quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O plano e o momento

|Luís F. Cristóvão

Para se poder avaliar com eficiência a qualidade do trabalho desenvolvido ao longo de uma preparação de temporada ou no período que antecede o jogo, é necessário fazê-lo em competição. Por isso mesmo, quando depois de um mês totalmente dedicado ao treino, se entra finalmente no campeonato, as dificuldades e fragilidades começam a surgir.


Perante esse choque com o adversário, ganha importância a pergunta sobre o que depende do planeado pelo treinador e o que depende da decisão do jogador. No plano do treinador entram diferentes tipos de informação, como a filosofia definida para a equipa, as jogadas desenhadas para se conjugarem com essa filosofia, a forma como elas foram sendo passadas e implementadas nos treinos, o scouting realizado do adversário. Mesmo num nível competitivo baixo, estes são todos elementos essenciais do trabalho técnico a desenvolver. No plano do jogador, existem muitas variantes que estão intimamente ligadas com as do seu técnico, mas é preciso também adicionar tópicos como a formação do atleta, a experiência adquirida ao longo da sua vida competitiva  e a forma como foi estabelecendo essa biblioteca de informação em si mesmo, a capacidade de identificar e analisar, em jogo, aquilo que lhe está a acontecer e o que pode fazer para o ultrapassar.



Assim, é essencial que o treinador tenha uma preocupação dupla quando passa a sua filosofia e o seu playbook para os jogadores. É necessário que todos tenham bem clara a sua missão no grupo e no jogo, sendo que essa mesma missão pode sempre ser discutida previamente (no início da temporada), considerando-se ainda a oportunidade de ela ser acertada em momentos específicos (no início da semana de preparação). Esse reconhecimento da sua função é essencial para que o jogador consiga elaborar, na sua consciência, a gestão dos seus papéis. Isso obriga o jogador a reposicionar-se perante a equipa, sendo essencial que o faça para atingir o sucesso (o melhor lançador numa equipa pode, numa outra, ser o melhor defensor – e isso obriga a um reenquadramento do seu papel). Nesse sentido, o jogador tem ainda que deter a capacidade de reconhecer os seus colegas e adversários (daí a importância do scouting, que pode ser aplicado nas duas vias: para conhecer com quem se vai jogar, mas para cimentar, também, o conhecimento que temos do nosso jogo). Ao reconhecer as capacidades daqueles que estão em campo consigo, o jogador terá a oportunidade de melhor explorar as suas qualidades e esconder, como possível, as suas fragilidades.

Chegados aqui, podemos perceber que os papéis que cabem ao treinador e aos jogadores estão em total consonância e relacionam-se entre si durante todo o ciclo competitivo, desde o início do primeiro treino até ao final do jogo. As responsabilidades são sempre divididas e é nesse sentido que cabe a cada ter sempre bem claro a existência do outro como complemento necessário para o sucesso. Da mesma forma, a existência de um plano é sempre o primeiro passo para que a decisão tomada a cada momento possa obter o melhor resultado. Equipas que não planeiam, por muito bons que os seus jogadores possam ser individualmente, caminham para o falhanço. Técnicos que dispõem de planos bastante elaborados mas que não adquirem as ferramentas para gerir a sua criação no momento em que ela é colocada em prática, alimentam apenas frustrações. O plano e o momento estão interligados. É isso mesmo que transforma o jogo numa situação tão envolvente para todos os que nele participam.

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