quarta-feira, 30 de junho de 2010

Caça às bruxas

Era dado adquirido: no dia em que Portugal fosse eliminado, começaria a análise ao que correu menos bem nesta campanha africana. Vai ser preciso saber o que aconteceu com Nani, com Deco, com Cristiano Ronaldo. Todos eles, a quente, tiveram reacções que colocam em causa o treinador e a estrutura da federação (também me pareceu que o Hugo Almeida o fez, nas declarações no final do jogo, mas de uma forma mais diplomática). Todos eles, passado o momento da declaração, sentiram a necessidade de comunicar aos média que, afinal, não queriam dizer aquilo que tinham dito. Mas a verdade é que disseram, destapando, assim, o que parece ser um caso mal explicado no seio da nossa selecção. Era dado adquirido: a partir de hoje, começou a caça às bruxas. Teremos, até Setembro, tempo para perceber o que muda (ou não muda) na selecção.

Eduardo

Os grandes jogadores são assim: ultrapassam competições a jogar sempre a alto nível, sobressaem nos jogos mais difíceis, são seguros, confiantes, combativos, não deixam nunca de incentivar e/ou criticar os colegas, saem a chorar, quando perdem. Os grandes jogadores são como o Eduardo foi neste Mundial. Inesperadamente. Felizmente.

Opções

O que pode parecer uma boa opção, no início do jogo, arrisca a tornar-se uma péssima opção, consoante esse jogo decorra. Essa é, talvez, a grande condenação do futebol àqueles que jogam para não perder. Montar um esquema defensivo é, sempre, arriscar tudo numa jogada só. Montar um esquema defensivo sem um plano b que  possa transformar a equipa numa estrutura ofensiva capaz de alterar um resultado, é suicídio. Ontem, Carlos Queirós escolheu ajoelhar-se perante o inevitável. O inevitável na sua visão do futebol. Voltou a colocar jogadores fora das suas posições, manteve (durante 90 minutos) o meio-campo em inferioridade numérica perante o adversário, recorreu à táctica condenada ao falhanço de esperar que Ronaldo resolvesse o jogo. Escolher bem é sempre o mais difícil, numa competição. Escolher bem a meio do jogo, é essencial para se ser um grande treinador. Carlos Queirós demonstra, há 17 anos, que isso é coisa que ele não sabe fazer.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Venha ele

Chove na Cidade do Cabo. Em Portugal, brilha o sol, uma leve brisa toma as ruas, fazendo ondular bandeiras e cachecóis pendurados nas varandas. Faltam três horas para o primeiro duelo ibérico de sempre num Campeonato do Mundo. Quer Portugal, quer Espanha, já foram equipas onde brilharam intensas gerações. Mas nenhuma delas cresceu como as actuais equipas de cada país. Portugal com uma equipa plena de jogadores que, desde muito novos, sabem que vão ser craques de grandes equipas mundiais (por Inglaterra, Espanha, Itália...), Espanha com uma equipa que cresceu a ver o seu campeonato tornar-se no mais mediático do mundo, certos de que o seu futuro seria feito de derbies entre Barcelona e Real Madrid à escala mundial.
Chove na Cidade do Cabo. Os jogadores que vão entrar em campo já se defrontaram centenas de vezes, em competições de selecções (desde os quinze ou dezasseis anos), em competições de clubes (sejam nacionais ou internacionais, mais do que uma vez por ano). De cada lado, a responsabilidade de ganhar o jogo. A possibilidade de, com uma vitória, se estender uma passadeira até ao topo das maiores equipas do mundo, um lugar onde a Espanha nunca chegou, um lugar que Portugal já espreitou por duas vezes, sem o conseguir agarrar. De cada lado, a responsabilidade de ser considerado o melhor.
Chove na Cidade do Cabo. Em Portugal, brilha o sol. As pessoas andam na rua como se esquecessem, saem apressadas dos empregos, ultimam as compras, telefonam a amigos para confirmar que todos se vão juntar a ver o jogo. Em Espanha, imagino, acontece exactamente o mesmo. Em certos dias, devíamos ter a capacidade de acelerar o relógio para que o grande momento em que duas equipas entram em campo chegasse mais depressa. No fundo, acordámos todos a pensar nisso: no Portugal - Espanha de logo à noite. Tudo o que aconteceu valeu pouco em comparação com o que se irá passar durante o jogo. Morreram pessoas, namorados zangaram-se, ocorreram acidentes, boas e más notícias, tudo confundido na memória futura de cada um com os noventa (ou mais) minutos de um jogo de futebol.
Venha ele.

Vai para casa

Se houve uma equipa que jogou sem precauções, foi o Chile. Encantou-me com a sua entrega em campo, com o seu futebol a andar para  a frente. Mas não se pode jogar assim contra um Brasil, cínico, mas ainda um Brasil. Três a zero é um resultado pesado, mas quem viu o jogo só se espanta por não ter sido ainda maior a diferença. Acabou-se a festa para Bielsa, mas este Chile fica como uma das equipas que faz a resistência ao jogar para o resultado. Por muito bom que isso seja, vai para casa cedo.

Devagar para ir longe

Um Mundial de futebol vence-se com precauções. Não é uma coisa bonita de se pensar, não é com gosto que digo isso. Mas é uma realidade. Aliás, quase todas as competições futebolísticas se vencem com precauções. Sei disso desde 1993/94, quando o Tirsense ganhou a Liga de Honra com uma táctica de nove defesas. Quando se assiste a um jogo da Holanda, não se espera que até eles pensem que o melhor é chegar à próxima fase com vagar. Mas sim, a Holanda também já entendeu. Um jogo ganha-se marcando golos e fazendo tudo para evitar sofrer. Não é com gosto que digo isto. Mas parece-me que é mesmo esta a verdade.

Uma questão de horários

Cada Mundial obriga-nos a criar todo um programa de conjugação entre a nossa vida e os horários dos jogos de futebol. Ora se vivem Mundiais que se prolongam pela noite dentro (como nos EUA), que nos obrigam a levantar a horas impróprias da cama (como o da Coreia/Japão) ou então aqueles Mundiais que nos fazem ter que fintar uma série de obrigações profissionais para não perder os jogos (é o caso do Mundial que agora decorre, como foi o caso do Mundial da Alemanha). Das várias hipóteses, a que guardo, até agora, como mais difícil foi a dos EUA. Jogos que começam à meia-noite, duas ou três da manhã, fazem com que o sono (e algumas vezes o peso de uma saída à noite) lute furiosamente contra a nossa capacidade de dispensar atenção a um jogo de futebol. Já lembrei aqui longas lutas contra o sofá para resistir à final do Mundial de 94, mas dos jogos mais complicados de acompanhar, para mim, foi um Argentina-Portugal, nos Jogos Olímpicos de 96, quando, com alguns amigos e uma garrafa de gold strike, a cada minuto que passava mais complicado era discernir entre o que era jogador português, jogador argentino e relvado. Incrível, como ficou memória disso.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ficar alerta

Em Janeiro de 2011, a Coreia do Norte voltará a participar numa competição internacional de futebol, a Taça das Nações Asiáticas. Quantos jogadores e treinadores dos presentes neste Mundial estarão nessa competição? Segundo as notícias, o melhor mesmo é ficar alerta.

Obrigado Alemanha

Senhores e senhoras, a Alemanha. Depois de no início do campeonato, o bonito futebol germânico ter cilindrado uma equipa menor, chegou agora a vez de dizimar um presumível candidato ao título. Os alemães foram sempre mais em campo, estiveram mais vezes nos lugares certos, dispuseram de uma alegria que enfureceu os ingleses momento a momento. Esta Alemanha é a selecção que se apresenta mais equilibrada nesta fase do campeonato. E daqui a uns dias, defrontará a Argentina, outra equipa que tem na alegria uma das suas características principais. Futebol e golos, são aquilo que se espera. Mas, por agora, obrigado, Alemanha, por nos fazeres felizes a ver futebol.

Maradona

Na equipa argentina, com tantos craques juntos, a táctica não será um factor mais importante do que a união do grupo. E é por isso que Maradona é o improvável treinador de sucesso nesta selecção. Não só na energia que coloca em jogo, com a sua acção irrequieta na linha lateral durante os noventa minutos, mas também em pequenos gestos, como o beijo a todos os jogadores, no túnel de acesso aos relvados, momentos antes da entrada em campo.

