quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Futebol no Feminino, um preconceito que custa a desaparecer

| António Valente Cardoso



A ideia de macho latino assenta na perfeição que se observa a dimensão aos desportos colectivos femininos no eixo mediterrânico, particularmente em Portugal e com ainda maior foco naqueles que são determinados como sendo masculinos, um pouco como determinadas profissões.

Se existem dificuldades nas modalidades amadoras portuguesas, que lutam pela sobrevivência num país que continua a não possuir uma política desportiva, académico-desportiva, sustentada, continuada, que permitiria uma poupança nos gastos de saúde imensamente superior a um investimento bem desenhado, projectado, desenvolvido e aplicado, tal ainda se acentua no desporto colectivo feminino. Nas modalidades de pavilhão como o andebol, o voleibol ou o basquetebol, valem os colégios privados, algumas escolas avulsas com uma boa ideia da importância do desenvolvimento e prática desportiva na própria resposta académica mais positiva, e alguns clubes, sensíveis e preocupados com essa problemática ou meramente agarrados à importância histórica, aos títulos que o feminino lhes granjeou e assegura.

É notável o esforço das atletas, muitas ainda a lutarem contra os preconceitos dentro da própria casa, por parte dos amigos e afins, numa retrógrada visão de que o futebol é para homens, situação extensível ao futsal. Muitas deslocam-se 50, 100 km duas ou três vezes por semana para irem treinar, um enorme desgaste, uma perda na ‘diversão’ ou no descanso pela dedicação, pelo amor pelo ‘Beautiful Game’.

Hoje, o futebol feminino em Portugal, após avanços e recuos nas últimas três décadas, parece finalmente focado num crescimento sem marcha atrás, sem magriços acoplados, com excelentes resultados, ainda maiores face a tão escasso investimento. Quer na variante de cinco, futsal, quer na variante de relvado, num instante se viram dezenas de atletas a emigrarem, uma prova – se necessário fosse – da inata qualidade da desportista portuguesa, como nos masculinos, sem os bacocos conceitos do ‘somos pequeninos’, não há ‘profundidade’.

Infelizmente, como nas restantes modalidades fora o trio futebolístico, os media portugueses não acompanham esta evolução, não a observam com o realce que mereceriam, apenas rematam atrás de algum sucesso estanque, como foi a inédita passagem do Ouriense à fase a eliminar da Liga dos Campeões 14/15.

Apesar de muito se copiar o que se faz em Espanha, mediaticamente falando, essa ‘cópia’ apenas existe no banal conceito da grandeza de dois clubes, por cá três, não se olhando, por exemplo, para a forma como os espanhóis acompanham o futebol feminino, já com transmissões televisivas, tal como o italiano ou o inglês, já para nem abordar os casos francês, alemão, sueco, dinamarquês ou norueguês.

Também a nível federativo têm sido muitas as mudanças, ainda assim lentas. Surgiu, finalmente, um enquadramento federativo para as sub17, já depois da maioria das nações europeias o ter realizado, continua a faltar um ainda mais importante enquadramento federativo para as sub15, prestando atenção às meninas que ainda evoluem no quadro misto. Contudo, não bastam as selecções nacionais, até porque continua a não existir, ao contrário de modalidades como o voleibol, um centro nacional – ou vários – onde as e os jovens estudam e treinam, em conjunto, ainda mais importante e relevante dentro de uma vontade para fazer crescer as modalidades e variantes. E, se federações como as de voleibol ou andebol têm capital para sustentar essa forma, é inacreditável que a FPF em pleno século XXI não tenha sequer um centro nacional de treinos (Clairefontaine existe desde 1988, por exemplo).
O Campeonato Nacional de Futebol Feminino continua a disputar-se a 10, ainda que a maioria dos clubes, por aquilo que se vai lendo, defendam o seu aumento para 12 e, também em contraciclo com a opinião de vários clubes e elementos ligados ao futebol feminino, a 2.ª Divisão está dividida de forma pouco satisfatória. A época passada assistiu à inauguração da liga feminina de futsal, algo que também estava em falta nesta modalidade, que tem visto várias das melhores lusas rumarem a Itália, onde vivem uma espécie de profissionalismo impossível em Portugal, face a tantos constrangimentos e preconceitos.

