|Luís F.
Cristóvão
Hoje é um
dia histórico para o futebol português, com Manuel Cajuda a completar 500 jogos
na principal divisão nacional como técnico principal, sendo apenas o sétimo
treinador a atingir esta marca – Fernando Vaz, com 646 jogos, é ainda o
detentor do recorde. Na mesma semana em que Jorge Jesus fez uma muito comentada
intervenção na FMH-UTL, cabe-me sublinhar alguns pontos que considero muito
interessantes da entrevista dada pelo técnico algarvio ao jornal A Bola. Não
querendo, com isso, fazer uma defesa do treinador, mas sim tentar perceber
melhor alguns traços que o tornam uma singular personagem do nosso futebol.
Daí que me
soe muito curioso ler este excerto da entrevista – que passo em discurso
direto. "Há uma série de comentadores que
falam em transições, encurtamentos, transições multissetoriais, segundas e terceiras
bolas, passe de primeira e segunda estação e, curiosamente, ninguém fala do
passe de merda, que é o passe errado". Não
haverá, para um técnico, melhor valor do que a sua capacidade para comunicar
com o atleta que está em campo. E, no fundo, esta passagem lembra-me que, seja
com que nomenclatura nós quisermos descrever o que acontece num determinado
jogo, serão sempre onze atletas e uma bola. Por todas as críticas que possam
ser feitas ao discurso de Cajuda , é bom lembrar que o algarvio é hoje uma
reminiscência de uma longa tradição de técnicos que viviam ancorados na sua
ginga futebolística, como António Medeiros, Joaquim Meirim, Manuel de Oliveira,
de cujos ensinamentos José Mourinho fez uma síntese com o lado mais científico
do futebol para ser o melhor do mundo .
Por falar em
Mourinho, existe outro ponto interessante nesta entrevista, quando Manuel
Cajuda situa as suas origens e explica o seu discurso tantas vezes irónico e provocador.
Mais uma vez, discurso direto. "Sou duma
província que foi a última a ser ligada por autoestrada. Vim do nada. Para
conseguir ter imprensa para as minhas equipas tive de dizer asneiras bem
calculadas, sabendo de antemão que me sujeitava, caso as coisas não corressem
bem, a apanhar porrada". E por aqui não será difícil entender alguma
amargura – que atinge Cajuda e também atinge vários outros treinadores da sua
geração -, por perceber que a sua forma de estar no futebol abriu portas para o
que se vive hoje, mas essa herança não é compreendida, nem percebida, nem
aceite, por quem vive o mundo da bola nos nossos dias.
O futebol
não nasceu hoje, é o que efemérides como os 500 jogos de Manuel Cajuda nos
fazem lembrar. Refletir sobre o que este homem tem para nos ensinar é, ainda,
uma obrigação de quem quiser que as coisas sejam diferentes no futuro.
Sem duvida que por tantos anos de futebol merecia treinar um grande.
ResponderEliminarAinda me lembro do Jorge Jesus em equipas bem pequenas e nunca pensei que um dia fosse o treinador do Benfica.
Para que ir buscar quique flores,vercautern e sei la mais quantos enquanto temos por ca grandes raposas do futebol...