segunda-feira, 12 de julho de 2010

Foi

Foi um grande Mundial de futebol. Com grandes equipas a dominar a competição, com grandes jogadores em afirmação, com jogos disputados e momentos trágicos. Foi um grande Mundial de futebol. Tivemos a sorte de ver Casillas, Puyol, Fábio Coentrão, Khedira, Schweinsteiger, Arevalo Rios, Thomas Muller, Xavi, Iniesta, Sneidjer, Robben, Klose, Villa, Forlán, Suarez. Muitos destes nomes e destes momentos serão recordados, daqui para a frente, milhares de vezes. Podemos dizer que os vimos em directo. Podemos dizer que os vivemos. Foi, sem dúvida, um grande Mundial de futebol.

Desculpas

Oiço os comentadores criticar a dureza de van Bommel e de Jong contra os médios-ofensivos espanhóis. Mas nem uma palavra sobre a impetuosidade de Puyol, Busquets e Capdevilla. Uma equipa que aposta no controlo de bola, na beleza da finta, tem sempre desculpa para que os seus jogadores menos habilidosos possam castigar os adversários. Quem aposta num jogo de linhas rectas, não.

Oportunidade

A Holanda poderia ter ganho este jogo se, numa das oportunidades flagrantes (duas para Robben, duas para Mathijsen), tivesse marcado golo. Poderia até ter goleado. Mas os deuses do futebol estiveram com a Espanha. Dizemos, agora, que temos um campeão justo. Mas o futebol nunca foi um campo de justiça. É apenas o terreno onde ganha que aproveita as oportunidades. Nada mais.

Espaço

Uma equipa que procura, durante 120 minutos, um espaço, acaba por encontrá-lo. Iniesta marcou o golo. A Espanha é a justa campeã.

domingo, 11 de julho de 2010

Oxalá

Oxalá que todos os últimos minutos venham a ter um livre à entrada da grande área. Para que o final seja grande, trágico, sentido. Oxalá que todos os últimos minutos se façam assim, com um remate à trave, ao lado ou na rede. Oxalá.

O futebol

Não esquecer, meus amigos, o futebol. O futebol sem qualquer outro objectivo que a parca honra. Um terceiro lugar que não salva nada (será que existem, sequer, medalhas?). Não esquecer, ainda assim, o futebol. As linhas direitas de uma Alemanha cheia de jovens que é preciso rever, muitas vezes, nos próximos anos. Os uruguaios cheios de raiva feliz e desespero concentrado. Sim, amigos e amigas, o futebol. Esse intervalo na vida, esse sossego filosófico. Não esquecer, não esquecer.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O escolhido

A Holanda e a Espanha são as melhores equipas, as equipas que são superiores nos jogos mais difíceis. Mas a Alemanha mostrou, quase sempre, um futebol mais limpo e directo, em procura do golo. E o Uruguai foi a equipa com mais raça deste Mundial. Desculpar-me-ão, então, aquilo que vos confesso: tenho mais vontade de ver o jogo do terceiro e quarto lugar do que a final deste mundial. É claro, verei os dois. Mas se tivesse que escolher um jogo para o próximo fim-de-semana, seria o Uruguai-Alemanha. Vai ser espectáculo.

Bênção e condenação

Digam o que disserem, a Alemanha começou a perder este jogo quando Thomas Muller ficou excluído do jogo. Um miúdo de vinte anos tem, neste momento, todo o jogo da equipa nas suas costas, já que ele é o primeiro avançado a defender, o médio que abre espaços para receber a bola, o homem que substitui todos os outros nas movimentações ofensivas da equipa. Sem ele, a Alemanha é uma equipa incompleta. Trochowski só defendeu, Kroos lutou para receber a bola mas não sabia o que fazer com ela. No banco, estava a terceira opção, Marin, que seria exclusivamente o homem das movimentações ofensivas. Ter um jogador como Muller é uma bênção, mas também uma condenação. Os alemães sabem-no melhor do que ninguém.

