Finalizamos esta série de artigos com um texto dedicado aos dirigentes dos clubes de basquetebol.
António Maceiras faz uma homenagem a todos aqueles que se dedicam voluntariamente a tornar possível a existência do basquetebol. Os textos do autor podem ser encontrados em BasketMe (Www.Basketme.com).
Há algum tempo partilhava uma refeição com um destacado presidente de um clube da ACB e manifestava a minha admiração por todos aqueles que se dedicam à actividade de dirigente. Tive a sorte de trabalhar como executivo em clubes durante 16 anos, o que também me permitiu comprovar a dureza desta profissão. Ainda que, no meu caso, se tratava de ganhar a vida como profissional, houve ocasiões em que a tensão e as preocupações associadas à função fazia-me duvidar que valesse a pena dedicar-me a ela. Assim, imaginem o que isso significa quando nos dedicamos a este trabalho sem receber qualquer remuneração em troca.
Os dirigentes passam por dificuldades para aprender o seu “ofício”. Enquanto os jogadores têm técnicos que os ajudam, os treinadores têm as suas escolas, clinics e outras actividades onde se formar, e inclusive os árbitros têm os seus cursos e companheiros mais velhos que os ajudam, os dirigentes não têm essa possibilidade. Normalmente iniciam-se na função numa posição alta na hierarquia, não tendo quem os possa acompanhar ou guiar na sua aprendizagem. No melhor dos casos, coincidem na estrutura com outro dirigente mais experiente, com quem poderão aprender, da melhor forma que conseguirem, a tomar as opções necessárias à sua função.
Existe outro handicap que costuma afectar os dirigentes: a via pela qual, normalmente, chegam aos seus cargos é a sua experiência no mundo empresarial, em muitos casos plena de sucessos. Alguns têm a tentação de imitar, ponto por ponto, os preceitos que os fizeram triunfar na sua carreira profissional. Mas se não se dão conta das peculiaridades do “negócio do desporto” (como comentei nos artigos anteriores) têm maiores probabilidade de fracassar. Dou-vos este exemplo, em que empresa convencional um empregado (neste caso um jogador) pode cobrar muitíssimo mais que os seus superiores hierárquicos (treinador e executivo)?
Sempre disse que a responsabilidade de um bom executivo é tentar ajudar os seus dirigentes a serem melhores. A experiência e os conhecimentos de quem se dedica, profissionalmente, a este ofício, devem estar ao serviço de melhorar o trabalho de quem se dedica voluntariamente. Não consiste em ensinar, mas em fornecer pontos de vista e vivências que enriqueçam a sua bagagem. No final das contas, trata-se de uma auto-ajuda, pois melhores dirigentes melhoram a organização e as condições de trabalho existentes.
Quero fazer uma reflexão sobre o que significa um dirigente dedicar-se a esta actividade:
-Dedica tempo, retirando-o à sua família e à sua profissão.
-Custa-lhe dinheiro, em alguns casos directamente, outros por não ter tanta disponibilidade para a sua profissão.
-Significa acumular a gestão de uma série de problemas que não tinha antes de ser dirigente.
-Supõe viver em tensão pelos resultados e pela situação financeira do clube.
-Tem que suportar críticas públicas, seja da massa associativa, seja dos meios de comunicação.
-Os momentos de êxito são efémeros, embora as preocupações sejam constantes.
-Arrisca o seu património pessoal, conforme evolua a situação do seu clube.
Creio de que todos estarão de acordo com o facto de não haver muitas razões para que alguém deseje ser dirigente. A única razão que encontro é o reconhecimento social que obtém do seu trabalho e da sua dedicação. É por isso que decidi fazer este pequeno gesto na sua direcção. A todos aqueles que têm cargos não remunerados, tanto em clubes profissionais como amadores, em federações ou outros organismos, expresso o meu agradecimento e a minha admiração pelo labor e dedicação dispensados. Espero que essa coragem possa durar por muitos anos!
E, pelo caminho, aproveito também para expressar a minha gratidão àqueles que foram os meus presidentes: Salvador Alemany, Emili Creus, Josep M. Bartomeu, Enric Ametller e Josep Amat. Também a todos que fizeram parte dos conselhos directivos e com quem, sem nenhuma excepção, tenho a sorte de manter relações de amizade. Não sei o quanto isto lhes pode compensar pelos sofrimentos do passado, mas que lhes conste o agradecimento por quanto me ensinaram, pela amizade e pelo apoio que me deram.
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