terça-feira, 16 de setembro de 2014

Zenit: uma imponente barreira vinda do frio mas com um toque do sangue latino

| Francisco Sousa

Autor de um início de temporada pujante e afirmativo, o Zenit de André Villas-Boas chega ao Estádio da Luz claramente disposto a complicar a vida aos actuais campeões nacionais. Líder destacado do campeonato russo após sete jornadas, a formação de São Petersburgo procura, além do regresso aos títulos a nível local, realizar uma boa campanha europeia, pese embora esteja colocado naquele que é considerado, em teoria, o grupo mais equilibrado e competitivo desta Liga dos Campeões. As expectativas para um dos clubes com maior orçamento desta competição são elevadas e o técnico luso sabe bem que a administração do Zenit não admite insucessos numa temporada que se quer de festa...



Depois de uma derrota (injusta, diga-se) a abrir a época oficial, no Chipre, frente ao AEL Limassol (1-0), o Zenit partiu para uma série avassaladora de dez triunfos consecutivos. A base do sucesso tem assentado no estilo de jogo posto em prática por André Villas-Boas esta temporada e que visa que a equipa possa dominar mais os jogos, embora aproveitando de igual maneira a velocidade dos seus melhores atacantes nas transições. No fundo, este Zenit representa uma mistura de características diferentes, mas que para já vai resultando bastante bem. Tacticamente formatada para jogar entre um 4x3x3 com os extremos a tenderem a fazer movimentos interiores e um 4x2x3x1 um pouco mais aberto, a equipa de São Petersburgo ataca com critério e ordem quando tem bola, usando para isso a inteligência de jogadores como Fayzulin (castigado para este encontro), Witsel ou Shatov com bola e a técnica em progressão de elementos como Hulk ou Danny. Aliás, estes dois homens revelam-se igualmente argutos a explorar situações de contra-ofensiva, visto que aliam velocidade e técnica a uma notável capacidade de remate e boa visão de jogo.

Movendo-se bem entre esses dois registos, o Zenit apresenta-se agora também um pouco mais consistente e organizado na maneira como defende. Em várias situações, organiza-se quase numa espécie de 4x4x2 com Hulk junto a Rondón numa primeira linha e com Shatov e Danny praticamente na mesma linha do duplo-pivote do meio-campo. Vai alternando entre momentos de uma pressão mais intensa e outras situações de organização defensiva mais recuada, sobretudo contra equipas que possuam criativos ao meio e gostem de assumir a posse de bola (por exemplo, o último jogo frente ao Dinamo de Moscovo). Quando recuperam a bola ou procuram sair de forma organizada, a tendência é fazê-lo pelas laterais, com o aparecimento constante de apoios interiores, extremamente úteis para ajudar a desequilibrar as estruturas adversárias. No fundo, esta é uma equipa que gosta de controlar os jogos, com e sem bola, e cuja proposta pode ser adaptável também às diferentes características dos adversários que lhe vão aparecendo pela frente...


O um-por-um:

