Em entrevista exclusiva, o dirigente espanhol António Maceiras sugere a entrada de uma equipa portuguesa na Liga ACB.
António Maceiras é um nome incontornável do basquetebol espanhol. Com passagens pela direcção desportiva de equipas como o Barcelona, Akasvayu Girona e Real Madrid, bem se pode dizer que Maceiras já esteve em todas as trincheiras da luta pelo poder na Liga ACB. Para além disso, desenvolveu actividade enquanto agente de jogadores e fui representante dos San Antonio Spurs na Europa. Hoje em dia, enquanto aguarda por um novo desafio, Maceiras escreve semanalmente sobre basquetebol, mostrando os seus vastos conhecimentos sobre a modalidade.
O Planeta Basket teve oportunidade de, numa entrevista exclusiva, ficar a conhecer melhor as diferentes etapas da carreira deste senhor do “baloncesto”.
Como começou a tua ligação ao basquetebol?
Comecei a jogar no clube do meu bairro, mas aos 19 anos já sabia que não teria condições para ser um bom jogador. Passei a treinador, o que me dava muito prazer, e me deu oportunidade de trabalhar em várias equipas. Como fui ganhando boa fama a recrutar jovens jogadores, o Barcelona contratou-me para trabalhar nos escalões de formação. Foi aí que começou a minha carreira no dirigismo.
Comecei a jogar no clube do meu bairro, mas aos 19 anos já sabia que não teria condições para ser um bom jogador. Passei a treinador, o que me dava muito prazer, e me deu oportunidade de trabalhar em várias equipas. Como fui ganhando boa fama a recrutar jovens jogadores, o Barcelona contratou-me para trabalhar nos escalões de formação. Foi aí que começou a minha carreira no dirigismo.
Enquanto Director Desportivo do Barcelona, consolidaste a importância do basquetebol no clube e ganhaste a primeira Euroleague para o emblema catalão. Que balanço fazes desses anos?
Foi uma etapa muito importante da minha vida, catorze épocas, oito delas como responsável máximo da secção de basquetebol. Tive a sorte de trabalhar com duas pessoas extraordinárias, Salvador Alemany e Aito G. Reneses. Com eles aprendi como funciona o basquetebol profissional e como se gere uma equipa. Os resultados foram consequência de trabalhar com excelentes pessoas num projecto sólido e estável.
Foi uma etapa muito importante da minha vida, catorze épocas, oito delas como responsável máximo da secção de basquetebol. Tive a sorte de trabalhar com duas pessoas extraordinárias, Salvador Alemany e Aito G. Reneses. Com eles aprendi como funciona o basquetebol profissional e como se gere uma equipa. Os resultados foram consequência de trabalhar com excelentes pessoas num projecto sólido e estável.
Tens também o crédito de ter descoberto o Juan Carlos Navarro, um dos melhores jogadores espanhóis da actualidade. Conta-nos como se passou.
Devo confessar que foi uma questão de sorte. Ele tinha onze anos e jogava com miúdos dois anos mais velhos, em Sant Felliu. Se não me tivesse encontrado com o seu pai, que me chamou a atenção para a diferença de idades, não me teria dado conta das qualidades de Juan Carlos. Naquela idade, ser capaz de acompanhar jovens dois anos mais velhos, tornava-o muito mais prometedor do que poderia parecer.
Devo confessar que foi uma questão de sorte. Ele tinha onze anos e jogava com miúdos dois anos mais velhos, em Sant Felliu. Se não me tivesse encontrado com o seu pai, que me chamou a atenção para a diferença de idades, não me teria dado conta das qualidades de Juan Carlos. Naquela idade, ser capaz de acompanhar jovens dois anos mais velhos, tornava-o muito mais prometedor do que poderia parecer.
Depois de sair do Barcelona, tornaste-te no homem forte do Akasvayu Girona. Como se transforma uma equipa de fundo da tabela num vencedor de competições europeias?
Foi muito triste o que se passou com o Girona [o clube acabou por sair da Liga ACB quando o patrocinador parou o investimento]. Josep Amat, o proprietário da Akasvayu, apostou muito no basquetebol local. Na primeira temporada, fizeram-se contratações espectaculares, mas os resultados foram decepcionantes. Então, ao reestruturarem o clube, contrataram-me para liderar o projecto. Fomos buscar jovens jogadores como Marc Gasol, San Emeterio, Keselj ou Victor Sada, que ajudaram muito a equipa e acabaram por se tornar estrelas. Demos todas as condições aos treinadores que estiveram connosco e, tanto o Pesic como o Pedro Martinez, fizeram um grande trabalho. Foram os dois melhores anos da história do clube, o período que lá passei.
Foi muito triste o que se passou com o Girona [o clube acabou por sair da Liga ACB quando o patrocinador parou o investimento]. Josep Amat, o proprietário da Akasvayu, apostou muito no basquetebol local. Na primeira temporada, fizeram-se contratações espectaculares, mas os resultados foram decepcionantes. Então, ao reestruturarem o clube, contrataram-me para liderar o projecto. Fomos buscar jovens jogadores como Marc Gasol, San Emeterio, Keselj ou Victor Sada, que ajudaram muito a equipa e acabaram por se tornar estrelas. Demos todas as condições aos treinadores que estiveram connosco e, tanto o Pesic como o Pedro Martinez, fizeram um grande trabalho. Foram os dois melhores anos da história do clube, o período que lá passei.
