|Francisco Pinho Sousa
Depois de ter conquistado a Bundesliga nas duas últimas
épocas sem, no entanto, acumular grandes participações europeias, o Borussia
Dortmund parece ter finalmente reencontrado o caminho do sucesso nas
competições da UEFA. Esta semana, bateu o Shakhtar Donetsk nos oitavos-de-final
da Liga dos Campeões (3-0). Isto depois de ter conseguido um meritório empate a
2 na difícil deslocação à Dombass Arena. Portanto, volvidos 16 anos, o Borussia
volta a estar nos “quartos” da maior competição europeia de clubes.
De facto, a temporada do BvB em termos europeus tem sido
excepcional, contrariamente ao que acontece na Bundesliga, onde já está a
largos 17 pontos do líder Bayern de Munique. Os schwarzgelben (pretos-e-amarelos) foram primeiros do “grupo da
morte” da Champions. Esse grupo continha históricos como o Real Madrid e o Ajax
e o milionário Manchester City. A equipa orientada por Jurgen Klopp conseguiu
14 pontos (4 vitória e 2 empates), sendo que os empates foram conquistados
precisamente nas deslocações mais complicadas (Madrid e Manchester).
Para a memória dessa fase de grupos ficam sobretudo os dois
jogos contra o Real Madrid de José Mourinho. No fundo, foram estes encontros
que mostraram à Europa o potencial futebolístico desta equipa. Como referia há
dias Jurgen Klopp, numa magnífica entrevista concedida ao El País, esses jogos
europeus valeram mais visibilidade do que os dois últimos títulos da
Bundesliga. Foram, na verdade, duas exibições extraordinárias. Primeiro em
Dortmund, no mítico Westfalenstadion. Gotze, Reus, Lewandowski, Hummels ou
Schmelzer brilharam numa noite em que o Borussia deu a bola ao Madrid e
explorou as transições de forma perfeita. Uma noite especial sobretudo para
esse trio mágico (Gotze-Reus-Lewandowski), que mostrou à Europa um cardápio de
bom futebol.
No entanto, a equipa não correspondia em termos de
campeonato. Ia perdendo pontos em jogos importantes, o que comprometeu a luta
pelo título. Duas semanas depois do jogo em casa, o BvB deslocou-se a Madrid.
No mítico Santiago Bernabéu estava a possibilidade de mostrar em grande estilo
o projecto de Jurgen Klopp. O plano quase correu na perfeição. Não fosse um
livre extraordinariamente cobrado por Mesut Ozil e o Borussia teria saído de
Madrid com uma vitória para a história. Deu empate (2-2). Ainda assim, foi uma
grande exibição. Gotze espalhou magia, asfixiou Xabi Alonso e ainda marcou um
golo. Lewandowski voltou a mostrar o porquê de ser um dos pontas-de-lança mais
cobiçados da Europa neste momento. Hummels deu a conhecer à afición merengue todo o seu potencial,
enquanto central de grande porte, forte no jogo aéreo, no desarme e elegante a
sair com bola. Não foram só estes que se destacaram, mas foram sobretudo eles...
Na passada terça-feira, voltei a rever essa maravilhosa
equipa que desfez adversários conceituados na fase de grupos. A vitória gorda
sobre o Shakhtar, além de ter colocado o Borussia Dortmund no restrito grupo
das 8 melhores equipas europeias, teve o condão de entusiasmar de novo o
fervoroso público do Westfalen. A
exibição, misto de pragmatismo e talento, foi das mais bem conseguidas da
época. Sem Hummels (o que poderia provocar alguns sustos…) mas com Gotze, Reus
ou Lewandowski, quem se destacou mais, para mim, foi o jovem internacional
alemão, de origem turca, Ilkay Gundogan. A dimensão na equipa deste jovem de 22
anos, nascido em Gelsenkirchen, começa a ser cada vez maior. Impressionante
como lidera o meio-campo, equilibrando a equipa com Bender e distribuindo jogo
com o seu prodigioso pé direito. Um craque em potência a crescer às mãos de um
mestre no desenvolvimento de jovens (Jurgen Klopp).
No entanto, não foi só Gundogan que esteve em destaque.
Blaszczykowski, médio-ala, mostrou novamente toda a sua fibra e utilidade. Não
é um jogador talentoso como Gotze ou Reus, mas tem essa velocidade e capacidade
de cruzamento que é sempre essencial. Felipe Santana também brilhou, na área
contrária, com um cabeceamento excepcional para golo. E como sempre, tivemos um
Gotze ao mais alto nível. Incrível a dimensão deste prodígio. Gotzinho, como lhe chamam alguns, dado
que dizem que ele tem futebol de brasileiro. Jogando a toda a largura na 2ª
linha, move-se com uma destreza incrível, inventando lances, desencantando
passes de ruptura magníficos e permutando na perfeição com os companheiros
dessa zona (nomeadamente Reus). Além disso tem a capacidade de chegar à área
contrária e finalizar. Dá gosto ver Gotze jogar. Dele podemos esperar sempre
algo, mesmo que o jogo não esteja a correr na perfeição.
Tudo isto só é possível graças ao trabalho de um génio, um
homem que foi capaz de conjugar as peças na perfeição e formou uma equipa,
jovem na génese, de autênticos campeões. Falo, claro está, de Jurgen Klopp. Um
treinador que gosta que a sua equipa tenha a bola, mas que não está sempre
obcecado com isso. Um treinador humilde e ao mesmo tempo ambicioso. Vencedor
mas dos bons, que nunca derrama pingo de arrogância e que até valoriza o
trabalho difícil de quem treina as equipas mais pequenas. Porque, no fundo, foi
assim que ele começou. Levando o Mainz da 2.Bundesliga até à 1.Bundesliga.
Mostrando serviço numa equipa pequena chegou a este nível de excelência.
Digamos que este Borussia Dortmund é uma conjugação perfeita
de alegria, juventude, bom futebol e, ao mesmo tempo, algum rigor da boa escola
alemã. Destaco sobretudo a juventude, da equipa e do treinador. Trazem um toque
de magia inconfundível aos relvados alemães e europeus. Se são candidatos a
Wembley? A partir deste momento, tudo é possível. Deixem Klopp trabalhar,
Hummels parar, Gundogan/Gotze distribuir, Reus/Lewandowski finalizar, que
poderemos mesmo ter surpresa!
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