A Liga dos Campeões chegou à cidade de Braga e a cidade tenta corresponder a tão ilustre visita. Na tarde de 28 de Setembro, o centro da capital minhota estava cheio de gente e a conversa não podia ser outra, senão o jogo que se iria disputar daí a umas horas. Decidi fazer o caminho entre o centro e o estádio a pé, para conhecer o trajecto e saborear um pouco dessa aventura que é reconhecer como se constroem cidades nos dias de hoje. A caminhada levou-me até à freguesia de Dume onde, por detrás de um aglomerado de árvores, se começou a desenhar o fantástico Estádio Municipal de Braga.
A realidade é mesmo essa, Braga tem o mais belo estádio construído em Portugal. Enquanto os primeiros adeptos iam entrando, as barracas de bifanas concentravam a azáfama de gente que se preparava para o grande jogo. Já dentro do estádio, tomado pelo efeito da dupla bancada com pedreira ao fundo, deu para perceber como se pode transformar uma coisa banal como um lugar para disputar competições desportivas num recinto que é um ex-libris da cidade. Para além da fantástica obra de arquitectura, o estádio funciona também como um enorme miradouro para a freguesia de Dume, dona de características típicas da região do Minho.
A ansiedade tomava toda a gente que esperava nas bancadas o apito inicial do árbitro. A acústica do estádio funciona às mil maravilhas, sendo que tudo estava preparado para o espectáculo. O pior foi o facto do recital ter sido dado pela equipa do Shaktar. Com uma frente de ataque onde sobressaíam três craques brasileiros (Douglas, Luiz Adriano e Wiliam), a equipa baseava o seu jogo na solidez do seu meio-campo e na expectativa. Jogando com os nervos bracarenses, os ucranianos iam trocando a bola e esperando que os caminhos para a baliza se abrissem. Do lado do Braga, toda a táctica de Domingos se concentrava na expectativa de encontrar Salino em todos os lados do campo. O médio brasileiro apoiava a atacar e a defender, escondendo as fragilidades de Matheus na disputa entre os centrais adversários e compensando a lentidão dos médios Vandinho e Luís Aguiar.
A estatística explica uma grande parte do problema do Sporting de Braga nesta 2ª jornada da Liga dos Campeões. Com dez remates à baliza, alguns deles sem qualquer adversário na frente, o Braga não conseguiu marcar golo algum. Do lado ucraniano, bastaram quatro remates para marcar três golos. O Braga teve azar, mas o Shaktar foi claramente mais forte, saindo do encontro como justíssimo vencedor e grande candidato a seguir em frente na Liga. Quanto ao Braga, como diziam os seus adeptos à saída do Estádio, tem agora a obrigação de vencer o Partizan de Belgrado nas próximas jornadas, de forma a garantir, primeiro, a qualificação para a Liga Europa e tentar, nas últimas jornadas, limpar a sua imagem e disputar o segundo lugar.
Uma cidade não recebe um jogo de futebol apenas no seu Estádio. Pensar isso seria esquecer a essência do espectáculo que rodeia este desporto. E a verdade é que quem não esteve no Café Botafogo, na Praça Conde de Agrolongo, bem no centro de Braga. Ali, meia dúzia de adeptos bracarenses discutiam as opções do treinador, as simpatias do Presidente, o património do clube e a vida afecto-clubística de cada um deles. Um evento dentro do próprio evento. O empregado do café desculpava-se a cada minuto pelo tom de voz elevado que aquele grupo de habituais utilizada para falar da bola. Mal sabia ele que, assim, garantia um lugar na posteridade, ficando escrito que, em Braga, o futebol discute-se até de madrugada…
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