O árbitro

Parece que os árbitros decidiram começar a dar nas vistas. Hoje, um golo claro que ficou por sancionar, no Alemanha-Inglaterra, e um golo em fora-de-jogo a contar para o marcador. Em ambos os casos, pior do que ser ou não golo, é o efeito que a decisão do árbitro tem na equipa. Os ingleses ficaram privados da força mental que o empate ao intervalo lhes traria, os mexicanos perderam-se, até porque, pelo que deram a entender as imagens, a repetição da jogada foi exibida no estádio.
Quanto mais depressa se optar pela utilização das imagens televisivas nas decisões de jogo (sobretudo nas jogadas de golo), melhor será para o futebol. Até porque, em ambos os casos, se a decisão errada entra nos anais da história, a decisão certa teria permitido mais espectáculo durante o jogo. E acho que seria nisso que os senhores da FIFA deveriam pensar.

domingo, 27 de junho de 2010

Apontamento

Não deixo de me espantar com aquelas pessoas que consideram que o futebol é uma ciência matemática. Vêem os jogos como se fosse um filme previamente dirigido, acreditam nas opções de treinadores e jogadores como as únicas possíveis, não pressentem a mínima possibilidade de irracionalidade num jogo que decorre à volta de uma bola que salta. Não deixo de me espantar porque, para esses, está reservado o lado mais triste do jogo. A previsibilidade. É por isso que não podem encontrar nenhuma piada na discussão do jogo, na previsão da possibilidade, na eventualidade do acontecimento se desenvolver de maneira diferente. Provavelmente, essas pessoas, olham dessa mesma forma para a vida. E cansam-se, diariamente, das fugas inevitáveis ao guião.

Gelo negro

Não consegui assistir a todo o jogo entre os EUA e o Gana. Mas do que pude ver, ambas as equipas mostraram, exactamente, aquilo que tinham prometido. Combatividade e luta pela vitória do lado dos EUA, físico e paciência, do lado dos ganeses. O Gana não é mesmo uma equipa nada africana na sua forma de jogar. Se conseguir manter essa frieza, será um forte candidato à meia-final, logo num ano em que não dispõe da sua figura principal. Tentem imaginar um Portugal sem Cristiano Ronaldo, uma Argentina sem Messi, uma Inglaterra sem Rooney. Os ganeses unem-se no colectivo para ganhar jogos. E continuam a ganhar.

Prova

Os oitavos-de-final são o momento em que cada equipa tem que provar as qualidades que apresentou na primeira fase. O Uruguai pareceu uma equipa mais nervosa do que até aqui tinha sido. O facto do jogo ser de eliminação directa poderá ter ajudado a tal. No entanto, mostrou também ser uma equipa que não perdoa nenhum deslize ao adversário e que tem jogadores que conseguem decidir sozinhos um jogo que se encontre complicado. Ou seja, o Uruguai, não enchendo a vista, cumpre e coloca-se como equipa capaz de chegar mesmo muito longe nesta competição. Venha o Gana.

sábado, 26 de junho de 2010

Grupo H: balanço

A Espanha foi a mais forte, mesmo que tenha perdido um jogo e acabado a fase de grupos a jogar para o lado, fintando o tempo. Têm uma defesa consistente, um meio-campo capaz de inventar tudo (apesar de ainda estar à procura da sua melhor velocidade), um ataque onde Villa promete fazer figura. Não é a equipa imbatível que se esperava que fosse - e aí talvez a del Bosque falte o carisma que Aragonés impunha aos seus jogadores. Mas é uma das equipas favoritas a fazer figura neste mundial, na esperança de matar, de vez, o fantasma que a persegue nesta competição.
O Chile é a equipa do futebol bonito, ou não fosse treinada por Marcelo Bielsa. Dá a sensação que, num dia em que todos os seus jogadores estejam num ponto óptimo de forma, serão imbatíveis. É um prazer ver a velocidade, a entrega e a qualidade que colocam em cada jogada, mesmo numa fase de grupos em que ser frio foi moda. Vão, aliás, defrontar uma das pedras de gelo do Mundial, o Brasil, no que promete ser um dos melhores jogos dos oitavos. Eu gostaria que Bielsa pudesse sonhar, pelo menos, mais uma semana.
A Suíça, que tão organizadamente beneficiou da sorte de poder derrotar a Espanha, não conseguiu, em 180 minutos, marcar um golo que lhe garantisse a passagem à fase seguinte. Como já disse aqui, o que serve para ganhar um jogo pode não servir para ganhar o seguinte, e o facto é que a táctica suíça que desmontou a Espanha, não soube o que fazer contra um Chile em rotação acelerada, nem contra umas Honduras que usou a expectativa contra a expectativa. Podiam, e deviam, ter vendido mais cara a eliminação neste Mundial.
As Honduras pareceu-me a equipa mais sem graça da competição. Conscientes da sua falta de argumentos, jogaram sempre para perder por poucos. Nenhum dos seus jogadores se destacou do colectivo, demasiado tomado pela nebulosidade da sua progressão em campo. Saem como entraram: sem história.

Grupo G: balanço

O Brasil venceu este grupo em serviços mínimos, pareceu sempre que não estavam dispostos a gastar energias a mais para passar esta fase. O seu futebol cinzento depende em demasia dos rasgos de jogadores como Kaká, Robinho e Luís Fabiano, mas também não será fácil que alguém ultrapasse a muralha defensiva da canarinha (mesmo que cometam vários deslizes por jogo...). Não se é campeão sem sorte, e o Brasil vai precisar dela para ganhar mais esta Copa. Mas, o que se viu nesta primeira fase, é que não haverá nenhuma equipa que poderá dizer que é muito melhor do que as outras.
Se me perguntarem se eu gostei do Portugal de Queirós, a minha resposta será simples e directa: não. Mas o que aconteceu foi algo que o próprio Queirós não acreditaria que acontecesse: Portugal anda com sorte. Jogando dois dos jogos em retenção e com um calculismo exagerado, Portugal empatou com os seus adversários directos, tendo-se ultrapassado a si própria na goleada que impôs à Coreia do Norte. Portugal tem em Eduardo, Raul Meireles e Fábio Coentrão três dos jogadores mais regulares deste Mundial e, como se sabe, tudo é possível com Cristiano Ronaldo em campo. Passa com justiça e sem sofrer golos: algo que poucos esperavam no início do campeonato.
A  Costa do Marfim foi uma equipa com cara de Eriksson: nem acima nem abaixo das suas expectativas. Não me lembro de, nos últimos dez anos, Eriksson ter sido capaz de surpreender seja quem for: joga certinho na defesa, nem sempre opta bem nas escolhas ofensivas que faz, tem dificuldade em ler o jogo do banco. Drogba sem medo fez falta, mas Gervinho não foi suficientemente explorado (e era o melhor jogador em condição física que a Costa do Marfim tinha no seu grupo). Não saem envergonhados, mas podiam ter lutado mais.
A Coreia do Norte sonhou contra o Brasil. Como se previa, eles iam dar tudo para surpreender no primeiro jogo, a partir daí seria difícil conseguir algum resultado positivo. Saem do Mundial como a pior defesa (com o dobro de golos sofridos da segunda pior defesa), sem que a sua estrela tenha marcado algum golo, sem que a sua disciplina tenha impressionado para além da primeira jornada. Foram a pior equipa deste Mundial e fazem-me acreditar que o devem a José Peseiro (só uma equipa treinada por ele poderia acabar eliminada por uns coreanos tão frágeis).

Grupo F: balanço

Poucas equipas neste mundial têm tantas e tão boas opções de ataque como o Paraguai. Valdés, Barrios, Santa Cruz e Cardoso permitem ao seu treinador uma rotação que mantém, sempre em alta, o nível qualitativo da equipa. Depois do empate contra a Itália, jogaram o suficiente para merecer o primeiro lugar. Jogam rápido e com sentido de oportunidade, têm jogadores experientes e parecem estar, no Mundial, num dos seus melhores momentos em termos físicos. Vão continuar a ser perigosos na segunda fase.
A Eslováquia é, para mim, a maior surpresa entre os apurados para os oitavos-de-final. Pareceram-me sempre muito nervosos e pouco experientes para disputar um Mundial. Acabaram por beneficiar da pior Itália que me lembro de ver em Mundiais, para além de terem feito um excelente último jogo. Jogar nos oitavos será um prémio para este jogadores, mesmo que seja muito pouco credível que consigam passar daí.
A Nova Zelândia é um grupo de heróis, como diz o seu primeiro-ministro. A mesma equipa que, há um ano, levou oito da Espanha na Taça das Confederações, sai do Mundial sem derrotas. Não se pode dizer que jogaram defensivamente, apenas colocaram em campo as poucas armas que detinham. Não ter perdido nenhum jogo é, talvez, o melhor incentivo que estes rapazes poderiam receber.
A Itália fica em último num grupo em que cinquenta por cento das equipas não tinham qualquer tradição em Mundiais. Foram vítimas das escolhas do seu treinador e do facto de acreditarem demasiado na ideia de que a Itália se safa sempre. Ficou provado que não basta pensar que se é melhor, é preciso mesmo demonstrá-lo. Este mundial não era o da Itália. Isso é mais do que óbvio.

