(Foto: A Bola) |
José Eduardo Bettencourt deu como finalizada a reestruturação do futebol do Sporting com a entrada de José Couceiro. No entanto, como vai agir a equipa idealizada pelo Presidente?
Lição número um da montagem de estruturas: não permitir que nenhuma das suas bases tenha um nível de desgaste superior às demais. José Eduardo Bettencourt não oferece qualquer segurança quanto ao seu domínio da teoria das estruturas. Chamou Costinha para dirigir o departamento de futebol profissional numa altura em que tinha um treinador a prazo (Carlos Carvalhal) e uma época perdida. Contratou Paulo Sérgio e nunca foi certo que, entre as palavras do treinador e a realidade do clube existisse harmonia, sendo a questão do “pinheiro” exigido pelo treinador vilafranquense um símbolo permanente desse autismo comunicativo. Numa altura em que, quer Paulo Sérgio, quer Costinha, têm posições fragilizadas perante os associados de Alvalade, chega José Couceiro para arrumar a casa. Sem revoluções, promete ele.
Couceiro tem passado em Alvalade
Corria o ano de 1998 quando José Couceiro foi nomeado para a estrutura dirigente do Sporting, à altura presidido por José Roquette. A realidade do clube não era melhor do que a actual. Numa época em que a equipa teve quatro treinadores, José Couceiro foi responsável pela escolha de Carlos Manuel para o comando técnico e dos atletas Renato e Leão. Nenhum dos três fez história em Alvalade, sendo que o próprio José Couceiro também não se demorou no clube. No início da nova época, com Paulo de Abreu a ganhar influência na Direcção do Sporting, Couceiro saiu para Alverca.
Ainda assim, José Couceiro é uma pessoa querida entre a elite sportinguista. Sobrinho-neto do violino José Peyroteu, Couceiro pode ser considerado um puro-sangue entre os históricos do clube. Isso justificará, em boa parte, a generalidade dos elogios conferidos ao novo director pela parte de antigos dirigentes. Ainda assim, o homem nascido em Lisboa em Outubro de 1962, precisa de obter um sucesso que lhe justifique a fama. Enquanto jogador, nunca conseguiu jogar no primeiro escalão, apesar de ter feito parte de plantéis que alcançaram a subida na 2ª Divisão de Honra (Torreense e Estrela da Amadora). Tendo ganho visibilidade como Presidente do Sindicato de Jogadores, as passagens por Sporting e Alverca, enquanto dirigente, não lhe permitiram qualquer título, tal como na sua carreira de treinador em Alverca, Setúbal, Porto, Belenenses (desceu de divisão), Kaunas e Gaziantepspor.
Novos desafios
Os desafios que se colocam a Bettencourt, Couceiro e Costinha são imensos. Fora da Taça de Portugal, com 13 pontos de distância para o líder da Liga, ao Sporting resta lutar pela Taça da Liga e pela realização de uma boa carreira na Europa. É evidente que o plantel verde-e-branco não oferece garantias para nenhum desses objectivos, e a solução passará, sempre, por mexer no grupo de jogadores à disposição de Paulo Sérgio.
O treinador exige mais um avançado, com características para se impor na luta contra as defensivas contrárias. O preço a pagar por esse jogador, não está claro. O Sporting dispõe de algumas pérolas com mercado internacional, mas nenhum deles será tão irresistível que faça chegar a Alvalade proposta irrecusável. Para além do mais, Janeiro não será momento para ver sair jogadores como Carriço, Rui Patrício, André Santos ou João Pereira.
Eventualmente, poderia ser o momento para aliviar o plantel de algumas opções que, visivelmente, não deram resultados. Matías Fernandez há muito ultrapassou o momento de se evidenciar como figura na equipa, Grimi e Torsiglieri não conseguem justificar as apostas feitas, Hildebrand arrisca-se a tornar uma pedra no sapato de Paulo Sérgio. Se a venda de algum destes jogadores dará dinheiro para investir num avançado, as esperanças serão poucas. Mas abriria espaço na folha salarial para repensar a aposta, isso sim.
Outras vozes se levantam quanto à política de empréstimos do clube de Alvalade. Com salários muito aceitáveis, o Sporting tem colocados jogadores como Pereirinha (Guimarães), Adrien (Maccabi Haifa) e Wilson Eduardo (Beira-Mar), para além dos jovens Nuno Reis, Renato Neto e William Owuso (Cercle Bruges). Qualquer um deles poderia beneficiar de um regresso a casa, ajudando a completar um grupo que terá um Janeiro e Fevereiro decisivos nas duas competições onde ainda tem aspirações.
Casos por resolver
Os dossiês que Couceiro quererá resolver o mais depressa possível são aqueles que têm arrastado problemas disciplinares no seio do clube. O mais badalado será o de Izmailov, mas também Caneira continua a treinar sozinho na Academia de Alcochete desde o início da época. Quanto a Simon Vukcevic, parece ter esgotado as fichas que Paulo Sérgio tinha investido no início de época, recusando-se a jogar em Sófia. Este parece ser, na verdade, um complicado karma para os sportinguistas: histórias de jogadores que se recusam a entrar em campo devido a lesões não reconhecidas pelo departamento médico.
Caberá a José Couceiro pôr ordem na casa. Em breve saberemos se a colocação desta última base na estrutura de Bettencourt acertou, ou não, o timing exigido. É que, como se sabe, para além de faltar dinheiro, tem faltado muita paciência em Alvalade. E isso é coisa que também não estará disponível na abertura do mercado.
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