João Tiago é treinador-adjunto do Porto Ferpinta e responsável técnico da equipa do Porto B, que disputa o campeonato da CNB1. Aos 35 anos, este técnico passou por vários escalões da formação do clube do Porto. Conversamos com ele para ficarmos a conhecer a sua visão sobre o presente e o futuro do basquetebol português.
- Como está organizada a formação do Porto? Quantos atletas, treinadores e equipas trabalham no clube?
Não tenho dados que me permitam responder.
- Para ti, qual a importância dos resultados escolares na evolução de um atleta?
É sempre muito importante que os nossos atletas, para além de trabalharem para obter resultados desportivos, trabalhem de igual forma para alcançar objectivos académicos que lhes permitam alargar ao máximo o leque de opções a tomar no futuro. No entanto, é por vezes complicado fazê-los entender que há tempo para tudo. E quando não há, é preciso fazer opções.
- Consideras fundamental que um jogador passe pelos diversos escalões de formação ou parece-te melhor que o jogador seja colocado a jogar contra atletas mais velhos, de modo a enfrentar maiores desafios?
Depende da evolução de cada jogador, do nível que vai atingindo e do nível da própria competição. Posso dar como exemplo a Equipa B do F. C. do Porto. Este ano tenho dois jogadores que estão a jogar no escalão de sub-20 e na CNB 1 e têm idade de sub-18. O Clube entendeu que jogarem a um nível superior seria benéfico para a sua evolução como jogadores e ao mesmo tempo permite que, no escalão de sub-18, outros jogadores possam jogar mais tempo.
- O campeonato nacional de sub-20 tem sido muito criticado. Para ti, faz sentido a sua existência?
O problema não é o escalão. É um escalão que faz sentido para atletas até aos 20 anos. O problema é o que se oferece a estes atletas depois. Como a maioria não tem acesso aos escalões superiores dos clubes mais fortes, desistem com muita facilidade e abandonam a modalidade. Para os mais interessantes existe a possibilidade de jogarem com “estrangeiros” e aqui é que, na minha opinião, reside o problema.
- No crescimento de um atleta, qual a importância de passar pela equipa B?
No F.C. Porto, a Equipa B permite que a Equipa de Sub-20, mais alguns atletas até aos 24 anos, possa participar num escalão com um nível de exigência mais elevado. Esta participação tem dado bons resultados ao longo dos anos. Por esta equipa passaram nomes como Paulo Pinto, Nuno Marçal, Nuno Perdigão, João Rocha, Paulo Cunha, Miguel Miranda, todos jogadores internacionais A que beneficiaram desta participação.
- Este ano, o Porto optou por emprestar uma série de jogadores a outras equipas. Qual o objectivo do clube ao tomar esta decisão?
Permitir que continuem a sua evolução ao mais alto nível, mantendo a ligação ao Clube, pois acreditamos que no futuro podem regressar e contribuir para o sucesso do Clube.
- Dos jogadores que tens no Porto B, quem te parece que poderá vir a ter projecção no Basquetebol internacional? Porquê?
A grande maioria dos atletas que tenho este ano na equipa é internacional nos mais variados escalões. Todos eles têm trabalhado de uma forma intensa e assumiram o compromisso de dar sempre um pouco mais em cada treino e jogo. Espero que muitos consigam chegar ao topo.
- No resto da Europa, encontramos jogadores com 17 e 18 anos a disputar as competições principais de seniores (nos nacionais e nas provas europeias). Porque achas que, em Portugal, só encontramos na Liga Profissional jogadores com mais de 20 anos?
As condições que existem nesses países estão a uma grande distância das que temos por cá. É verdade que, em muitos casos, são mais altos e mais fortes que os nossos, mas o mais importante é que trabalham muito mais e com muita mais qualidade que em Portugal.
- Em que nível te parece estar o Basquetebol português? Parece-te possível que, a médio prazo, possa aproximar-se dos melhores níveis europeus?
Neste momento existe, na minha opinião, uma falha grande em termos de qualidade e quantidade entre a geração que tem representado a nossa selecção, com idades entre os 30 e os 34 anos e os novos valores que vão aparecendo com idades entre os 19 e 23 anos. Como os mais velhos não são eternos, acho que o nível do Basquetebol vai, infelizmente, descer um pouco em relação aos melhores.
- O que falta ao Basquetebol Português para chegar aí?
Falta trabalho em quantidade e em qualidade. Faltam condições para as equipas de formação trabalharem mais. Faltam condições aos clubes para colocarem nos escalões de formação os treinadores com mais experiência no treino de jovens. Não tenho nada contra os treinadores que estão a começar a sua carreira, até porque já passei por lá, mas não é a mesma coisa colocar num escalão de iniciação um treinador que está a “experimentar” treinar pela primeira vez do que colocar um treinador com vários anos de experiência. Falta também uma Liga com mais qualidade e visibilidade que permita aos mais novos sonharem com chegar lá.
- Na tua opinião, como pode o site Planeta Basket apoiar o desenvolvimento de jovens jogadores fora de campo?
Tudo o que possa fazer para divulgar a nossa modalidade, por mais pequena que seja a iniciativa, é uma ajuda para apoiar esse desenvolvimento. O importante é que se fale de Basquetebol.
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