Grupo E: balanço

A Holanda, que completou as qualificações só com vitórias, repete agora a gracinha na fase de grupos. Em nenhum jogo a vitória holandesa esteve em dúvida. Do meio-campo para a frente, têm alguns dos melhores jogadores da actualidade, apesar da forma física de Robben ser uma sombra na cabeça de todos os holandeses. Ficou, ainda assim, a faltar um embate contra uma equipa que atacasse o seu último reduto. Se passarem na prova defensiva, são, mesmo, um dos favoritos neste Mundial.
O Japão surpreendeu tudo e todos com a solidez das suas opções. Ganhou dois jogos contra adversários que estavam, à partida, acima do seu nível. Faz-me pensar que é importante olhar de outra forma para o seu campeonato, onde jogam a maioria destes jogadores. Vão continuar a parecer pequenos e frágeis perante qualquer adversário. Mas quem tem Honda, pode acreditar sempre numa vitória.
A Dinamarca foi vítima da sua própria sobranceria. Depois de uma excelente fase de grupos, entraram sempre em campo a pensar que o jogo estava ganho à partida. Isso deve ter custado mais ao seu treinador do que a qualquer adepto (ou muito me engano ou o Morten Olsen deve ter dado uns bons cascudos em todos os jogadores). Sai por demérito próprio, à espera de um dia em que consiga e jogar com disciplina outra vez.
Os Camarões estavam condenados à partida, quando Eto'o andou mais preocupado com as palavras dos analistas do que com os treinos da sua equipa. O facto de Paul le Guen não ter ainda percebido o que é ser treinador de uma selecção africana também não terá ajudado. Apesar da inegável qualidade, os Camarões precisam de se livrar dos egos na sua equipa, para voltar a ter sucesso. Mas isso é qualquer coisa que é mais fácil de pedir do que de conseguir.

Grupo D: balanço

A Alemanha sai por cima, mas já mostrou as suas fragilidades. No entanto, é das suas forças que temos que falar. Ozil é um jogador fora-de-série, que aparece em grande num Mundial de futebol quando pouco era conhecido fora do seu campeonato. Os alemães, apesar de muito jovens, são os alemães. E foi isso que mostraram em campo, quer quando defrontaram adversários retraídos (Austrália), quer quando tiveram que ganhar (Gana). Vão ter que crescer nos jogos a eliminar.
O Gana é a mais europeia das equipas africanas. Joga no erro do adversário e no físico dos seus jogadores. Essas duas armas valeram-lhe a qualificação, mas vão precisar de arriscar mais para vencer um jogo nos oitavos-de-final. E essa é a dúvida que o Gana me deixa (já foi assim na Taça das Nações Africanas): esperar para ganhar pode levar-nos longe, mas coloca-nos sempre perto de não ter mais o que esperar.
A Austrália foi a decepção da primeira jornada e acabou por ser esse resultado que os condenou à eliminação. Contra Gana e Sérvia, recuperaram a alegria do seu jogo, aplicando os princípios que tornam a equipa down under tão atraente de ver. Ainda assim, a inocência de alguns dos seus jogadores acabou por receber uma resposta implacável neste campeonato: sonha-se para lá chegar, mas não se ganha com sonhos.
A Sérvia é vítima da sua personalidade. Egocentrismo dramático, com queda para a tragédia. Perdem jogos por erros infantis, ganham à equipa favorita, perdem contra um adversário acessível quando estavam bem perto de se qualificar. Que boa seria a equipa sérvia se não fossem os sérvios.

Grupo B: balanço

Cada jogo da Argentina é uma promessa de espectáculo, seja pelo que acontece à bola nos pés de Messi, seja pelo facto de Maradona ser o treinador mais excêntrico deste Mundial, seja pela expectativa de erro do Demichelis. Como diz o outro maradona, enquanto os jogadores não seguirem as indicações do seu treinador, têm hipóteses de ganhar a toda a gente.
A Coreia do sul jogou prático, directo e limpo. Foi uma grande equipa contra a Grécia, um zero contra a Argentina, conseguiu os mínimos contra a Nigéria. Parece ter pouco corpo para enfrentar um jogo de mata-mata, mas a sua aposta é surpreender o adversário.
A Grécia colocou em campo aquilo que são os restos mortais da equipa campeã europeia de 2004. Não tanto pelos jogadores, mas pela mentalidade apresentada. O calendário não os favoreceu, mas também em momento algum fizeram por merecer a qualificação.
A Nigéria, que foi a equipa que mais frente fez à Argentina, cometeu erros crassos frente aos outros adversários (uma expulsão, um falhanço de baliza aberta). É, ainda assim, entre as equipas africanas eliminadas, aquela que parece melhor preparada para o futuro. Sendo que o seu futuro, não é agora.

Grupo C: balanço

Os EUA conquistaram este grupo no último minuto, mas podiam tê-lo conquistado com glória. Vítimas de erros de arbitragem em dois dos três jogos, os americanos mostraram que garra e fé são elementos essenciais para equipas que apostam em jogar no físico e em velocidade. Parecem ser daquelas equipas para quem tudo é possível, entre perder por muitos ou lutar por um lugar nas meias-finais. Um dos grandes culpados de tudo isto é o seu treinador, Bob Bradley, uma espécie de Jaime Pacheco em quem os calmantes fazem efeito. Está no meu top de treinadores.
A Inglaterra, como dizia ontem à noite Alexi Lalas, na Espn, vive na ilusão de que é uma grande equipa. Na verdade, ter alguns dos melhores do mundo não chega. A equipa entra sempre em campo em potencial desorganização, tendo lacunas graves na defesa e não apresentando um companheiro fiável para Rooney, na frente. Ter Capello, ainda assim, pode ser um bom trunfo para enfrentar os jogos a eliminar. Isto, se os jogadores lhe derem ouvidos.
A Eslovénia tentou ser o underdog do Mundial. Jogou sempre de uma forma muito dura, tentando depois com ataques rápidos resolver o jogo a seu favor. Ainda assim, o seu maior erro foi acreditar que a Argélia podia pontuar neste Mundial. Saem com a sensação de que podiam ter feito algo mais pela qualificação.
A Argélia e o seu treinador, um dos românticos do campeonato. Foram, claramente, uma equipa sem argumentos. Ainda assim, conseguem sair com alguns dos seus jogadores em alta, e felizes por só terem sofrido dois golos em três jogos. Faltou-lhes coragem para, usando um ponta-de-lança mais incisivo (Ghezal), tentar marcar um golo. Mas não saem envergonhados da competição.

Grupo A: balanço

É preciso ver o Uruguai jogar para acreditar naqueles rapazes - dentro da realidade sul-americana, parecem ser eles quem melhor conjuga uma forma de equilibrar sistema defensivo e ataque fantasioso. Na equipa uruguaia há também uma grande solidariedade entre todos os elementos em campo (o que é de estranhar, sendo um deles o Forlán) e foi, sem dúvida, um vencedor com mérito.
O México joga muito devagar, o que poderá ser positivo ao enfrentar adversários que sejam claramente favoritos (veja-se a França). Ainda assim, custa a crer que um guarda-redes como Óscar Pérez pode seguir para os oitavos.
Vão ser precisos muitos anos para que a África do Sul volte a sair de um Mundial com quatro pontos na fase de grupos. O empenho e a dedicação da equipa, liderada por dois/três jogadores de nível médio para um Mundial foram as armas que, ou muito me engano, eles não voltarão a conseguir usar fora de casa.
Quanto à França, pouco há a dizer para o que se viu dentro de campo. O facto do treinador estar fora de prazo não explica tudo. Pouco sobrará da vergonha que foi, para os franceses, este Mundial.

Bravo

Cláudio não foi bravo o suficiente. Com o Chile a tentar dominar a Espanha, o guarda-redes Bravo saiu aos pés de torres, mas acabou por entregar a bola a David Villa. Talvez poucos tentassem e acertassem um remate de primeira, a tanta distância da baliza. Mas é por isso que aquele homem se chama David Villa.

A culpa

A culpa é do guarda-redes, diz o avançado. Fala Bendtner, da Dinamarca. É sempre um bom exercício de democracia, culpar o colega da equipa, no momento da derrota. Talvez o faça dormir melhor. Não vai é ajudá-lo quando tiver que regressar a um estágio da selecção.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Forte mas fraco

O Portugal-Brasil passou de ser o jogo que mais prometia neste campeonato a ser mais um dos jogos aborrecidos deste campeonato. As duas equipas entraram em campo satisfeitas com o empate e com medo de perder. No entanto, este resultado acaba por ser melhor para os portugueses do que para os brasileiros. Porquê? Quando uma equipa entra em campo com Ricardo Costa, Duda e um Pepe em evidente baixa de forma, o empate é praticamente uma vitória. Valeu-nos ter o Eduardo a salvar duas vezes as nossas redes, para além do Brasil não ter também forçado em demasia o seu ataque. Para os brasileiros, ver a sua equipa a jogar para o lado contra um adversário mais frágil, é quase como espetar, consecutivamente, facas no seu coração. O Brasil não pode ser campeão do mundo a jogar assim e os brasileiros sabem disso. Portanto, o primeiro lugar é uma fraca recompensa pelo pouco que o Brasil jogou até aqui. Mas, como é costume dizer-se, só agora está a começar o Mundial.

