um jovem para ser um basquetebolista de bom nível?
Creio que se deve trabalhar com os jovens para que venham a ser bons desportistas e boas pessoas. Se depois se tornar num bom jogador, essa educação ajudá-lo-á. Os jovens devem jogar por prazer e divertimento, e não com o peso de poderem vir a ser, ou não, profissionais. 

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