António Maceiras continua a analisar a formação de jogadores profissionais, assinalando os problemas que enfrentam os jovens após chegarem ao escalão principal.
O Planeta Basket tem-se esforçado para pensar criticamente o futuro do basquetebol nacional. Os textos de António Maceiras são, na nossa opinião, um importante contributo para que se pense sobre o tema. O autor escreve regularmente no site BasketMe (www.basketme.com).
O salto para o profissionalismo
Disse anteriormente que considero bom o processo de formação basquetebolística espanhol. Ainda assim, há um ponto frágil nessa cadeia: a transição do jogador de formação para profissional. Tradicionalmente sempre tivemos jogadores prometedores em iniciados, cadetes e juniores que não conseguiram saltar o muro que os separava do profissionalismo. Nos últimos anos, umas gerações de atletas extraordinários conseguiram inverter essa tendência. Sem dúvida que terá sido importante que se tenham cruzado com treinadores com vocação para os ajudar, como é o caso exemplar de Aito Garcia Reneses, no Joventut Badalona. Porque, na verdade, também temos assistido a casos de talentos de nível internacional que precisaram de mudar de ares para demonstrar as suas qualidades. E nos piores casos, ficaremos sempre com a dúvida de onde poderiam ter chegado os que apontavam para o sucesso e ficaram pelo caminho.
Em qualquer caso, um jogador tem uma fase muito complicada na sua evolução entre os 18 e os 23 anos. Citarei alguns dos problemas que terá que enfrentar:
-Passar de jogar por divertimento a jogar para ganhar a vida.
-Momento de apostar numa carreira académica ou na dedicação total a uma carreira no Basquetebol.
-Passar de jogar com rapazes da sua geração para passar a jogar com atletas até 20 anos mais velhos, com todas as implicações (a nível de salário, popularidade, posição social) que estão adjacentes.
-Passar de ser a estrela da equipa para ser o último recurso.
-Passar de ganhar uma bolsa a ter um salário muito superior ao normal nos jovens da sua idade.
-Passar do anonimato à praça pública, tanto na esfera privada como na repercussão das suas exibições.
-Passar de treinar e jogar para aprender a fazê-lo para ganhar.
-Passar de um treinador com paciência a um que está pressionado pelos resultados.
Tudo isto numa idade em que um indivíduo está ainda a terminar de moldar a sua personalidade. Configura-se, assim, um panorama que deve ser tratado com todo o cuidado, de forma a contornar todas estas “ameaças”.
A importância de uma boa estrutura de formação
A pressão existente no basquetebol profissional torna necessário o aparecimento de treinadores ousados que dêem oportunidades às jovens promessas. Não se trata só de resultados. Pensemos que, por cada jovem que entra em campo, um atleta mais velho que está a tentar ganhar a vida fica de fora. Conceder uma oportunidade a um jovem pode criar problemas no equilíbrio da equipa. Para mais, no caso da aposta não ter o retorno esperado, é certo que o técnico terá que ouvir “mas o que lhe terá passado pela cabeça para pôr um miúdo a jogar?”
O alto nível da ACB torna tudo isto ainda mais complicado. Não só pela qualidade desportiva dos adversários, como pelas consequências estruturais e financeiras que os resultados têm a este nível. Não é uma competição como as Ligas dos Balcãs ou do Báltico, onde os clubes se podem permitir a vários anos de transição.
Com a ideia de mitigar estes problemas latentes, criou-se, há alguns anos, o circuito de sub-20. O objectivo era dar minutos de competição a atletas situados neste arco entre os 18 e os 22 anos. No meu entender, falhou o seu propósito já que os jogadores com maior potencial acabam integrados na dinâmica das suas equipas e não participam nestas concentrações. Para além disso, o formato em que se disputa (três jogos consecutivos com plantéis heterogéneos formados pouco antes da data marcada), também não permite uma experiência importante para os que nela participam.
Há um ponto do qual a ACB deve tomar consciência: a maioria das promessas concentram-se num número reduzido de clubes. Muitos deles estão “tapados”, sem se poder mostrar na primeira equipa dos seus clubes, esquecidos em equipas B ou em empréstimos a clubes que também não lhes permitem melhorias eficazes. Encontrar uma fórmula que possa desbloquear esta situação, parece-me o mais crucial na formação de jogadores de elite. Uma fórmula que possa também compensar os clubes que os formaram.
Falta-me olhar para as divisões que estão abaixo da ACB. Neste momento, creio que não colaboram eficazmente para a formação de jogadores de elite. É necessário encontrar fórmulas que permitam a inclusão de jovens promessas do nosso basquetebol nessas competições. Tal como na ACB se chegou a um acordo para que os contingentes incluam os jovens, também na Federação se deverá fazer o mesmo. Provavelmente chegou o momento de analisar se, de facto, três ligas profissionais fazem sentido ou se se deverá progredir para um modelo em que a formação seja mais influente.
Acabo por reconhecer a dificuldade de encontrar soluções para os problemas que menciono neste artigo. Admito que é muito mais fácil enumerar as deficiências do que encontrar-lhes os remédios. Mas se não nos questionarmos sobre as falhas do sistema, nunca poderemos encontrar formas de o melhorar.
traduzido por Luís Filipe Cristóvão
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