Brincar com o fogo

A Itália foi para casa. Nenhuma Itália sem Pirlo devia ser autorizada a pisar um relvado. Nenhuma Itália sem um Baggio, um del Piero ou um jogador equivalente. Se não o têm, inventem-no depressa. A Itália que esteve neste Mundial foi uma equipa mal preparada e, contrariamente a grande parte da crítica, não me pareceu que estivesse envelhecida, pelo contrário, apareceu cheia de jogadores sem grande experiência internacional. Na verdade, quantos italianos jogam no Inter? E no Milan? e no Roma? O problema da Itália é o campeonato italiano (da mesma forma que os campeonatos locais são um problema para os ingleses e, logo veremos, se não serão também para os espanhóis). Um campeonato com muitos estrangeiros, eleva o ritmo do futebol local mas coloca os jogadores nacionais nas equipas mais pequenas. Logo, mais longe das provas de fogo. E quando chega o Mundial, esse jogadores acabam por se queimar.

Japão de 98

O Japão disputou o seu primeiro Mundial de futebol em 1998. Foi a evolução natural, depois de criada a liga profissional japonesa em 1993. Nesse ano de 98, o Japão era, no entanto, apenas uma equipa de bons rapazes. Três jogos, três derrotas, para uma equipa que parecia saída dos desenhos animados, cheia de kamikazes a correr em direcção à baliza adversária. Eu, que sempre gostei das equipas mais fracas dos Mundiais, gostei do Japão. Eles é que ainda não sabiam bem que o futebol se joga com soluções, não com ideias.

Japão de 2010

No entanto, o Japão de 2010, é outra coisa. Segurança na defesa, improviso sobre fórmula no ataque. Honda é um jogador de qualidade técnica fora do normal e aparece, como peixe na água, nesta táctica em que o jogador mais avançado recua em situação de ataque, lançando o pânico na defesa adversária. Para além disso, ontem o Japão estreou os golos de bola parada, com dois livres monumentais em direcção à baliza de Sorensen. No final, a arte de Honda a inventar o terceiro golo. Ninguém dava nada por este Japão, nem eu. Mas este Mundial não se joga do ponto-de-vista do futebol europeu. Nada mesmo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Escolher o adversário

Ozil marcou ontem um dos grandes golos do Mundial de futebol, com o bónus desse golo ter valido a qualificação dos alemães. Depois, nos últimos dez minutos, foi ver o Gana a levar a bola para o meio-campo adversário, mas sem forçar em demasia o golo do empate. A razão? Naquelas circunstâncias, parecia preferível o segundo lugar, evitando a Inglaterra nos oitavos-de-final, do que lutar pela vitória no grupo. É daqueles dilemas típicos de última jornada da primeira fase, tentar escolher o adversário. E só o jogo seguinte poderá dizer se a escolha foi, ou não, a certa.

Sistema Métrico Europeu

Ontem, Landon Donovan chorou na conferência de imprensa. Chorou de felicidade com o apuramento dos Estados Unidos. Donovan marcou, aos noventa e dois minutos, o golo do apuramento. Marcou e reservou mais um lugar na história do futebol norte-americano. Donovan tem agora 126 internacionalizações pela equipa americana, é reconhecido como o melhor jogador norte-americano de sempre, é uma das estrelas principais da liga americana. No entanto, não é possível ouvir-se falar de Donovan sem que toda a gente lembre que, na Europa, Landon nunca teve sucesso, nem no Bayer Leverkunsen, nem no Bayern Munique, nem no Everton. Como se toda a sua qualidade ficasse turva perante a incapacidade de vencer no futebol europeu. Ontem, Landon Donovan chorou na conferência de imprensa. Chorou porque, ao dizer que a sua equipa acreditou até ao fim, também estava a dizer que ele próprio acredita nas suas capacidades até ao fim. E que, apesar de tudo, ele é mesmo um grande jogador internacional, capaz de marcar um golo histórico que vale uma qualificação e um primeiro lugar no grupo. Por isso, da próxima vez que falarem de Landon Donovan, não se esqueçam. Os homens não se medem apenas pelo sistema métrico europeu.

A tragédia

A Sérvia é uma tragédia em si própria. Uma equipa com excelentes jogadores, capazes de ganhar jogos aos melhores do mundo e incapazes de conseguir um resultado previsível como seria vencer a Austrália. A Sérvia é uma tragédia em si própria. E agora vai ser uma tragédia para casa.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Comentário a pés juntos

Éric di Meco foi um dos grandes defesas-esquerdos do futebol europeu e um dos meus heróis futebolísticos da adolescência. Jogador do Olympique de Marseille, durante muito tempo o capitão da equipa, di Meco entrava para morrer em todos os jogos. Jogava com uma tal animosidade que acabava, algumas vezes, por se expulso. Era impossível ficar indiferente a um jogador que jogava com o coração nas mãos, sempre. Infelizmente, di Meco nunca jogou um Mundial. Mas qual não é a minha alegria a descobrir, no programa da M6, 100% foot, o Éric como comentador. Bastou ver uma edição para perceber que se trata do melhor programa sobre o Mundial disponível no Meo. Juntando uma série de comentadores sem problemas de meter o dedo na ferida, 100% foot tem em di Meco a sua figura principal. Ele não permite que os outros participantes andem com rodeios ou com pinças, a todos exige que falem sinceramente sobre o que se passa em campo. Depois, di Meco não tem piedade para nenhum jogador ou treinador. Sentado a comentar é tão duro e tão emotivo como era nos tempos de jogador. Éric di Meco é mesmo o maior.

Andrade e os gregos

No final do Argentina-Grécia telefono ao meu amigo João Andrade, actualmente em Madrid, para gozar o facto dos gregos terem sido eliminados. Fiel admirador dos princípios defensivos e lutadores dos gregos desde tempos imemoriais, Andrade deve ter sido o único português feliz com o resultado final do Euro 2004. Por isso (y por otras cositas más), não perco uma oportunidade para lhe lixar a cabeça. Sabendo das intenções, o tipo não me atendeu. Mas aqui fica. A Grécia entrou ontem em campo com um objectivo único no jogo: esperar que, no outro jogo do grupo, a Nigéria vencesse. Tão determinados estavam nesse objectivo que descuraram toda e qualquer tentativa de vencer a Argentina (e ontem, com as alterações promovidas por Maradona, tal teria sido possível). Seria, portanto, inaceitável que o crime compensasse. Não compensou. E ainda bem. O João Andrade vai ter, outra vez, que torcer por Portugal.

Ser Domenech

No final do França-África do Sul, Raymond Domenech tratou de sair do Mundial com a pior imagem possível. Carlos Alberto Parreira dirigiu-se até ele para o cumprimentar, o que Domenech recusou. Parreira ainda insistiu e Domenech pareceu tentar justificar-se, com a sua suposta grandiosidade moral, perante o antigo campeão do mundo. O que Domenech parece não querer compreender, é o facto de estar sozinho nessa sensação de ser melhor que os outros. Ele pegou numa equipa feita, foi à final do Mundial de 2006 às costas do Zidane e, depois disso, não fez um resultado positivo à frente da equipa francesa. Perante um péssimo balanço, Domenech deveria ter, pelo menos, mostrado que poderia ser um homenzinho. Mas preferiu ser Domenech.

África minha

Parece que a condição essencial para que uma equipa africana tenha sucesso num Mundial é a surpresa. Até agora, nenhuma equipa de quem se esperava solidez, conseguiu demonstrá-lo. Penso nisto ao ver as eliminações de Camarões, África do Sul e Nigéria. Veremos como se comportarão a Argélia, a Costa do Marfim e o Gana (pois, ou muito me engano, ou só esta última conseguirá passar a primeira fase). O que não ficará esquecido são os jogos de abertura que mostraram ao mundo surpresas africanas. Os Camarões dos irmãos Biyick no Itália 90 e o Senegal liderado por Bruno Metsu em 2002. O perfume africano com dedo europeu a consolidar esquemas defensivos sem descurar o contra-ataque felino. Todos os treinadores que conseguiram isso, tiveram algum sucesso com equipas africanas. A isso devemos ainda juntar o facto de em ambas as equipas não existir, à altura, uma grande estrela mundial. Curiosamente, o que se passa com o Gana este ano. Essien, lesionado, ficou em casa, Muntari, mesmo birrento, fica no banco. Surpresa, treinador europeu com uma visão harmonizada do jogo, estrelas fora. Fórmula de sucesso para as equipas africanas em mundiais.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Esquecer

E o que dizer de um grupo de homens que atravessa uma fase de qualificação dificílima, joga um play-off em que acaba apurado com a ajuda da "mão de deus", e quando finalmente chega ao campeonato, se desmorona? O que dizer de jogadores que revelam conversas internas da equipa na imprensa? O que dizer de jogadores que fazem greve aos treinos, jogadores em quem não se acredita que entre em campo com vontade de vencer? Por cada uma das estrelas francesas a fazer birra, existem milhões de rapazes e raparigas que dariam a vida para disputar um Mundial. Estar-se num ponto do mercado futebolístico em que esquecemos isso é, sem dúvida, um dos mais tristes lugares para se estar.