Não é problema único da Federação Portuguesa de Futebol, é algo que afecta quase todas as federações portuguesas, mas aguardar-se-ia uma muito maior ligação e investimento no desporto escolar, potenciando-se desde cedo a prática da(s) modalidade(s) num ambiente seguro, mais adequado à própria aprendizagem formativa e, preferencialmente, em ligação com os clubes, as agremiações desportivas. Tal situação dever-se-ia estender igualmente ao desporto universitário que, em Portugal, tem tanto de sério como de anedótico e mero espelho de cada ‘associação académica’, umas realmente interessadas no desenvolvimento académico-desportivo, outras mais preocupadas com as ‘noites’.

O enorme sucesso da geração dourada, as meninas que conseguiram o inolvidável 3.º lugar no Europeu de sub19 na Turquia em 2012, tem catapultado de alguma forma o futebol feminino para patamares mediáticos nunca antes alcançados, longe do merecido mas com algumas notas na imprensa.

Se durante muitos anos foram Carla Couto e Edite Fernandes as bandeiras do futebol feminino, dois nomes que percorreram o mundo, dos EUA à China, na busca do sonho, mas pouco seguidas e notadas, hoje em dia temos futebolistas nas ligas espanhola, francesa, italiana, alemã, sueca, belga-holandesa, nos EUA, acrescidas das luso-descendentes que procuram a afirmação na Suíça ou na Noruega, além de França ou Alemanha. Um orgulho para uma vertente, uma modalidade ainda tão carimbada negativamente pelos portugueses, com remoques totalmente ultrapassados.

CAMPEONATO NACIONAL FUTEBOL FEMININO

Com a certeza de faltarem vários nomes nos plantéis, onde a FPF apenas faz constar as atletas seniores, apesar da maioria das equipas ter atletas com idade júnior e juvenil inscritas nos plantéis seniores, em mais uma das diversas gafes comunicativas/informativas a que a FPF já nos habituou, deixam-se os nomes que a federação tem como atletas de cada agremiação.

Depois de mais de uma década de domínio do 1.º Dezembro, que entretanto resolveu virar-se de forma pouco sucedida para o masculino e desinvestir, primeiro, até findar com o feminino, o futebol feminino em Portugal tem visto novas formações surgirem no topo, rivalizando com os sobreviventes ‘históricos’ Boavista e Clube Albergaria. Ouriense, Valadares, A-dos-Francos ou Cesarense trouxeram novas cores e novos nomes ao futebol feminino luso, emparelhando com Leixões, Vilaverdense, Futebol Benfica e Fundação D. Laura Santos no elenco que compõe o campeonato 14/15.

O bicampeão Ouriense/Workfone chegou, viu e venceu, voltando a vencer no segundo ano e parte, naturalmente como favorito à conquista de novo título.
 Ana Neves, Ana Quartau, Ana Santos, Ana Tomaz, Ana Valinho, Ana Coelho, Anais Oliveira (Náná), Bárbara Pragana, Bárbara Santos, Bruna Santos, Catarina Rodrigues, Daniela Pereira, Diana Silva, Flávia Fartaria, Jéssica Pastilha, Mafalda Baptista, Margarida Marques (Pisco), Mariana Coelho, Marízia Lima, Filipa Rodrigues, Joana Marchão, Ana Capeta, Diana Silva são as jogadoras que fizeram história no apuramento europeu e buscarão o tri nacional.

O Fófó, Futebol Benfica, é um histórico do futebol português e a secção de futebol feminino soube aproveitar o que sucedeu no antigo campeão para levar para o Francisco Lázaro várias das meninas que brilhavam há não muito tempo com a camisola do Primeiro. Teoricamente, é o clube que mais desafiará o Ouriense para o título nacional.
Ana Francisco, Ana Teixeira, Andreia Silva, Andreia Marques, Catarina Realista, Elsa Ventura, Elsa Santos, Filipa Patão, Filipa Galvão, Joana Flores, Joana Rosa, Inês Andrada, Maria Inês Reis, Matilde Fidalgo, Sara Machado, Sílvia Brunheira, Sofia Nunes são as jovens que tentarão, novamente, ‘roubar’ o título às meninas de Ourém e oferecer ao ‘Fófó’ o primeiro campeonato nacional no feminino.