Espanha

O jogo começa e os espanhóis guardam a bola. Guardam a bola só para eles. Durante longos noventa minutos, o jogo passa-se sempre nos pés dos espanhóis. Que tentam passar e chutar por entre as pernas dos alemães. Ingloriamente, o jogo acaba por ser conquistado nos céus, onde um pequeno espanhol conquista a bola entre as torres alemãs. Abram alas, a Espanha está, pela primeira vez, na final do Mundial.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Holanda

Sim, sim, mas quem vai à final é a Holanda. A Holanda com o perfume de Robben e Sneijder. A Holanda com a elegância de van Persie. A Holanda com a aspereza certeira de van Bommel e de Jong (que falhou a meia-final, mas volta no jogo decisivo). A Holanda que sobrevive ao facto de ter uma defesa que entra em pânico sempre que tem que trocar a bola no seu meio-campo. Essa Holanda que, na segunda parte do desafio contra o Uruguai, apenas precisou de dez minutos a alta velocidade para conquistar uma vantagem de dois golos. A Holanda em quem nem os holandeses acreditavam. São eles que vão estar na final. Eles mesmos.

Galeano, outra vez

Um campeonato do mundo nem sempre trata apenas de futebol. Como aqueles que estiveram indecisos sobre quem apoiar, até ao momento em que se lembraram que Eduardo Galeano é o mais conhecido fanático por futebol do Uruguai. A partir desse momento, não restaram quaisquer dúvidas.

Poesia em campo

Estava já o jogo em tempo de descontos, quando Luís Freitas Lobo, a comentar para o canal 1 da RTP, diz esta frase: "estão três milhões e meio de uruguaios a tentar entrar na área da Holanda". E as faces que já choravam a derrota, alegraram-se com a presença da poesia.

Uruguaios

Somos todos uruguaios. Todos nós admiramos a raça e a capacidade de nunca desistir da equipa azul-celeste. Somos todos uruguaios. Todos queremos ter uma equipa que luta como nenhuma outra pela vitória. Todos queremos um Rios incansável a correr no meio-campo, um Forlán a fazer brilhar cada bola que lhe passa pelos pés, um Suárez que sonha o impossível. Somos todos uruguaios. Somos sim.

domingo, 4 de julho de 2010

Razão e emoção

Épico, um jogo de quartos-de-final onde num intervalo de cinco minutos existem duas grandes penalidades falhadas, uma para cada lado. Épico, um jogo que se disputa, quase exclusivamente, entre as ideias dos seus treinadores, Vicente del Bosque na linha do que tem sido o futebol da Espanha/Barcelona nos últimos anos, Gerardo Martino a colocar em campo a nova tendência sul-americana de pressão a campo inteiro, misturando o que é um jogo irrespirável para o adversário e uma constante aposta na velocidade e no contra-ataque. Épico, ainda, na forma como a Espanha obtém o seu golo, criando um espaço que não tinha aparecido na defesa adversária e vendo a bola beijar as redes depois de três toques nos postes. Épico, também, nas lágrimas revoltadas de Cardoso, no fim do jogo. Razão e emoção conjugadas no encontro entre Espanha e Paraguai. Jogos em que acabamos por aprender, imenso, sobre a nossa própria vida.

Geração Alemanha

Confesso que não era grande admirador de Joachim Low. Nas suas equipas, apesar de haver uma ideia de futebol que parecia em construção, havia sempre um momento em que essa ideia esbarrava nos jogadores. Não deixa, no entanto, de ser um momento de felicidade quando uma ideia encontra uma geração de jogadores capazes de a colocar em campo. Com uma defesa com toda a segurança tradicional dos alemães, Low baseia o seu jogo no duplo-volante Khedira (mais defensivo) e Schweinsteiger (mais criador), a partir do qual uma linha com Muller, Ozil e Podolski espalha velocidade e perfume, chegando ao ponto de fazer com que Klose me pareça, finalmente, um bom ponta-de-lança, capaz de trocar posição e desequilibrar a defensiva adversária. Temi, no início do campeonato, por esta equipa onde a juventude impera. Mas esqueci-me de que são alemães. Alemães felizes e contentes de jogar um futebol disciplinado e inspirado, coerente e ofensivo, romântico na forma de procurar espaços e concreto no momento da finalização. Que grande equipa, esta Alemanha. Que grande equipa.

