André Martins é o actual Seleccionador Nacional de Sub-20 e respondeu ao nosso desafio de reflectir sobre o futuro do basquetebol português.
Aos 35 anos, o treinador conta com passagens pelo Benfica, Física de Torres Vedras e Queluz, tendo orientado a equipa nacional no último Europeu B de Sub-20, atingindo o 9º lugar da competição. A nossa conversa abordou os temas do quadro competitivo, as condições de treino e os CNT, bem como a internacionalização dos nossos jogadores e equipas.
- Como analisas o quadro competitivo português: para ti faz sentido a existência do Nacional de Sub-20?
Mais importante que o quadro Competitivo é encontrar espaço de jogo, onde os jovens tenham a possibilidade de jogar e de se superarem em termos competitivos.
- O facto de termos equipas B a disputar o CNB1, traz algum ganho para os jogadores que estão nessas equipas?
Depende dos jogadores e das equipas. Se a competição proporcionar aos atletas um momento competitivo que traga benefícios à sua evolução individual e colectiva, penso que pode ser positivo. No entanto julgo que a competição mais adequada ao desenvolvimento de jogadores jovens, com elevado potencial, está na Proliga. Esta competição tem todas as condições para se tornar no “trampolim” de jogadores com idade júnior e com potencial para jogarem na nossa competição principal. Cada vez mais acredito que um jovem talento, quando chega aos 17/18 anos, se não encontra um espaço competitivo, onde a superação no seu trabalho diário e o seu espaço de jogo seja um permanente desafio, a sua evolução, como praticante, dificilmente atinge os patamares que ambicionamos.
- A história das selecções nacionais jovens passou de um quadro onde, há dez anos atrás, praticamente não ganhávamos jogos internacionais, para um quadro onde as nossas equipas tem vindo a conseguir fazer provas com cerca de 50% de vitórias. O nível do nosso basquetebol subiu?
Os resultados, de uma forma geral, demonstram esse facto, no entanto, penso ser um erro avaliar o desenvolvimento da nossa formação, focando-nos apenas na vertente dos resultados internacionais. Por exemplo, na avaliação do campeonato da Europa de Sub-20 deste ano, mais do que a boa classificação alcançada, foi o facto de 9 dos 12 jogadores que integraram a equipa, estarem a competir e a ganhar espaço de jogo na nossa competição principal.
- Ainda assim, praticamente não exportamos jogadores para campeonatos mais competitivos. Há alguma barreira psicológica que é preciso ultrapassar para podermos ter jogadores a disputar esses campeonatos?
Antes de exportarmos para fora, temos de conseguir colocar mais jovens com capacidade e qualidade a competir na nossa liga. Foi desta forma que jogadores como Sérgio Ramos, Carlos Andrade e João Gomes, entre outros, ganharam visibilidade e conseguiram entrar em ligas muito fortes.
- Qual é, na tua opinião, a importância do percurso escolar de um jovem no seu desenvolvimento enquanto atleta?
Não tenho dúvidas em afirmar que quanto maior e mais exigente for o percurso escolar de um jovem atleta, mais possibilidades terá de ser melhor jogador. Os jovens praticantes, por muito bons que sejam na sua pratica desportiva, se descurarem a vertente escolar, nunca atingiram enquanto atletas o patamar mais elevado das suas capacidades.
- Os Centros Nacionais têm sido capazes de alimentar as nossas equipas profissionais?
Esse é um dos principais objectivos dos centros de treino. Existem muitos exemplos de atletas que frequentaram os centros de treino e que fazem parte das equipas da liga de Basquetebol. Aproveito para agradecer aos clubes que competem na Proliga, a oportunidade que deram aos atletas do Centro de Treino do Jamor, de participarem nesta prova.
- Esses jogadores chegam a seniores melhor preparados do que os que trabalham nos clubes?