A-Dos-Francos surgiu no topo feminino na época passada, pela primeira ocasião, e desafiou desde logo os habituais candidatos, quase imitando o Ouriense como promovido campeão, sendo de aguardar que em 14/15 volte a desafiar o campeão na luta pelo título nacional.
Catarina Lopes, Catarina Sousa, Cláudia Tecedeiro, Cristiana Garcia, Denise Ferreira, Iva Moirinho, Jamila Marreiros, Lara Matos, Luciana Garcia, Maria Carlos Jesus, Matilde Figueiras, Milene Ramos, Rafaela Gonçalves, Salomé Silva, Telma Fernandes, Carolina Ferreira, Sofia Silva fazem parte do plantel que tentará levar o título para uma localidade que passou a ‘estar’ no mapa português devido a esta equipa.

Também subido em 13/14, o Valadares-Gaia ficou aquém do aguardado pois também se esperaria que lutassem pelo ceptro de campeãs. A equipa voltou a reforçar-se muito e bem, confiando-se que desdenhará o trio acima mencionado pelo campeonato, agora com Sofia Teles a deixar os relvados e investida nas funções de directora
 Ágata Pimenta, Ana Cerqueira, Raquel Pessoa, Cristina Ferreira, Daniela Veloso (Dani), Edite Fernandes, Liliana Ramos, Marlene Guizanda, Marta Dias, Micaela Matos (Micas), Neide Simões, Olga Freitas, Patrícia Sousa (Patrick), Regina Pereira, Rita Lima, Sara Pereira, Sara Granja, Susana Oliveira (Susy), Tamara Oliveira, Tatiana Beleza, Vanessa Marques Malho, Rafaela Pereira (Rafa), Beatriz Mendes, Joana Rita, Sofia Caleiro compõem a maior parte do plantel que procura recuperar o título feminino de futebol para o ‘norte’.

Habitual cliente dos lugares cimeiros, o Clube Albergaria/Mazel surgirá logo a seguir, ou junto, aos clubes já abordados como candidato aos lugares cimeiros, que valerão a disputa final a quatro, mas a saída da estrelinha Jéssica Silva para a Suécia é uma enorme perda para as meninas de Albergaria-a-Velha.
Ana Silva, Ana Almeida, Ana Tavares, Bárbara Martins, Carolina Silva, Catarina Almeida, Cátia Marques, Erica Gonçalves, Mary Bento, Raquel Reis, Raquel Tavares, Sandra Pinheiro, Sara Gabriela, Tânia Oliveira, Andreia Norton, Patrícia Oliveira, Rita Cheganças, Juliana Almeida, Patrícia Pais, Astrid Alves, Inês Branca, Beatriz Negrão, Beatriz Alves, com várias campeãs nacionais de sub18 em 2014, tentarão contrariar o favoritismo das equipas rivais.

O Boavista está de regresso ao topo no masculino mas o feminino não acompanha a tendência de ‘reinvestimento’ do clube, quase entregue a si própria e assente nos sucessos passados. Baseada nas ‘panterinhas’ formadas em casa, procurará contrariar as oponentes melhor apetrechadas.
Constança Silva, Bruna Rocha, Sara Monteiro, Bárbara Azevedo, Francisca Cardoso, Catarina Barradas, Adriana Gomes, Alexandra Rodrigues, Ana Machado, Brígida Lobo, Cátia Moreira, Daniela Azevedo, Isabel Silva, Jéssica Guerra, Joana Gil, Juliana Tavares, Marta Lourenço, Marta Sousa, Orlanda Sousa (Landinha), Rute Oliveira, Sandra Silva, Sara Freitas, Sara Sá, Sofia Rios, Vanessa Silva, Vânia Ribeiro são os nomes das boavisteiras que continuam a honrar uma camisola com muitos títulos mas longe desse fulgor, altura em que foi o motor do futebol feminino em Portugal.

Sobrevivente minhoto, o Vilaverdense perdeu duas pérolas para Valadares, Regina Pereira e Vanessa Marques, fazendo da luta pela manutenção uma tarefa ainda mais complicada.
Alexandra Quesado, Ana Pereira, Ana Loureiro, Ana Boas, Ana Oliveira, Andreia Oliveira, Catarina Gomes, Catarina Torres, Cátia Pereira, Maria Figueiredo, Mariana Silva, Sara Brasil, Mariana Rodrigues, Daniela Pereira, Leandra Pereira, Ana Rita Ribeiro e restantes meninas ainda com idade de formação vão lutar bravamente por não descer ao Campeonato de Promoção.