Equipa contra Deus

Maradona voltará para casa vergado sob o peso de uma inequívoca derrota. Na selecção argentina, não falhou nada daquilo em que Maradona sempre apostou. A diferença, neste jogo, foi ter que defrontar uma equipa, uma verdadeira equipa. E isso, já se desconfiava, é demais até para um deus como Diego Armando Maradona.

sábado, 3 de julho de 2010

Momento

Um grande jogo de campeonato do mundo é aquele que reserva um momento que ficará para sempre na história. O Uruguai-Gana será um desses jogos. Minuto 120, exactamente o último do prolongamento. A equipa ganesa tenta desesperadamente o golo, conseguindo, no meio de vários ressaltos, fazer com que a bola se direccione para a baliza. Aí, Luís Suarez, atacante em funções defensivas, atira as duas mãos à bola, evitando a eliminação automática do Uruguai. penalti. Gyan, marcador habitual das penalidades ganesas, falha o penalti e o Gana acaba por ser eliminado no desempate por grandes penalidades. Momentos de emoção extrema como estes são desejados por todos os adeptos no mundo (excepto por aqueles que seguem as equipas que estão em jogo). Momentos de emoção extrema como estes nunca são esquecidos.

Controlo de qualidade

Até o melhor fruto pode ser atacado pelo bicho. Os holandeses acreditaram nisso até ao fim, encontrando nas fragilidades do Brasil a chave para as meias-finais. O controlo da qualidade do adversário é uma das melhores formas de conquistar vitórias no campo de futebol.

Boas e más ideias

Dunga, infelizmente para todos os brasileiros, é mais um claro exemplo de que, no futebol, as boas e as más ideias convivem, muitas vezes, nas mesmas opções. Com a mesma estrutura em campo, o Brasil foi, na primeira parte, um espremedor de laranjas que, na segunda parte, acabou espremido contra a sua linha de fundo, incapaz de responder aos ataques dos holandeses, sem soluções para mudar o rumo dos acontecimentos. Pensar, no entanto, que o Brasil será dos países do mundo onde o universo de escolha é maior, leva-nos a pensar se mesmo as melhores ideias não precisam de opções seguras no banco. Não haver extremos velozes, um segundo organizador de jogo, mais um ponta-de-lança com capacidade de movimentação entre centrais é, mesmo, um pecado para o qual Dunga não encontrará absolvição.

Chamar Copperfield

Maradona introduziu uma nova expressão no futebol mundial: "chamar Copperfield". Ficará essa expressão para a eternidade qualificando treinadores que não sabem o que indicar para dentro do relvado. Quando a equipa estiver numa situação difícil e algum dos jogadores pedir indicações para mudar as coisas, o treinador poderá invocar a cláusula "chamar Copperfield", responsabilizando, assim, o jogador daquilo que se seguir.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Eu e os outros

Eu também sei citar gajos que escrevem em inglês. Bill Simmons e uma excelente visão do campeonato do mundo visto na América.

É bom

O bom de um Mundial de futebol é estar sempre a voltar aos lugares onde fomos felizes. Seja um jogo da Coreia do Sul, um golo do Japão, uma equipa africana a avançar nas diversas rondas do campeonato. O mesmo bom de um Mundial de futebol é o facto de não guardarmos mágoas nesse regresso, cada oitavos ou quartos de final é também, sempre, um lugar novo, onde outras equipas e outros jogadores nos marcarão o dia para sempre no calendário da memória. É isso que é bom.