Yuri Lodygin: Um dos melhores guarda-redes russos da actualidade. Dono de uns bons reflexos, mostra segurança entre os postes e alguma agilidade, embora possa melhorar em certas abordagens aéreas. Importante em vários jogos, embora também cometa alguns erros infantis...
Igor Smolnikov: Actual titular da selecção russa, o lateral-direito do Zenit adora projectar-se para o ataque, dando largura e profundidade à equipa em zonas mais adiantadas. Fiável a defender e rápido a empreender as suas acções, revela também qualidades ao nível do passe, cruzamento e até do remate, sempre de pé direito.
Ezequiel Garay: Um velho conhecido dos benfiquistas. Central sóbrio e extremamente eficaz no desarme, tem uma postura absolutamente impecável em quase todos os jogos. Forte no um-para-um defensivo, cumpridor ao nível do passe e capaz de antecipar-se aos atacantes em certas situações, é, sem dúvida, um dos melhores defesas-centrais da actualidade. Tem jogado como central do lado direito, ao contrário do que acontecia no emblema "encarnado". Melhor jogador do mês de Agosto para os adeptos do Zenit.
Nicolas Lombaerts: Tem aparecido a titular nos últimos jogos, devendo manter o estatuto na Luz. Central com alguma experiência, muito criterioso ao nível do passe e com bom jogo aéreo, revela ainda argumentos ao nível do desarme e da colocação. Sem ser um defensor excepcional, revela-se bastante fiável e tem mostrado um saudável entendimento com Garay.
Luís Neto: Internacional português, tem tido uma utilização intermitente no centro da defesa do Zenit. Revela qualidades no desarme e em antecipação, embora tenha algumas saídas posicionais que o deixam exposto. Jogador correcto, disponível fisicamente e capaz ao nível do passe. Provável suplente.
Domenico Criscito: Lateral que gosta de subir bastante no terreno, aparece na frente várias vezes, quer para dar cruzamentos ou para tentar, eventualmente, o remate (já leva dois golos esta época). Mostra ainda qualidades ao nível do desarme, fecha bem por dentro, embora nem sempre esteja correctamente posicionado na hora de defender...
Javi García: Outro dos ex-benfiquistas do conjunto russo. Trinco raçudo, durinho e muito forte no desarme, exibe atributos ao nível do equilíbrio defensivo e do roubo de bola. Geralmente, distribui de forma eficaz, embora não exiba credenciais técnicas notáveis. Muito útil para AVB.
Axel Witsel: Tem tido um papel mais preponderante do ponto de vista ofensivo neste início de época. Joga mais subido e mantém o mesmo critério e qualidade ao nível do passe. Dono de uma interessante visão de jogo, pode ainda aparecer em zona de remate. Equilibrado e com noções tácticas muito interessantes, é um dos indiscutíveis para o técnico português do Zenit. Outro regresso à Luz.
Anatoly Tymoschuk: Aos 35 anos, ainda se revela útil, embora a sua titularidade não se afigure muito provável. Médio de contenção com boa qualidade de passe, já não possui a mesma disponibilidade física do passado mas mantém um sentido táctico muito apurado.
Igor Shatov: Médio de grande mobilidade, pode actuar entre a ala direita e a posição "10". Internacional russo de créditos firmados e notável qualidade técnica, acrescenta largura em certos momentos, ao mesmo tempo que tende a vir por dentro para procurar o remate ou um bom passe para golo. Possui uma interessante visão de jogo e um bom remate de meia-distância. Candidato claro ao "onze".
Pavel Mogilevets: Um dos médios mais promissores do futebol russo. "8" puro, gosta de aparecer na segunda linha, jogando algunas vezes quase como "enganche", nas costas da referência do ataque. Revela atributos ao nível do passe e da visão de jogo, aliados a uma técnica vistosa em certos lances e a uma certa versatilidade sempre bastante útil.
Danny: Actua preferencialmente entre o lado esquerdo e o centro da segunda linha do meio-campo. Criativo, exibe atributos na condução em progressão, aliando velocidade a uma extraordinária capacidade para ultrapassar os adversários. Desequilibrante, é, sem dúvida, uma das grandes referências deste Zenit.
Hulk: Outro velho conhecido dos portugueses. Potente, rápido, com finta e remate fácil, Hulk é a estrela-maior da companhia. Em velocidade e no um-para-um, exibe-se como um dos melhores atacantes da actualidade. É ele o responsável pelos lances de bola parada mais próximos da área contrária, batendo habitualmente com o seu pé esquerdo. Craque puro.
Salomón Rondón: Avançado bastante possante e garantia constante de bons apoios, revela-se um belíssimo rematador, mostrando atributos, sobretudo, ao nível do jogo aéreo. Atira bem com os dois pés (embora atire preferencialmente com o direito). Bem nas recepções e nas desmarcações, mostra-se como uma opção bastante credível para o ataque do Zenit.
Aleksandr Kerzhakov: Goleador experiente, espreita a titularidade neste jogo, algo que não tem adquirido nos jogos mais recentes. Móvel, astuto a explorar o espaço nas costas da defesa contrária, revela-se um belíssimo finalizador.
Andrey Arshavin: Avançado apto a jogar em todas as posições do ataque, é rápido e gosta de atacar os espaços. Talentoso (embora lhe pareça faltar alguma confiança...), tem estado longe do nível já exibido noutros tempos da sua carreira. Provável suplente.

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