As ‘Princesas do Mar’ vão-se mantendo na primeira divisão, continuando o Leixões a mostrar-se como excelente clube formador, no masculino e feminino.
Ana Silva, Ana Cunha, Andreia Morato, Carina Amaral, Catarina Pinho, Cátia Almendra, Diana Pereira, Filipa Lima, Gabriela Gomes, Inês Carvalho, Ivone Calado, Marcela Gomes, Maria Pinhal, Patrícia Chu, Patrícia Costa, Rita Martel, Sara Jerónimo, Sofia Santos, Salomé Silva, Vanessa Maganinho são as seniores inscritas pelo Leixões para um campeonato que pretendem tranquilo.

O Cesarense apostou no feminino, acabando – coincidência ou não – por ver o masculino subir patamares a par. O fim do futebol feminino na Oliveirense e no Feirense levou ao aproveitamento de várias das jovens que estavam nessas formações, sublinhando-se aqui esta problemática ainda tão presente, a falta de continuidade destes projectos, pensados individualmente, não desenvolvidos em consonância com as escolas, com as associações distritais, com a federação, dada a falta de um plano nacional estratégico bem delineado da base ao topo.
Adriana Campos, Ana Cardoso, Catarina Silva, Cátia Santos, Cristina Barros, Diana Almeida, Eliana Clara, Jordana Pinto, Liliana Almeida, Mafalda Ramos, Manuela Resende, Mara Alves, Maria Pinto, Sandra Fernandes, Sara Oliveira, Sara Lopes, Sónia Silva, Verónica Pinta, Viviana Gouveia e as meninas da formação vão tentar manter o Cesarense no primeiro escalão.

Um dos viveiros do futebol feminino e da formação de mulheres, a Fundação Dona Laura Santos está de volta ao topo e todos aguardam pela próxima ‘Ana Borges’, a melhor jogadora portuguesa da actualidade e que ali se iniciou.
Andreia Rita, Carla Rodrigues, Cátia Almeida, Cláudia Fernandes, Daniela Alves, Joana Maia, Márcia Rebelo, Maria Figueiredo, Mónica Silva, Raquel Fernandes, Sandra Rita, Sara Cardoso, Sílvia Rebelo são as seniores que lideram as restantes meninas que participam na unidade desportiva desta Fundação com trabalho de relevo na região beirã.

CAMPEONATO PROMOÇÃO FEMININO

Quatro séries compõem a Promoção, o que coloca as séries B e C com deslocações bem amplas, continuando a notar-se a ausência de Trás-os-Montes e Alto Minho, além de escassas presenças de Alentejo e Algarve nesta prova e, consequentemente, no futebol feminino.

A Série A conta com Freamunde, Paredes, Casa Povo de Martim, Pico Regalados, Os Sandinenses, Rebordosa, Gondim Maia, Bonitos Amorim, Pasteleira e Boavista ‘B’.

Na Série B estão Sousense, S. Félix da Marinha, Vila FC, Canelas 2010, Argoncilhe, Fiães, Ferreirense, Murtoense, Eirolense, Seia e Viseu 2001.

A Série C é composta por Sintrense, FC Os Belenenses, Cadima, Bobadelense, União Rossiense, Os Vidreiros, Lordemão, Beira Baixa UC, Poiares, Ponte Frielas, Brasfemes.

Para a Série D foram escalonados Olivais e Moscavide, Belenenses, Estoril-Praia, Paio Pires, CAC Pontinha, Quintajense, Malveira Serra, Encarnação Olivais, Castrense, Olímpico Montijo, Escola Futebol Feminino Setúbal e Guia FC.

44 clubes que, com um pouco de imaginação, criatividade e incentivo federativo poderiam ser 48 ou, pelo menos, reajustando as séries não para números uniformes entre elas mas antes considerando custos e reformatando para três com 16 na Série A, para onde iriam Sousense, os clubes gaienses e os da Feira, uma Série C a 16, com os clubes da Grande Lisboa e a necessária integração das formações da margem sul, e uma Série B com os clubes de Aveiro Sul, Coimbra e beiras, procurando-se criar ou reactivar aí novas equipas, como o Escola FC, uma secção feminina na Académica, que é uma tremenda pecha, e tentando ajustar os clubes de Leiria.

Numa federação que tem excelentes acordos de patrocínio, não deixa de ser estranho que não consiga associar, acoplar, convencer esses parceiros para desenvolver o futebol feminino, para assegurar um naming às competições e um maior apoio aos clubes que invistam no futebol feminino, além de, como acima se notou, trabalhar de forma mais próxima com as escolas para desenvolver a prática no seio escolar, seja do futebol, seja do futsal, sem que tal suceda de forma avulsa mas antes em coordenação.

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