Sem brilho

E ontem a Espanha ganhou, mas não deixa de ser com alguma tristeza que se olha para o jogo da actual campeã europeia. Está tudo lá, como deveria estar, os passes curtos, a velocidade, Torres, Villa, Xavi e Fabregas, Piqué, Casillas e a esperança, mas falta a fúria, a fúria espanhola que ganhou tantos jogos e que, agora que chegou o Mundial, parece apagada, longe dos relvados, como se fossem todos os mesmos jogadores, mas já não lhes brilhasse o olhar.

Bonequinhos

Um Mundial de futebol é também um repositório de memórias impossíveis de qualificar. Como aquela que guardo de um qualquer dia do verão de 1986, em que na televisão passava um jogo da Argélia no México 86, mas toda a minha atenção estava no chão de um apartamento em Albufeira, onde decorria um fabuloso jogo de bonequinhos (daqueles dos bolos de aniversário) entre duas equipas das quais já não me lembro. O árbitro, sei-o, era eu.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ter razão

Diz ele que não é profeta, mas a verdade é que foi o Tiago Guillul quem disse que eram sete voltas para a muralha cair. Ficaram de lado as suas pretensões evangelizadoras e toda a gente pensou nos sete jogos até se sagrar campeão do mundo, coisa difícil ou impossível de alcançar. Agora a Coreia do Norte levou sete bem embrulhados e, mesmo que o Tiago não seja profeta, não deixa de ter sido o primeiro gajo a ter razão. e, aqui entre nós, isso é qualquer coisa que apreciamos. Ter razão.

Noventa minutos

As revoluções podiam durar noventa minutos. Esta manhã acordámos descrentes, cansados, a lamentar a segunda-feira, o trabalho, a crise, o trânsito, o Queirós. noventa minutos de futebol à hora de almoço, o país parado com um olho no prato e outro no televisor, e já ninguém anda na rua sem um sorriso. Ele é vuvuzela apitada no meio da estrada, temos dinheiro para mais uma cerveja, a segunda-feira é de sol, da crise ninguém se lembra, o trabalho que se lixe, temos o Queirós!, temos este momento. As revoluções podiam durar, muito bem, noventa minutos.

Desviar

Nunca ninguém gosta de ver um craque a ser expulso do campo. Muito menos quando acaba expulso por reagir a adversários violentos que o árbitro não sanciona. Mas não basta ser craque, é preciso ser esperto. Já com um amarelo, quando Keita correu em direcção a Kaká, este só tinha uma coisa a fazer: desviar-se. Em vez disso, preferiu ser o mau da fita, dando um encosto bem nos peitos do costa-marfinense. No entanto, nenhum craque sabe dar porrada com qualidade. Tem mais jeito com a bola. O Kaká quis mudar de função e acabou na rua. O  futebol é mesmo assim.

Sete

Passa por mim, na rua, o Venerando, e diz que este resultado merece um texto inspirado. É mesmo isso. Pouco antes do intervalo, perante as dificuldades em furar o muro coreano e a vantagem mínima, enviei a amigos a mensagem "o Raul Meireles é o nosso Cristiano Ronaldo". Era assim, a primeira parte confirmava os nossos receios, apesar de estarmos em vantagem. Para a segunda parte, a equipa entrou, finalmente, mais solta. Aqueles rapazes divertiram-se, foram para cima do adversário (que ia ficando cada vez mais moribundo com o passar do tempo) e marcaram. Marcaram que se fartaram. Ainda bem. Para destacar, o golo do Ronaldo. O homem tentou marcar chutando de longe, de perto, de cabeça, com os dois pés, a fintar toda a gente, e nada. Foi preciso que a bola lhe ressaltasse no pescoço, com ele sozinho em frente à baliza, para conseguir marcar o desejado golo. Na repetição, vê-se a sua expressão e a palavra que gritou quando o fez: "foda-se". Isso mesmo, sem espinhas. Ele está aí outra vez.

O árbitro dos portugueses

Stéphane Lannoy é um árbitro estranho. Durante o jogo de ontem, permitiu que a Costa do Marfim castigasse os jogadores brasileiros com entradas muito duras, parece ter visto o braço de Luís Fabiano na jogada do segundo golo mas validou-o na mesma, e acabou por expulsar Kaká com dois amarelos, pelo menos o segundo, pouco justificável. Stéphane Lannoy é mesmo um árbitro estranho. Tão estranho que parecia estar a fazer tudo aquilo que Portugal desejaria para o jogo de ontem. Agora, resta-nos fazer a nossa parte.

Perder os dois

1994 foi o Mundial das noitadas, sendo que, ironicamente, a que mais me custou foi a da final. A explicação possível era o facto de nem o Brasil de Parreira nem a Itália de Sacchi mereciam grande admiração da minha parte. Ainda assim, uma final de um Mundial é uma final para ser vista. Foi longa a espera até ao início do jogo, mais longa a espera pelo final. Tempo regulamentar, prolongamento e penaltis. No fim, vitória do Brasil com falhanço de Roberto Baggio. Não podiam perder os dois, infelizmente.

domingo, 20 de junho de 2010

Expulsar o impulsivo

Apesar dos vários cartões vermelhos mostrados neste Mundial, o primeiro jogador a ficar definitivamente afastado da competição é Nicolas Anelka. Anelka acabou expulso de um grupo por ter insultado um treinador que quase todos os jogadores colocam em causa. Foi expulso, a meu ver, por uma questão de linguagem. O jogador que crítica o treinador com ponderação e razão, medindo as palavras, fica. O jogador que, impulsivo, deita para fora a sua frustração, é expulso. Pensando nas coisas dentro destes moldes, fico a pensar se a expulsão de Anelka não terá sido a decisão errada. Mas, mais uma vez, é a decisão comum.

Frangos

Nos jogos de ontem, mais dois frangos para a festa deste Mundial. Primeiro, o japonês Kawashima errou o tempo do salto para a bola e acabou por empurrá-la para o fundo da baliza. Depois, o ganês Kingson a permitir que a bola lhe ressaltasse nas mãos para que Holman finalizasse. Nos dois casos, ao que me parece, total inocência para a bola. A meio da segunda jornada, já não dá para culpar ninguém que não o nervosismo normal de quem vê a terra do Mundial a fugir-lhes debaixo dos pés. Mas, para o almoço, há frangos!

Ouvir o cavalo

Talvez esta seja, mesmo, a época das estrelas, mas as estrelas que, com pés de barro, ficam nas mãos da pressão mediática que as rodeia. Deco, Rooney, Eto'o, Evra, Gallas, todos eles foram vítimas das suas acções tomadas a quente, sejam palavras, gestos, críticas a adeptos, treinadores ou jornalistas. Em todos os eles, o que falha não é o espírito de grupo, a liderança, a compreensão: falta-lhes, sobretudo, aquilo a que eles estão habituados, estruturas fortes que os protegem e defendem em todas as ocasiões. As federações de futebol, que muito evoluíram em meios e em recursos humanos nas últimas décadas, não acompanharam os clubes. Hoje em dia, os clubes são empresas que vêem os seus jogadores como activos imprescindíveis, e por isso os escutam e protegem. As federações, essas, olham os jogadores como cavalos de corrida. E ninguém, nessas condições, está preparado para ouvir o cavalo a falar.

O dilema de Kewell

Harry Kewell, aos vinte e cinco minutos do jogo Austrália-Gana, foi colocado perante o dilema do defesa no momento do penalti. A equipa australiana seguia na frente do marcador, Kewell estava sobre a linha da sua baliza no momento do remate do adversário, a bola dirigia-se para as redes e, na sua cabeça, o dilema: impedir o golo (fragilizando a equipa com uma mais que provável expulsão seguida de um penalti) ou permitir o golo (ficando em campo para ajudar na recuperação do resultado)? Todos os jogadores de futebol deveriam estudar, filosoficamente, estes momentos de jogo. Normalmente, os jogadores fazem a escolha óbvia, que, neste caso, é a escolha errada. A escolha óbvia de evitar um golo, aos vinte e cinco minutos de jogo, deixa em total fragilidade a sua própria equipa. Mas Harry Kewell, naquele momento, não é nem um jogador de futebol, nem um filósofo. É um homem. E nenhum homem conseguiria evitar lançar a mão à bola se se visse sobre a linha da sua baliza no momento do remate do adversário.

