domingo, 17 de março de 2013

3 reflexões sobre a semana de Champions


|Francisco Pinho Sousa


Estranho Dragão fora do seu ninho

Acabou de forma inglória o trajecto europeu do FC Porto nesta temporada. Depois de uma exibição de luxo, no Dragão, perante um respeitável mas pouco experiente Málaga, a equipa de Vítor Pereira claudicou de forma clara no estádio La Rosaleda, na 2ª mão dos oitavos-de-final da Champions League. No entanto, já não é a primeira vez que os dragões quebram num jogo difícil fora de portas esta época. Aconteceu, por exemplo, em Braga, no jogo que eliminou o FC Porto da Taça ou em Paris, no jogo em que passaram para 2ºs do grupo da Liga milionária. Se olharmos para os 5 empates no campeonato, constatamos que 4 deles foram fora (Alvalade e Luz à cabeça). A única vez em que o FC Porto venceu um jogo realmente complicado fora foi em Braga, mas para o campeonato.


Visto o jogo com o Málaga, reflecti: porquê esta dificuldade, numa equipa que até já provou ser capaz de jogar futebol a um ritmo altíssimo e com uma qualidade a fazer lembrar o Barcelona? Trata-se sobretudo dum problema de escolhas/opções, aos quais se junta alguma indecisão e também azar (sim, já explico mais ao pormenor). As escolhas são tomadas pelo treinador. Usando como exemplo o jogo de Málaga, vimos como Vítor Pereira apostou em Defour no “onze”, deixando no banco 3 potenciais extremos. Quis ganhar o meio-campo, gerir a bola e ter maior segurança. Como se viu, não resultou e não foi só pela expulsão do belga.

Indecisão, porque como vimos neste encontro e, por exemplo, também em Alvalade, havia momentos em que não se entendia bem se o Porto queria ter bola para finalizar ou para pura gestão. Em Alvalade, os laterais subiram pouco e Defour ficou muito preso a Fernando. Se tivessem sido mais ousados, os dragões poderiam ter ganho o jogo. Assim como na Andaluzia. A equipa foi pouco incisiva e raramente encontrou espaços de penetração no último terço. Faltou rasgo (e a culpa não pode ser só assacada ao treinador…).

Por último, o azar. Antes da ida à Luz, lesão grave de James. Ainda assim a equipa entrou com estilo e não saiu nada chamuscada com o empate. Para Alvalade, não teve o relógio suíço João Moutinho, autêntico medidor de vivacidade e dinamismo do meio-campo. Neste jogo da Champions, perdeu Moutinho ao intervalo e não pôde ainda contar com o melhor James (apesar de já ter recuperado de lesão há praticamente um mês). Uma data de circunstâncias levou a que esta época se tornasse num risco de fiasco para o FC Porto. Resta lutar pelo título, sabendo, de antemão, que vão ter um Benfica desgastado mas ao mesmo tempo motivado pela frente…


Dimensão Busquets

Tem sido dos jogadores mais fascinantes de acompanhar esta época. Sobretudo pela sua enorme evolução no plano técnico-táctico. Falo de Sergio Busquets. Descrito de forma brilhante pelo jornalista hispano-escocês, John Carlin, como sendo o melhor jogador desconhecido do Mundo. O jogo contra o Milan foi uma compilação do melhor de Busquets em 2012/2013. Visão de jogo, capacidade de passe enorme, segurança defensiva, recuos posicionais estratégicos, pressão em zonas adiantadas, bolas roubadas e interceptadas, antecipação sobre os adversários (geralmente próximo da 2ª linha de meio-campo). Algumas das características evidenciadas por este soberbo jogador. Parece mover-se sob um lago de nenúfares, roubando bolas como se fosse um ladrão de cofres e distribuindo-as como se fosse o Robin Hood do jogo culé. Discreto, parece que aparece de surpresa, sem que o adversário esteja à espera. Faz tudo em modo “low-profile” mas não tenham dúvidas que é um dos elementos mais decisivos da máquina catalã. Quando ele falha, a máquina está automaticamente emperrada. Um génio silencioso, quase escondido, mas que vale a pena acompanhar ao pormenor. Confirmarão a minha ideia, certamente…


A obra do Imperador Terim

É difícil não gostar da figura simpática e bonacheirona de Fatih Terim. O técnico de 59 anos, que já passou, entre outros, pela Fiorentina ou AC Milan, é um adepto de um futebol positivo, sendo que o seu Galatasaray domina os encontros sempre que pode. Foi o que aconteceu, sobretudo no 1º tempo do jogo frente ao Schalke, na passada terça-feira, jogo esse que valeu o apuramento dos turcos para os quartos-de-final da Liga dos Campeões. Organizada na base em 4x2x3x1, a chave esteve na colocação mais interior de Altintop e Sneijder, passando a equipa a jogar numa espécie de 4x4x2 losango (Altintop a interior direito, Inan interior esquerdo, Melo como único pivot e Sneijder a “10”). A estratégia correu bem: o Galatasaray ganhou o meio-campo, com Inan a espalhar magia atrás, Altintop a ganhar imensas bolas e Sneijder a aparecer atrás da dupla Drogba-Yilmaz de forma mais influente. Nas laterais, Eboué e Riera eram autênticos pêndulos, sendo que tinham a ala livre para subir, por força da colocação mais interior de Altintop e Sneijder. Depois, era tentar lançar o rápido e forte Yilmaz em profundidade, sendo que Drogba era o homem que segurava a bola e lhe dava o apoio mais próximo. O Galatasaray chegou ao intervalo com excelente vantagem, fruto da meia-distância de Altintop e dum lance em profundidade para Yilmaz concretizar.

 Na 2ª parte, porém, tudo mudou. O Schalke ganhou o meio-campo, o Galatasaray acusou o desgaste e perdeu o domínio do jogo. Nessa altura tivemos uma avalanche alemã, avançando pelas alas com os rápidos Farfán e Michel Bastos e forçando à entrada da área, com a colocação mais adiantada de Hoger, quase junto à Draxler, aproveitado o espaço deixado pelo meio-campo recuado dos campeões turcos. O Schalke empatou, o Galatasaray fechou a porta, construindo uma barreira, que não sendo impenetrável, valeu pela solidariedade e pela maneira como todos se adaptaram às novas funções. Ironia das ironias, quando os alemães pareciam mais perto de ganhar, um contragolpe letal, lançado pelo genial Selçuk Inan (grande visão de jogo) e concluído por Bulut, deu o apuramento à equipa do Imperador de Adana. Imperador esse que exultou no banco, depois de ter visto que a sua estratégia até tinha sido bem sucedida. Sofreu na 2ª parte mas teve a recompensa. Segue-se o Real Madrid na próxima fase. Todos dizem que a eliminatória se acabará por resolver a favor da equipa de Mourinho. No entanto, estou curioso para voltar a ver o plano de Terim em acção. Pode surpreender muito boa gente…

Sem comentários:

Enviar um comentário