|Francisco Pinho Sousa
26 de Maio de 1996. Jogava-se a decisão da Liga no Vicente
Calderón. Uma vitória frente ao Albacete daria o título ao Atlético de Madrid.
No mês anterior, já haviam vencido a final da Taça, em Saragoça, contra o
Barcelona. Estavam, portanto, perante a possibilidade de fazer o chamado doblete. O estádio estava cheio que nem
um ovo, eufórico perante a possibilidade de festejar um título que já lhes
escapava desde 1977. Logo ao minuto 14 desse jogo, a conquista do troféu
ficaria definitivamente encaminhada. Pantic (herói da Taça) assiste um tal de
Diego Simeone para o primeiro golo desse encontro. O jogo acabaria com 2-0 no
marcador, resultado que permitiu ao Atleti
festejar o 9º título da Liga da sua história.
Pois bem, esse tal Diego Simeone é hoje, volvidos 17 anos, o
treinador de um Atlético de Madrid que tem uma capacidade de enamoramento muito
próxima da dessa magnífica equipa de 1996. Simeone ou El Cholo, como é conhecido no meio futebolístico, era um jogador
durão, implacável na marcação, um autêntico guerreiro e líder dentro das quatro
linhas. Como treinador, fora das quatro linhas, mostra o mesmo carácter e
capacidade de liderança de outrora. Ele é o líder de uma equipa de guerreiros,
uma equipa que mescla talento, virtuosismo e combatividade. Este Atlético de
Madrid é obra pura deste jovem treinador, que antes do ingresso no clube rojiblanco havia treinado 4 clubes na
Argentina (Racing, Estudiantes, River Plate e San Lorenzo) e o Catania em
Itália.
Esta semana, o clube da Ribeira de Manzanares garantiu a
passagem à final da Taça do Rei, após ter empatado 2-2 em Sevilha (tinha ganho
2-1 na 1ª mão). Um feito que pode ser aliado, naturalmente, à grande campanha
no campeonato, onde o Atlético tem mostrado uma incrível capacidade para lutar
com os dois melhores clubes do mundo da actualidade.
Como nesse mítico encontro frente ao Albacete em 1996,
também cedo o Atleti deixou a questão
praticamente arrumada nesta meia-final. Antes da meia hora, já Diego Costa e
Falcao haviam colocado a equipa madrilena em vantagem. Eles que, actualmente,
formam uma das duplas de ataque mais interessantes do futebol europeu. Juntam
combatividade, qualidade técnica, verticalidade e golo. Sobretudo, golo. São
eles os grandes abonos de família desta equipa. Diego e Falcao estão para este
Atlético como Kiko e Penev para o de 1996.
No entanto, o Atlético de Madrid tem muito mais que estes
dois jogadores. Defensivamente é uma equipa cada vez mais forte e agressiva, no
bom sentido. Houve anos em que o Atlético não evoluía porque comprometia a
defender. Desde que chegou Simeone, tem sido notória a progressão. À direita,
Juanfran, lateral muito ofensivo mas que defende com critério. Ao centro, Godín
e Miranda, dupla sólida, que nada fica a dever a Solózabal e Santi Denia (dupla
do glorioso ano de 1996). À esquerda, o consistente Filipe Luís, belo projecto
de lateral, defendendo com grande personalidade e garantindo apoios laterais em
situação de ataque.
No meio-campo, há um jogador praticamente imprescindível
para Simeone: Gabi. É o capitão de equipa, uma referência nas marcações a
meio-campo e na saída de bola. Digamos que tem algumas semelhanças com o
Simeone-jogador. Depois a seu lado podem jogar o português Tiago e o
internacional espanhol Mario Suárez. O que não varia mesmo é o médio-ala
esquerdo: Arda Turan. Compromisso, técnica, magia na ponta das botas. É um dos
elementos mais virtuosos desta equipa. É o Caminero desta equipa. Um dos
preferidos do Cholo Simeone. Vendo-o
jogar, percebe-se o porquê. Por último, do lado direito ou pelo meio, o canterano Koke, jogador de grande
qualidade ao nível do passe. Podem também jogar Adrián ou Raúl Garcia, mas Koke
tem sido, de longe, um dos mais utilizados.
Uma equipa inexcedível, onde todos jogam com muito coração.
Capazes de pegar na bola e assumir jogo e, ao mesmo tempo, capazes de sair em
velocidade, com bastante verticalidade, aproveitando as qualidades maiores dos
seus craques. Uma equipa que é no campo a fiel imagem do seu treinador.
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