Encantamento na relva

O México 86 foi, sobretudo, uma iniciação ao encantamento dos Mundiais de futebol. Lembro-me perfeitamente da tarde de 10 de Junho de 1986. A imensa casa dos meus avós, Lúcia e Joaquim, eu sozinho na sala, sentado num dos mais confortáveis sofás da minha vida, a televisão ligada no Argentina-Bulgária. Nesse dia 10 de Junho, eu ainda não sabia quase nada do Maradona, nem das maravilhas argentinas. Também pouco sabia de tantos jogadores búlgaros que depois fizeram as delícias dos adeptos dos estádios portugueses, como o Mladenov e o Mihailov no Belenenses, o Petrov no Beira-Mar, mas, sobretudo, o Dragolov no meu Torreense, no único ano em que o vi na primeira divisão. Eu não sabia nada disso. Sabia, apenas, que aquele relvado, a atmosfera do Estádio Olímpico da Cidade do México, as duas equipas e a bola entre elas me tomavam de um tal encanto que era impossível descrever, aos sete anos, não fosse o caso do meu amigo Renato ter aparecido lá em casa, com o jogo televisivo a ser replicado, logo a seguir, no pequeno relvado do quintal da casa da minha avó.

sábado, 19 de junho de 2010

Sem ideias

Não é apenas o desespero, no entanto, o problema dos ingleses. A Inglaterra tem no seu onze titular pelo menos quatro jogadores que fariam parte de melhor equipa do mundo (Terry, Lampard, Gerard e Rooney). Mas conjuga esses jogadores com outros que, a meu ver, nunca poderiam fazer parte de uma equipa que lutasse por um título mundial (qualquer um dos guarda-redes, o experiente mas ultrapassado Carragher, todas as outras opções de ataque com nome de Heskey, Defoe ou Crouch). Ainda assim, até os maus jogadores podem servir as boas exibições, se colocados numa equipa com ideias certas. Mas não é esse o caso. A equipa inglesa joga sem qualquer ideia que não seja o facto de terem na equipa bons jogadores. Em campo, o resultado disso, é o um grande zero. Em 180 minutos, poucas jogadas de perigo criaram e o único golo marcado resulta de uma antecipação mais do que de um movimento de grupo. Pouco, muito pouco, para quem esperava uma Inglaterra afirmativa neste campeonato.

As cuecas do Miguel

9 de Julho de 1990. Não, esta não é data de jogo algum de futebol. É o morning after do Itália 90. Estou na varanda da casa de Santa Cruz e assobio aquela música do "O bom, o mau e o vilão", tema que servia de chamada entre mim e o Miguel Reis, o meu vizinho luso-alemão. O Miguel não aparecia, embora os estores do quarto dele estivessem já abertos. Estou na varanda da casa de Santa Cruz, como vos disse, a olhar a célebre névoa matinal do lugar, uma das boas razões para que nós nunca fossemos à praia de manhã. Nesse instante, a janela do quarto do Miguel abre-se, e umas cuecas brancas na ponta de uma vassoura são agitadas, ouvindo-se a voz do Miguel a cantar o "Deutschland Deutschland uber alles"... Sim, a Alemanha era campeã mundial.

O mesmo truque

Como sabem, não me canso de elogiar as equipas bem organizadas. A Argélia, depois do desaire da primeira jornada, apareceu agora contra a Inglaterra como uma dessas equipas que merecem destaque. No seu onze, tudo parecia fazer sentido. As trocas de bola em progressão, a rapidez dos jogadores das alas, a classe de Ziani, a luta dos seus avançados. Na verdade, a Argélia jogou contra a Inglaterra com os mesmos fundamentos que tinha jogado contra a Eslovénia. A diferença está toda no adversário. Enquanto os eslovenos jogaram na paciência e na retenção, enervando os argelinos e fazendo-os crer que não tinham espaço para avançar no terreno, os ingleses fizeram exactamente o contrário: estavam desesperados para mostrar serviço. E assim se vê que o mesmo truque não serve para todas as ocasiões. É preciso saber tomar as opções certas para que a organização, por muito boa que ela seja, tenha mesmo resultados.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O árbitro

E o primeiro árbitro a ter influência num resultado neste Mundial tem por nome Koman Coulibaly. O maliano prometeu desde o início uma actuação desastrada, mas foi nos últimos minutos que anulou um golo limpo da equipa dos Estados Unidos. Mais do que perderem os americanos, com esta decisão, ganham os ingleses, agora com caminho livre para chegarem ao primeiro lugar do grupo. Fica por saber se os ingleses são capazes de o conseguir por si próprios.

O improvável Blanco

Se há uma coisa que no futebol nunca consegue ser explicada é o facto de uma análise lógica e racional dos acontecimentos cair, por tantas vezes, em saco roto. Cuauhtémoc Blanco é, agora, um desses casos. Quando o vi entrar em campo contra a África do Sul, pensei o que levava alguém que foi, em tempos, um fantástico jogador, se arraste agora pelos relvados, aos trinta e sete anos e com uns quinze quilos a mais do seu peso ideal. No entanto, frente à França, recebi a resposta. Um passe de morte para Hernandez, logo após ter entrado em campo, fez o um a zero. E, mais tarde, na conversão de uma grande penalidade, Blanco tornou-se num dos poucos jogadores que pode dizer que marcou golos em três fases finais de Mundiais de futebol. A glória de fazer história. É sempre isso (aliado ao prazer) o que motiva até o jogador mais improvável a não recusar estar presente no Campeonato do Mundo.

O penalti eslavo

Stojkovic, guarda-redes sérvio do Sporting, defendeu hoje uma grande penalidade que bem pode valer a passagem da sua selecção aos oitavos-de-final do Mundial. No entanto, há vinte anos atrás, um outro guarda-redes eslavo ligado ao Sporting, defendeu um outro penalti que, não valendo de tanto à sua equipa, ficou na história dos Mundiais. falo, claro, de Tomislav Ivkovic. E porque ficou esse penalti de 30 de Junho de 1990 na história? Porque o seu marcador foi, nem mais nem menos, Diego Armando Maradona. A história entre Maradona e Ivkovic tinha tido um primeiro episódio num jogo da Taça Uefa entre o Sporting e o Nápoles, em que ambos apostaram a conversão de um penalti que Ivkovic viria a defender. Encontrando-se no Mundial a Jugoslávia e a Argentina, o desafio entre os dois prometia continuar. O jogo acabou com um zero a zero, seguido de um prolongamento também em branco. Desempate nos penaltis. Maradona foi o terceiro argentino a marcar. Quando se dirigiu para a marca, Ivkovic aproximou-se dele a sorrir e percebeu-se que havia aposta outra vez. Maradona partiu para a bola confiante, mas o remate saiu praticamente para o meio da baliza. Tomislav Ivkovic defendeu e festejou como se tivesse ganho. Mas, nesse dia, deus acabaria por ser argentino.

O primeiro golo

Para a maior parte dos países participantes neste Mundial, participar nestas competições é um hábito. Perante esse hábito, é muito mais difícil bater um recorde ou elaborar um momento histórico para o seu país. Mas para os gregos, depois de uma frustrante participação em 1994, havia um objectivo. Marcar o primeiro golo, ganhar o primeiro jogo. O encontro com a Nigéria não começou bem, mas aos quarenta e três minutos começou a desenhar-se a vitória da equipa azul e branca. Salpingidis remata à baliza, a bola ainda toca no nigeriano Haruna e entra na baliza. A imagem do festejo de Salpingidis, gritando bem forte com todos os músculos a sua alegria, mostrou-nos que, o que se tinha passado, era mais do que um golo. Era uma entrada na história, o primeiro golo grego no Mundial.

Comentadores

Não compreendo a falta de perícia da generalidade dos narradores dos jogos do Mundial na Sport tv. Pouco ou nada têm a dizer sobre os jogadores das várias selecções, repetem generalidades até à náusea, enganam-se na análise dos fora-de-jogo e das faltas, não têm noção das formas de desempate em cada grupo. Não compreendo porque algumas destas coisas são tão evidentes que é inacreditável como na Sport tv não encontram alguém que faça melhor e por um preço mais em conta a narração destes jogos. Não compreendo e nem acredito.
Em sentido contrário, realce para os dois grandes comentadores do Mundial, até agora. Luís Freitas Lobo (que parece ter visto todos os jogos de todos os campeonatos de todos os países do mundo esta época) e Paulo Bento (mostrando que uma coisa é querer dizer algumas coisas sobre a bola e outra coisa, totalmente diferente, é perceber mesmo de futebol). Dêem-me esses dois em todos os jogos e eu nem me importo que o jogo seja chato. Haverá algo interessante para ouvir sobre isso.