Essa pergunta não tem uma resposta linear, existem alguns clubes que oferecem excelentes condições de trabalho aos atletas, que apostam na formação e que possuem matéria humana para desenvolverem um excelente trabalho. Por outro lado, os centros de treino oferecem a muitos jovens, de diferentes regiões do país, um conjunto de condições de trabalho, que estes não encontram nos seus clubes, proporcionando-lhes a oportunidade de se tornarem atletas de referência no basquetebol Nacional.
- Parece-te benéfico para o basquetebol português que os melhores jogadores estejam concentrados em três clubes?
Nos seniores, é natural que estes estejam nos Clubes que proporcionam melhores condições de trabalho. É assim em todo o lado. Nos escalões de formação deve existir o cuidado de não descaracterizar a competição, bem como permitir a todos os jovens, “espaço” de jogo alargado.
- Historicamente, a falta de contacto internacional foi apresentado como um travão à evolução do nosso basquetebol. Sentes que, depois de disputar um campeonato europeu, os teus jogadores apresentam melhores níveis?
Tenho a certeza que sim. Foi uma experiência riquíssima para todos. Os atletas nesta etapa do seu desenvolvimento precisam de desafios de grande exigência.
A possibilidade que este momento proporciona de:
-Durante um mês de preparação, realizamos 40 unidades de treino;
-Estarmos todos juntos em estagio, com boas condições de trabalho;
-Durante 12 dias realizarmos 8 jogos de grande exigência física e mental, obrigando treinadores e jogadores a uma constante superação e dedicação ao jogo.
Na minha opinião, a maior virtude desta competição, prende-se com o facto de todos o que nela participam, entenderem que o Basquetebol é acima de tudo, um jogo “mental”.
- Seria, então, importante que os clubes disputassem mais torneios com equipas estrangeiras? O que te parece que a Federação pode fazer para que isso aconteça?
Óbvio que esse contacto internacional é decisivo. Os clubes da liga tiveram oportunidade de participar nas competições europeias mas apenas o Benfica aceitou esse desafio. Seria muito importante que mais clubes tivessem a capacidade e ambição de o fazer. O basquetebol ficaria sem dúvida mais forte e a selecção beneficiaria bastante com essa realidade.
- Dos jogadores que passaram pelas selecções desde que és treinador dos Sub-20, quem te parece que poderá vir a ter projecção no Basquetebol internacional?
Não gosto de individualizar estas questões, prefiro referir que qualquer dos 12 atletas que participaram no campeonato de sub-20 deste ano, têm talento e capacidade para jogarem na nossa principal liga.
- Como têm sido acompanhados os portugueses que jogam no estrangeiro? Há algum esforço no sentido de identificar luso-descendentes em países onde existem fortes comunidades de portugueses? Estou a pensar nos Estados Unidos, Canadá, Brasil, França, Suiça, por exemplo.
Respondo apenas na minha área de intervenção, Sub-18 e Sub-20. Recolhemos informações junto dos seus treinadores / coordenadores, procuramos informação estatística e em alguns casos, observamos vídeos destes atletas.
- Em que nível te parece estar o Basquetebol português? Parece-te possível que, a médio prazo, possa aproximar-se dos melhores níveis europeus?
Nos escalões de formação, sem sombra de dúvida que estamos na divisão B do Basquetebol Europeu. Esta é a nossa realidade. Temos uma tarefa muito exigente pela frente, é muito difícil aproximar o nosso jogo, em termos culturais e financeiros, de muitas realidades europeias. O regresso do basquetebol masculino de clubes às competições europeias foi, sem duvida, um “pequeno, grande passo”, para estarmos mais próximos dos melhores.
- Na tua opinião, como pode o site Planeta Basket apoiar o desenvolvimento de jovens jogadores fora de campo?
O Planeta Basket faz um trabalho magnífico de divulgação e promoção da nossa modalidade. Aprecio e valorizo bastante, sobretudo a ênfase que dão às “referências” da nossa modalidade, bem como a cultura de mérito que praticam diariamente no vosso site.
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