Em última análise, é mesmo o dinheiro o factor mais importante na construção de um bom plantel…?
O dinheiro permite-te comprar caro, mas é mesmo preciso saber comprar bem. É necessário consolidar uma estrutura e ter uma filosofia para que o clube seja sólido. Em Girona, infelizmente, a crise do sector imobiliário não permitiu que continuássemos.
O dinheiro permite-te comprar caro, mas é mesmo preciso saber comprar bem. É necessário consolidar uma estrutura e ter uma filosofia para que o clube seja sólido. Em Girona, infelizmente, a crise do sector imobiliário não permitiu que continuássemos.
Trabalhaste como Director dos San Antonio Spurs na Europa. Quais são as principais diferenças entre a NBA e o basquetebol europeu?
Há uma grande diferença entre o nível de gestão nos Estados Unidos e na Europa. Na NBA, tudo é rigor e análise constante, dispõem de muitos mais meios e estrutura. Isso leva a que os processos de decisão sejam mais completos e fiáveis. Por lá, os clubes são empresas que perseguem objectivos económicos, enquanto por cá, o peso dos adeptos tem muito mais importância.
Há uma grande diferença entre o nível de gestão nos Estados Unidos e na Europa. Na NBA, tudo é rigor e análise constante, dispõem de muitos mais meios e estrutura. Isso leva a que os processos de decisão sejam mais completos e fiáveis. Por lá, os clubes são empresas que perseguem objectivos económicos, enquanto por cá, o peso dos adeptos tem muito mais importância.
Na temporada passada, foste Director Desportivo do Real Madrid. Foi o teu maior desafio, criar uma equipa vencedora num só ano? Acreditas que tal é possível?
Foi frustrante ter só um ano para trabalhar no projecto. Começámos muito tarde, a meio de Junho, com um ponto de partida difícil de manobrar. Pessoalmente, acho que íamos na direcção correcta, mas faltou-nos mais tempo. Ser campeão num primeiro ano é possível, mas não acredito que seja um projecto consistente. Para isso, é preciso trabalhar em continuidade.
Foi frustrante ter só um ano para trabalhar no projecto. Começámos muito tarde, a meio de Junho, com um ponto de partida difícil de manobrar. Pessoalmente, acho que íamos na direcção correcta, mas faltou-nos mais tempo. Ser campeão num primeiro ano é possível, mas não acredito que seja um projecto consistente. Para isso, é preciso trabalhar em continuidade.
Quais foram os critérios para escolher o treinador Ettore Messina?
É um treinador de grande prestígio e com uma carreira impressionante na Europa. O seu palmarés e as suas capacidades fazem com que tenha tudo o que o Real precisa.
É um treinador de grande prestígio e com uma carreira impressionante na Europa. O seu palmarés e as suas capacidades fazem com que tenha tudo o que o Real precisa.
Consideras que o Real Madrid, nas mãos de Florentino Pérez, tem o síndrome dos galácticos?
No Basquetebol, os galácticos estão na NBA, fora do alcance das equipas europeias. Florentino Pérez tem noção disso.
No Basquetebol, os galácticos estão na NBA, fora do alcance das equipas europeias. Florentino Pérez tem noção disso.
O que falta então ao Real Madrid para que volte a ser dominador em Espanha e na Europa?
Vai ser preciso paciência e estabilidade para que a equipa continue a trabalhar. Têm um excelente plantel, com muita juventude, e um grande treinador, há que dar-lhes tempo para evoluírem.
Vai ser preciso paciência e estabilidade para que a equipa continue a trabalhar. Têm um excelente plantel, com muita juventude, e um grande treinador, há que dar-lhes tempo para evoluírem.
O que pensas do basquetebol português?
Acho que tem muito potencial, alguns jogadores e treinadores espanhóis que por aí passaram dizem-me que a liga é difícil. Já há algum tempo que considero que seria bom que houvesse uma equipa de Portugal na Liga ACB. Seria bom, tanto para a liga espanhola como para o basquetebol português.
Acho que tem muito potencial, alguns jogadores e treinadores espanhóis que por aí passaram dizem-me que a liga é difícil. Já há algum tempo que considero que seria bom que houvesse uma equipa de Portugal na Liga ACB. Seria bom, tanto para a liga espanhola como para o basquetebol português.
Há algum jogador português a quem reconheças qualidades para jogar na Liga ACB?
O Carlos Andrade e o Sérgio Ramos já deram provas na ACB. O Betinho, do Leche Río Breogan, é um jogador de quem gosto muito.
O Carlos Andrade e o Sérgio Ramos já deram provas na ACB. O Betinho, do Leche Río Breogan, é um jogador de quem gosto muito.
Para terminar, como se prepara um jovem para ser um basquetebolista de bom nível?
Creio que se deve trabalhar com os jovens para que venham a ser bons desportistas e boas pessoas. Se depois se tornar num bom jogador, essa educação ajudá-lo-á. Os jovens devem jogar por prazer e divertimento, e não com o peso de poderem vir a ser, ou não, profissionais.
Creio que se deve trabalhar com os jovens para que venham a ser bons desportistas e boas pessoas. Se depois se tornar num bom jogador, essa educação ajudá-lo-á. Os jovens devem jogar por prazer e divertimento, e não com o peso de poderem vir a ser, ou não, profissionais.
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