A lágrima nigeriana

Ver a Nigéria faz-me sempre lembrar o meu amigo Paulo Cipriano, talvez o português mais apaixonado por Okocha e companhia no Mundial de 98. Depois de uma primeira fase quase perfeita, com vitórias sobre a Espanha e a Bulgária, os nigerianos enfrentavam a Dinamarca nos oitavos-de-final. No dia 28 de Junho de 1998, eu e o Paulo Cipriano trabalhávamos num dos populares restaurantes da Feira de São Pedro, em Torres Vedras. Enquanto eu andava pela sala a recolher e a pôr mesas, o Paulo colaborava na cozinha, sendo ele responsável pela actualização do resultado através da emissão da RTP numa televisão em que a bola concorria com a sua própria sombra. Aos doze minutos, já os dinamarqueses tinham marcado dois golos, mas a esperança ainda brilhava nos olhos do Paulo. O problema foi que, na segunda parte, os dinamarqueses repetiram a graça, perante uma Nigéria que parecia ter, subitamente, desaparecido do campeonato. Sei que ficámos os dois tristes, em pé, na cozinha, em frente àquela pequena televisão, na noite de 28 de Junho de 1998. Sei isso e, desconfio, que pela face do Paulo Cipriano corria uma lágrima nigeriana.

O erro de Demichelis

Argentina em grande na segunda jornada do Mundial. O futebol bonito dos rapazes das pampas encontrou um adversário perfeito numa Coreia do Sul um pouco alheada do jogo para o qual partiu totalmente descrente. No entanto, numa vitória por quatro a um, aparece no um o problema azul-celeste. O erro de Demichelis é a fragilidade da argentina. Um rolo compressor ofensivo que lida mal com a pressão do adversário no seu meio-campo. Mas esse será um problema que os argentinos terão que enfrentar, seguramente, apenas na segunda fase da prova.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Perto da história

Jogar num Campeonato do Mundo é ter a oportunidade de transformar um qualquer momento de jogo em história universal do futebol. Ontem, dois jogadores devem ter sentido isso, essa proximidade do seus nomes elevados a deuses. Primeiro, Noel Valladares, guarda-redes das Honduras. Fez uma defesa impossível a responder a um cabeceamento de um avançado chileno, dentro da grande área. Seria um momento histórico, não fosse as Honduras já estarem a perder por 0-1 e, essa defesa, não ter valido qualquer ponto, qualquer festa. O outro, talvez o mais dramático, Eren Derdiyok. Com a Suiça em vantagem, Derdiyok avança em direcção à área espanhola, finta Capdevilla, finta Puyol, atira com o improvável pé direito sobre a perna de Iker Casillas e a bola embate no poste, por aí morrendo a oportunidade de golo. Teria sido fantástico para o suiços aumentarem a vantagem, mas teria sido muito fabuloso para Derdiyok um lugar entre os autores dos grandes golos dos Mundiais.

Fantasmas

Não tinha dúvidas, antes deste Mundial, de que a Espanha era uma (talvez a principal) favorita ao título. Pela sua história nos últimos quatro anos, pela fase de qualificação irrepreensível, pela sua fúria colocada em campo em todos os jogos, seja uma final do europeu, seja um jogo de preparação contra a Polónia. Mas quem entrou em campo ontem, para além do bem desenhado futebol espanhol, foi o fantasma dos mundiais que faz com que a Espanha nunca tenha passado dos quartos-de-final. A mesma equipa que já ganhou dois Europeus e foi finalista num outro, chega ao Mundial e não consegue conviver com esse síndroma do falhanço na maior competição mundial. Um bom exemplo, para além da derrota de ontem contra a Suiça, foi o jogo da Taça das Confederações em 2009, contra os Estados Unidos, em que perderam o acesso à final contra o adversário mais improvável. A realidade é esta, em quatro anos, em mais de cinquenta jogos, a Espanha só perdeu jogos em fases finais de competições mundiais. Para quem diz que não existem fantasmas, o melhor é mesmo esperar pelo próximo jogo...

Não fumar

Deixei de fumar no dia 7 de junho de 2002, durante um Espanha-Paraguai. Acordava muito cedo durante o mundial da Coreia/Japão, para poder ver os jogos das sete da manhã. Nesse dia, vi o Suécia-Nigéria com o que era, já, um ataque de renite alérgica (obrigado, pelo deus, pelo Nasomet) e decidi ir ver o Espanha-Paraguai para o Café Imperador, com o primeiro café da manhã. Deve ter sido o pior cigarro da história dos Mundiais de futebol, tão mal me soube. Apaguei-o pouco depois do golo do empate da Espanha (o dono do café deve ter pensado que eu era um furioso anti-nuestros hermanos) e decidi deixar de fumar. Até hoje, nunca mais fumei regularmente. Foi no dia do Espanha-Paraguai, em 2002.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Livre

Agora, antes que apareça em filme, eu gostava mesmo era de ver aquele número 9, o Tae, a jogar no grande campeonato europeu. Porque, no final das contas, o que me dá gozo é o futebol livre. Não o que está fechado em laboratórios ou em ditaduras pelo mundo.

Último minuto

Ninguém dava nada pela Nova Zelândia neste Mundial. No entanto, se uma coisa que no futebol já tem décadas de exemplos, é que nunca se deve desistir antes do apito final. A equipa eslovaca talvez se tenha esquecido desse ditado. Mas Reid, o defesa neo-zelandês que subiu à área adversária nos últimos minutos do jogo, sabia o que estava a fazer. Aproveitou a única oportunidade que teve para marcar um golo. Um golo que pode não valer de muito para o resto do mundo, mas que faz a história do primeiro ponto da selecção da Nova Zelândia na história dos mundiais.

Desconhecidos

Se uma coisa me surpreende na equipa da Coreia do Norte, é a sua capacidade para enfrentar a melhor equipa do mundo sem ter, no seu currículo, qualquer experiência a este nível. É bom não esquecer que a maioria daqueles jogadores e treinadores só saem do seu país para os jogos de selecção, sendo que apenas dois deles jogam de uma forma competitiva fora do seu país. Assim, ver um grupo de desconhecidos jogadores enfrentar Kaká, Robinho e companhia, é totalmente inesperado. Como se fosse possível a um grupo de jogadores treinados num ambiente fechado, chegar a um qualquer campeonato e enfrentar os melhores. Faz lembrar um daqueles filmes de Hollywood. Talvez se transforme num daqueles filmes de Hollywood.

A camisola da casa

O Itália 90 marcou a estreia da Costa Rica em fases finais do Mundial de futebol. Para marcar a ocasião, a Costa Rica surpreendeu o mundo, não só pelo futebol praticado, mas sobretudo pelo equipamento utilizado. Habituados a ver a sua equipa jogar de camisola vermelha e calção azul escuro, não deixou de ser estranho para os adeptos costa-riquenhos vê-los entrar em campo com uma camisola às riscas brancas e negras e calções brancos. Ou seja, uma réplica do equipamento da Juventus. A explicação, essa, não deixava dúvidas: tendo que jogar dois dos jogos da fase de grupos em Turim, havia que conquistar os adeptos da casa. Ajudados ou não pelos adeptos turineses, a verdade é que a Costa Rica passou aos oitavos-de-final, deixando para trás a Escócia e a Suécia.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Queirós

O homem nem tinha convocado o Ruben Amorim, só o chamou quando um dos outros se lesionou, a menos de uma semana do Mundial. No entanto, logo ao primeiro jogo, o Ruben Amorim entra em campo. Grande parte das vezes a desorientação de um treinador sente-se nos pormenores. Em algumas poucas vezes, como neste caso, a desorientação está lá, enorme, bem no centro do campo, para que ninguém possa dizer que não se apercebe dela.

Sonhar

Ficou célebre no futebol português a frase do, então seleccionador nacional, José Torres, na fase de apuramento para o México 86. "Deixem-me sonhar". A esta hora, Portugal inteiro pede exactamente o mesmo ao seleccionador actual. Senhor Carlos Queirós, saia da frente e deixe-nos sonhar.

Do anonimato

Queixamo-nos, quase sempre, da qualidade dos estrangeiros que passam pelo campeonato português. Mas alguns deles, de qualidade inquestionável, passam sem receber a devida atenção. Antolin Alcaraz jogou quatro épocas na primeira divisão portuguesa (mais uma na segunda), sempre com a camisola do Beira-Mar. Não ficou na história do campeonato. Mas ontem, depois de ter sido uma das surpresas da convocatória paraguaia, entrou na história do futebol daquele país, marcando um golo que valeu o empate contra a Itália. Assim se tornou Alcaraz, a partir de hoje, um dos nomes incontornáveis da selecção guarani.

