|Francisco Pinho Sousa
Estranho Dragão fora do seu ninho
Acabou de forma inglória o trajecto europeu do FC Porto
nesta temporada. Depois de uma exibição de luxo, no Dragão, perante um
respeitável mas pouco experiente Málaga, a equipa de Vítor Pereira claudicou de
forma clara no estádio La Rosaleda, na 2ª mão dos oitavos-de-final da Champions
League. No entanto, já não é a primeira vez que os dragões quebram num jogo difícil fora de portas esta época. Aconteceu,
por exemplo, em Braga, no jogo que eliminou o FC Porto da Taça ou em Paris, no
jogo em que passaram para 2ºs do grupo da Liga milionária. Se olharmos para os
5 empates no campeonato, constatamos que 4 deles foram fora (Alvalade e Luz à
cabeça). A única vez em que o FC Porto venceu um jogo realmente complicado fora
foi em Braga, mas para o campeonato.
Visto o jogo com o Málaga, reflecti: porquê esta
dificuldade, numa equipa que até já provou ser capaz de jogar futebol a um
ritmo altíssimo e com uma qualidade a fazer lembrar o Barcelona? Trata-se
sobretudo dum problema de escolhas/opções, aos quais se junta alguma indecisão
e também azar (sim, já explico mais ao pormenor). As escolhas são tomadas pelo
treinador. Usando como exemplo o jogo de Málaga, vimos como Vítor Pereira
apostou em Defour no “onze”, deixando no banco 3 potenciais extremos. Quis
ganhar o meio-campo, gerir a bola e ter maior segurança. Como se viu, não
resultou e não foi só pela expulsão do belga.
Indecisão, porque como vimos neste encontro e, por exemplo,
também em Alvalade, havia momentos em que não se entendia bem se o Porto queria
ter bola para finalizar ou para pura gestão. Em Alvalade, os laterais subiram
pouco e Defour ficou muito preso a Fernando. Se tivessem sido mais ousados, os
dragões poderiam ter ganho o jogo. Assim como na Andaluzia. A equipa foi pouco
incisiva e raramente encontrou espaços de penetração no último terço. Faltou
rasgo (e a culpa não pode ser só assacada ao treinador…).
Por último, o azar. Antes da ida à Luz, lesão grave de
James. Ainda assim a equipa entrou com estilo e não saiu nada chamuscada com o
empate. Para Alvalade, não teve o relógio
suíço João Moutinho, autêntico medidor de vivacidade e dinamismo do
meio-campo. Neste jogo da Champions, perdeu Moutinho ao intervalo e não pôde
ainda contar com o melhor James (apesar de já ter recuperado de lesão há
praticamente um mês). Uma data de circunstâncias levou a que esta época se
tornasse num risco de fiasco para o FC Porto. Resta lutar pelo título, sabendo,
de antemão, que vão ter um Benfica desgastado mas ao mesmo tempo motivado pela
frente…
Dimensão Busquets
Tem sido dos jogadores mais fascinantes de acompanhar esta
época. Sobretudo pela sua enorme evolução no plano técnico-táctico. Falo de
Sergio Busquets. Descrito de forma brilhante pelo jornalista hispano-escocês,
John Carlin, como sendo o melhor jogador
desconhecido do Mundo. O jogo contra o Milan foi uma compilação do melhor
de Busquets em 2012/2013. Visão de jogo, capacidade de passe enorme, segurança defensiva,
recuos posicionais estratégicos, pressão em zonas adiantadas, bolas roubadas e
interceptadas, antecipação sobre os adversários (geralmente próximo da 2ª linha
de meio-campo). Algumas das características evidenciadas por este soberbo
jogador. Parece mover-se sob um lago de nenúfares, roubando bolas como se fosse
um ladrão de cofres e distribuindo-as como se fosse o Robin Hood do jogo culé.
Discreto, parece que aparece de surpresa, sem que o adversário esteja à espera.
Faz tudo em modo “low-profile” mas não tenham dúvidas que é um dos elementos
mais decisivos da máquina catalã. Quando ele falha, a máquina está automaticamente
emperrada. Um génio silencioso, quase escondido, mas que vale a pena acompanhar
ao pormenor. Confirmarão a minha ideia, certamente…
A obra do Imperador Terim
É difícil não gostar da figura simpática e bonacheirona de
Fatih Terim. O técnico de 59 anos, que já passou, entre outros, pela Fiorentina
ou AC Milan, é um adepto de um futebol positivo, sendo que o seu Galatasaray
domina os encontros sempre que pode. Foi o que aconteceu, sobretudo no 1º tempo
do jogo frente ao Schalke, na passada terça-feira, jogo esse que valeu o
apuramento dos turcos para os quartos-de-final da Liga dos Campeões. Organizada
na base em 4x2x3x1, a chave esteve na colocação mais interior de Altintop e
Sneijder, passando a equipa a jogar numa espécie de 4x4x2 losango (Altintop a
interior direito, Inan interior esquerdo, Melo como único pivot e Sneijder a
“10”). A estratégia correu bem: o Galatasaray ganhou o meio-campo, com Inan a
espalhar magia atrás, Altintop a ganhar imensas bolas e Sneijder a aparecer
atrás da dupla Drogba-Yilmaz de forma mais influente. Nas laterais, Eboué e
Riera eram autênticos pêndulos, sendo que tinham a ala livre para subir, por
força da colocação mais interior de Altintop e Sneijder. Depois, era tentar
lançar o rápido e forte Yilmaz em profundidade, sendo que Drogba era o homem
que segurava a bola e lhe dava o apoio mais próximo. O Galatasaray chegou ao
intervalo com excelente vantagem, fruto da meia-distância de Altintop e dum
lance em profundidade para Yilmaz concretizar.
Na 2ª parte, porém,
tudo mudou. O Schalke ganhou o meio-campo, o Galatasaray acusou o desgaste e
perdeu o domínio do jogo. Nessa altura tivemos uma avalanche alemã, avançando
pelas alas com os rápidos Farfán e Michel Bastos e forçando à entrada da área,
com a colocação mais adiantada de Hoger, quase junto à Draxler, aproveitado o
espaço deixado pelo meio-campo recuado dos campeões turcos. O Schalke empatou,
o Galatasaray fechou a porta, construindo uma barreira, que não sendo
impenetrável, valeu pela solidariedade e pela maneira como todos se adaptaram
às novas funções. Ironia das ironias, quando os alemães pareciam mais perto de
ganhar, um contragolpe letal, lançado pelo genial Selçuk Inan (grande visão de
jogo) e concluído por Bulut, deu o apuramento à equipa do Imperador de Adana. Imperador
esse que exultou no banco, depois de ter visto que a sua estratégia até tinha
sido bem sucedida. Sofreu na 2ª parte mas teve a recompensa. Segue-se o Real
Madrid na próxima fase. Todos dizem que a eliminatória se acabará por resolver
a favor da equipa de Mourinho. No entanto, estou curioso para voltar a ver o
plano de Terim em acção. Pode surpreender muito boa gente…
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