Certos homens estão destinados a
ser heróis. Outros, tão perto ficam desses momentos de heroísmo, que são
profundamente esquecidos pela história. Jovan Pekic desde cedo pressentiu estar
destinado a ser um dos esquecidos. Mas toda a sua vida tem lutado para ser um
daqueles que ficam registados na memória de uma cidade ou de um país.
Infelizmente, pelo menos para ele, nunca o conseguiu.
Jovan poderia ter sido eleito o
rei do baile de finalistas do Liceu de Domzale em 1989. Era um dos rapazes mais
populares, futebolista promissor da cidade, namorava com uma das raparigas mais
bonitas do Liceu. Tinha, de facto, tudo para ser o rei do baile. Mas o destino
não estava de acordo. Horas antes do início do baile, a avó de Jovan, que vivia
numa pequena aldeia nos arrabaldes da cidade, teve uma queda na sua cozinha e
Jovan, sendo o homem da casa, teve que acompanhar a mãe para a socorrer. Ou
seja, nem chegou a ir ao baile onde seria coroado.
Mas não era nos bailes que Jovan
Pekic queria brilhar, e sim, nos relvados. Era um brilhante médio esquerdo
formado no NK Domzale e chegou muito jovem à equipa principal, numa época em
que esta ainda andava pelas divisões secundárias. O seu futebol chamou tanto a
atenção dos olheiros que percorriam aquele jovem país à procura de pérolas que
Jovan Pekic acabou por ser convidado a ir prestar provas ao Oldenburg, da
Alemanha, clube que disputava a 2ª Bundesliga.
As coisas na Alemanha não correram
como o esperado. Jovan prestou provas e assinou contrato, mas o Oldenburg já
tinha quatro jogadores estrangeiros inscritos e Jovan limitou-se a treinar
durante um ano inteiro, sem esperança de se poder estrear no campeonato. O
Oldenburg acabou por descer de divisão no final da época e Jovan voltou à
Eslovénia, para jogar no NK Mura, que preparava uma equipa para tentar ser
campeão nacional. Pekic mantinha toda as suas qualidades e seria a estrela da
equipa.
Foram anos felizes para Jovan. Foi
utilizado em praticamente todos os jogos do campeonato, qualificou-se várias
vezes para as competições europeias, foi chamado a representar a selecção
nacional. Mas nunca foi campeão. Por alguma razão, o NK Mura ficou sempre perto
do título sem o atingir. Jovan jogava e fazia jogar, mas nos momentos
decisivos, a equipa parecia esmorecer, enfrentar as suas fraquezas e cair. Segundos
e terceiros lugares foi o melhor que o NK Mura conseguiu atingir.
Com o passar dos anos, Jovan
Pekic acabou por regressar ao NK Domzale, a sua equipa de sempre, onde assumiu
mais uma vez a liderança das esperanças de todos os seguidores da equipa. E
mesmo que nem sempre a carreira da sua equipa atingisse o sucesso, ele
continuava a merecer a confiança do seleccionador nacional, numa fase da sua
carreira em que às suas qualidade já havia juntado a experiência. A série de
apuramento para o Mundial 2002 era a grande aposta da Federação, mas o primeiro
jogo correu tão mal que os eslovenos acabaram por empatar nas Ilhas Faroe,
mesmo estando a ganhar por 2-0 a cinco minutos do fim.
Esse empate foi apenas o
prenúncio daquilo que se seguiria. A Eslovénia acabou a série de apuramento sem
derrotas, com cinco empates e cinco vitórias, várias delas com golos nos
últimos minutos. O segundo lugar, garantindo a qualificação para o Play-off,
enchia o jogador de esperanças de chegar ao Mundial. Pekic tinha agora 30 anos e preparava-se com
afinco para a dupla jornada de Novembro contra a Roménia. Seriam dois jogos a
precisar de um herói. Sem dúvida.
No primeiro jogo, em Ljubliana, a
Eslovénia venceu por 2-1. Pekic jogou os últimos dez minutos, tentando segurar
o resultado. E a 14 de Novembro, em Bucareste, Jovan Pekic entrou como titular
e corria o minuto cinquenta e seis, quando
se isolou no meio campo e partiu para o que tudo indicava ser uma jogada memorável.
Pekic ultrapassou dois jogadores e apenas com um defesa entre ele e a baliza,
Pekic consegue a finta mas estatela-se no chão, fugindo a bola para os pés de
Mladen Rudonja, que aproveitou para marcar o golo que qualificou a Eslovénia.
Jovan Pekic, na queda, fez um grave entorse no joelho que o deixou fora de
campo para o resto da temporada. Campeonato do Mundo incluído. Certos homens
têm o destino marcado.
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