Saber do assunto

Maneiras diferentes de ver o jogo levam-nos a tirar conclusões diferentes do que se passa em campo. Ao ver a transmissão televisiva do jogo Portugal-Espanha, temos a sensação de que os três jogadores na frente de ataque portuguesa estiveram sempre distraídos e afastados do jogo. Mas, vendo parte do jogo através da câmara que seguiu Cristiano Ronaldo, vemos o jogador a dar indicações aos seus colegas, a pedir ao treinador para alterar a forma de jogar da selecção, a lutar por bolas que insistiam em fugir-lhe dos pés. São jogos diferentes. Um deles, onde está a bola, a sugerir-nos um problema dos jogadores. Outro, onde a bola não está, a mostrar-nos que o problema é outro, é um problema de estrutura. Chegar aqui para dizer que quem defende Queirós pela sua importância na estrutura do futebol português esquece que, na maior parte do tempo, a estrutura do futebol se joga em campo. Podemos organizar selecções, chamar treinadores, incentivar esta ou aquela alteração no quadro competitivo das equipas de formação. Mas manter uma estrutura com onze atletas num rectângulo de relva, é coisa para quem sabe do assunto. É isso que esperamos. Que quem saiba do assunto apareça.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Um pouco tristes"

Um dos deputados da assembleia nacional francesa classificou as declarações de Domenech, perante os deputados, como "um pouco tristes". É sempre assim, quando se tenta explicar uma derrota. Dificilmente nos vale alguma coisa ter razão depois do tempo, defender decisões que não correram bem, culpar outros que não nós próprios. Parecemos e ficamos "um pouco tristes". Sem nada o que dizer.

O que falta

Sobram agora oito equipas na disputa deste Mundial.
As primeiras a entrar em campo para os quartos-de-final serão Brasil e Holanda. É um jogo de sonho para os admiradores deste desporto, um jogo que, normalmente, cai para o lado dos brasileiros. Este ano, os holandeses voltam a apresentar um meio-campo cheio de estrelas, que embaterá violentamente na betonada defesa brasileira. A tradição será, provavelmente, mais forte. Mas a curiosidade e a expectativa são altas.
Depois, Gana e Uruguai, duas surpresas para esta fase da prova. Ambas as equipas tentarão chegar a uma inesperada meia-final. São duas equipas que se esforçam por não cometer erros, que aproveitam bem os deslizes adversários, que sonham com o impossível. Quem errar acabará pelo caminho. Espera-se um jogo de prudência.
No sábado, Alemanha e Argentina disputam o que é mais um encontro histórico de mundiais. A Argentina alicerça-se na união de um grupo à volta de um ídolo (santo Maradona), a Alemanha tem a força e a rebeldia de uma juventude que se sente fadada para o sucesso. Deste jogo sairá o mais forte candidato à conquista do título, ajudado pela confiança de bater um outro forte candidato.
Para finalizar esta fase, um Espanha-Paraguai que todos esperam que seja um passeio no parque para os espanhóis. Ao Paraguai caberá desfrutar desta presença em tão adiantada fase da competição, tentando não cometer erros e apostando na velocidade e ferocidade da sua frente atacante. Se isso chegará para fazer mossa aos espanhóis, é coisa que esperaremos para ver. A bola vai voltar a rolar. 

Contas

Nesta casa, não temos dúvidas quando estamos perante grandes senhorEs do futebol. E um desses senhores é José Mourinho. O homem que agora é treinador do Real Madrid, no dia em que um coro de vozes veio a terreiro acusar Cristiano Ronaldo disto e daquilo, resumiu o próximo ano numa frase muito simples:  "não deixarei que ninguém coloque sobre ele toda a responsabilidade de uma equipa". Os dados estão lançados para termos o melhor Ronaldo muito em breve. Mas será bom não esquecer uma coisa:  com Fernando Santos, com Fergunson, com Scolari, com Pellegrini, Cristiano Ronaldo foi sempre dos jogadores mais produtivos da sua equipa, tendo por isso recebido ganho inúmeros títulos e recebido imensos prémios. Com Carlos Queirós, Cristiano Ronaldo é uma sombra. Acho que é muito simples fazer esta conta.