| Andy McDougall
Foi mais uma derrota gloriosa. Sim, a seleção escocesa é especialista nesta
arte de valor questionável. O jogo em Dortmund foi outro exemplo daquela sensação
agridoce de ter chegado tão perto a alcançar algo especial com trabalho duro,
superando as expectativas, às vezes com um pouco dum sentido de injustiça, e
encontrar alguma honra no fracasso, que já não é nada estranho para os adeptos
escoceses. O que deixa é uma mistura de orgulho e frustração. Assim é a vida
para o Tartan Army.
A Escócia nunca esperou conseguir algo do jogo contra os campeões do mundo
mas quando chegas tão perto até é mais frustrante do que perder por uma margem
maior. Além disso, não foi por sorte que os alemães não venceram por mais
golos; a Escócia defendeu bem e até mostrou perigo no contra-ataque.
O golo da Escócia, marcado por Ikechi Anya, extremo do Watford, e bem
assistido por Steven Fletcher do Sunderland, provou que a Escócia é capaz de
marcar contra equipas melhores com a bola rolando, mas já sabíamos isso. Mais
difícil é deixar o campo com um ponto ou três como prémio pelos esforços dentro
das quatro linhas.
O jogo do domingo fez lembrar da derrota por 3-2 em Wembley há um ano
contra o rival mais antigo, a Inglaterra. A Escócia jogou bem e por duas vezes
teve a vantagem, voltando para o norte orgulhoso mas com o sabor familiar de
“quase, quase…”
Hampden Park, Glasgow, Outubro 2010: a Escócia sofreu 2-3 diante da Espanha
num jogo de qualificação para o Euro-2012. A equipa visitante, os campeões do
mundo, liderou 0-2 mas a Escócia empatou antes que Fernando Llorente se
tornasse esse jogo em mais uma derrota gloriosa com o golo decisivo. No
entanto, a Escócia ainda podia se ter qualificado para o play-off se não fosse
por um penalti mal assinalado para a República Checa em Glasgow onze meses
depois num jogo que terminou 2-2.
O tema de injustiça, ou má sorte, a depender da sua ponta de vista, ainda
então não foi nada novo. Para alguns ainda dói que em 2007 um livre mal
assinalado para a Itália extinguiu as esperanças da selecção escocesa na fase
de qualificação para o Euro-2008. Recorde-se que naquele grupo foram os
finalistas da Copa do Mundo de 2006: a Itália e a França, e a Escócia conseguiu
duas vitórias sobre os franceses. Derrotar a selecção francesa duas vezes e não
chegar mesmo ao play-off? Não é por falta de vontade que a Escócia não se
qualificou para um torneio desde 1998.
Voltando a pensar no jogo contra a Alemanha, os escoceses outra vez sentiram-se
que tiveram razão para queixar. Aos 71 minutos o lateral alemão Durm escapou
com amarelo quando devia ter visto vermelho por negar a Steven Naismith uma
oportunidade de marcar. Apenas cinco minutos depois do golo de Anya e com a
Escócia a crescer no jogo, pode ter sido um erro decisivo pelo árbitro.
No entanto, o que a seleção escocesa tem de fazer agora é esquecer tudo
isso da “derrota gloriosa” e levar a confiança e o orgulho gerido por este
resultado para os próximos jogos. O encontro na Alemanha ia sempre ser o mais
complicado mas já fica atrás e pela frente são os jogos mais importantes.
Sendo realistas, podemos dizer que a Alemanha vai ganhar o grupo mas a luta
para o segundo lugar automático no Euro-2016 será fascinante. A Escócia, a
Irlanda e a Polónia vão todos pensar que têm boas hipóteses de avançar e não se
pode ignorar a Geórgia que apenas perdeu frente à Irlanda graças ao génio de
Aiden McGeady.
Se a selecção escocesa puder continuar a melhor sob as ordens de Gordon
Strachan e obter resultados positivos – como as duas vitórias sobre a Croácia
em 2013 – talvez esta campanha não vá ser outra derrota gloriosa; é uma
oportunidade real de voltar ao nível mais alto e pôr fim a muitos anos de jejum.
França 1998 já foi há tempo demais.
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