Medo

A Costa do Marfim entrou em jogo com medo de Portugal. Portugal entrou em jogo com medo da Costa do Marfim. O resultado foi um dos jogos mais sensaborões deste mundial (aí ao nível do França-Uruguai, mais coisa menos coisa). Cristiano Ronaldo, que entrou em jogo pronto para cumprir aquilo que prometeu, saiu do jogo por volta dos vinte minutos, quando viu um cartão amarelo. A Costa do Marfim, ao perceber que Portugal não ia atacar, foi saindo da casca, criando muito movimento na frente de ataque, mas sem ter oportunidades de golo. As substituições de Portugal foram todas conservadoras, tirando de campo jogadores que estavam a jogar muito mal, colocando em campo jogadores que nunca fizeram qualquer jogo de qualidade com a camisola da selecção. As duas equipas acabaram como começaram. Com medo. Com medo de perder, ficaram agora as duas como candidatas à eliminação. O empate é isso mesmo. Um meio caminho para a derrota.

Toto

Olho a Itália e sinto que falta ali um avançado. Por isso, é impossível não lembrar Toto Schillaci, um avançado italiano que existiu, praticamente, apenas para jogar num Mundial. Dos sete golos que Schillaci marcou com a camisola da Squadra Azzurra, seis deles foram marcados durante o Itália 90. Toto Schillaci estreara-se na equipa apenas em Março desse ano, mas acabou por ser o herói improvável do último campeonato disputado em terras transalpinas. Na minha memória sobrevivem ainda os festejos exagerados deste siciliano que jogava com o coração da área (e também no coração da área). Falta um avançado assim, de sangue quente, na equipa italiana deste Mundial.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O sorriso de Simon Poulsen

Não se pode dizer que os dinamarqueses tenham feito uma boa exibição na sua estreia, mas a verdade é que até aos quarenta e seis minutos estavam a aguentar sem sofrer golos. Nesse momento, a bola chega ao coração da área dinamarquesa onde estão quatro defesas para um avançado. Simon Poulsen falha o cabeceamento, a bola bate nas costas de Daniel Agger e golo da Holanda. Na televisão, em grande plano, Simon Poulsen sorri. O homem comete um erro básico, origina um auto-golo e sorri. É um sorriso magoado, desiludido. Mas a verdade é que o herói trágico sorri.

Barulho

Compreendo a festa, o colorido, a tradição sul-africana (exclusiva do futebol, já que nos jogos de râguebi não há vuvuzela que apite). Mas tenho mesmo que dizer que a vuvuzela é anti-festa do futebol. A esta distância, nem é o barulho que me incomoda. O que eu acho inaceitável é não ouvir o bruá da falta marcada, os gritos do golo falhado, o estrondo do golo, tudo isso em vozes humanas. Para mim, o barulho do futebol é esse.  E neste Mundial, esse barulho foi-me roubado.

Jabulani de costas largas

A Jabulani pode ser uma bola muito redonda, mas é também a bola com as costas mais largas da história da tecnologia do futebol. Depois da derrota da França contra a China, num jogo de preparação, ter sido imputada à colorida bola, em poucos dias de Mundial já temos dois frangos e um penalti cuja a culpa, exclusiva, foi atribuída ao esférico. Ou muito me engano, ou já encontramos uma boa razão para todos os desaires nesta competição.

Toni Polster no computador

O Itália 90 pode ter sido muita coisa, mas para mim foi, sobretudo, um jogo de computador. Não sei onde arranjei a disquete com aquele fantástico jogo gravado, onde se podia escolher qualquer uma equipa das presentes no Mundial e fazer o caminho até à glória da final. Como todos os jogos de computador daquele tempo, o Itália 90 era um mistério com solução. E se os primeiros tempos foram jogados escolhendo as melhores selecções para ficar em inglórios oitavos-de-final, as últimas vidas daquele jogo nas minhas mãos foram gastas repetindo ao infinito o título de campeão mundial com a Áustria de Toni Polster. Que saudades.

domingo, 13 de junho de 2010

Hora de Campeonato

Eduardo Galeano, autor do excelente Futebol Sol e Sombra, tem direito a um perfil no Babelia desta semana. Assim, fico a saber que Eduardo e Helena, a sua companheira de há 34 anos, têm um habito que repetem a cada primeiro dia de Mundial de futebol. Na porta da sua casa colocam um cartaz anunciado que a mesma se encontra "fechada pelo futebol", coisa que eu deveria ter feito também aqui por estes lados. E, lá como cá, só se volta a abrir a porta quando houver campeão.

Aborrecido

Já aqui falei de treinadores que atacam o ADN das suas próprias equipas. Quem viu esta noite a Austrália, é certo que não terá reconhecido a equipa que há apenas quatro anos encantou mundo com um jogo físico, veloz e orientado para o golo. Pim Verbeek, que fez parte da sua carreira como adjunto de Guus Hiddink, parece ter pouco de holandês. Duramente criticado na fase de qualificação pelo jogo aborrecido que impunha à equipa, Verbeek defendeu-se com os resultados. Chegado ao Mundial, levou logo no primeiro jogo um banho de realidade. Não há nada que possa compensar o facto da nossa equipa perder por quatro num Mundial.

A mão

Por vezes, damos por nós a fazer uma asneira monumental num momento inoportuno. A primeira coisa que nos vem à cabeça, é negar aquilo que fizemos, mesmo que seja tão evidente que não haja como o esconder. Foi o que aconteceu esta tarde a Zdravko Kuzmanovic. A menos de dez minutos do final do encontro contra o Gana, tentou alcançar a bola de cabeça e, vendo que não o conseguiria, tocou-a com a mão, desviando a trajectória da mesma. Azar dos azares, estava dentro da área. Penalidade convertida, vitória para o adversário. Por vezes, damos por nós a fazer uma asneira monumental num momento inoportuno. E o pior que nos pode acontecer é ter o mundo inteiro a ver.

Clarividência

Já conhecia esta selecção da Argélia que joga com 90% de coração e 10% de cabeça. Fiquei ainda mais curioso pela sua prestação depois de ter ouvido o treinador Rabah Saadane dizer que a equipa não estava preparada nem física nem tacticamente, logo, não tinha nada a perder. No entanto, ao alterar o previsível onze inicial, a Argélia foi uma equipa cautelosa a maior parte do tempo que durou o jogo contra a Eslovénia. A maior parte do tempo porque aos sessenta minutos entrou Abdelkader Gezzal. Gezzal, confesso, é um dos meus jogadores preferidos deste mundial. Entrou em campo e passados dois minutos já tinha um cartão amarelo por se agarrar a um adversário. Alguns minutos depois, não conseguindo chegar à bola com a cabeça, Gezzal estende o braço e acaba por ver um segundo cartão amarelo. Fim da linha para Gezzal. A entrega despropositada tem custos destes. O pior é que a expulsão deste jogador foi apenas a introdução para a tragédia argelina. Faousi Chaouchi, o guarda-redes, haveria de facilitar de uma forma impressionante, oferecendo, com um frango, a vitória ao adversário. No fim do jogo, o sincero Saadane, disse que apesar de tudo, Chaouchi é "o melhor guarda-redes que temos". Não há fã do futebol que não fique emocionado com tamanha clarividência.

Momento

A primeira figura olímpica deste Mundial tem por nome Robert Green. No entanto, e dadas as razões da sua chamada ao centro das atenções, presumo que ele tivesse preferido ficar no anonimato. Aliás, era a isso que ele esteve destinado desde sempre. Tendo sido formado no Norwich City (avé canarinhos de sua majestade), Green defendeu quase sempre as balizas do seu clube na segunda divisão. Em oito anos, apenas um foi passado com o clube na Premier League inglesa. 
No entanto, logo nesse ano de 2005, Green mereceu ser chamado por uma vez a representar a selecção nacional inglesa, num claro sinal de que em Inglaterra de cegos, qualquer guarda-redes com um olho é rei. Depois de mais um ano na segunda divisão, Green transferiu-se para o West Ham, de Londres, onde tem sido titular da equipa nas últimas épocas. 2009 foi o seu ano de afirmação na selecção, contrariando a expectativa que guarda-redes mais experientes como James ou Robinson pudessem ocupar o lugar número um da equipa dirigida por Fabio Capello. No entanto, ontem, aos quarenta minutos do Inglaterra- Estados Unidos da América, Robert Green entrou para a história dos mundiais. Perante um remate fraco de Clint Dempsey, Green agachou-se, viu a bola bater-lhe nas mãos e trair-lhe a confiança tomando a direcção da baliza. Todos os corações ingleses ficaram calados nos segundos que se seguiram ao monumental frango de Green. E Green gravou na nossa memória um momento que, estou certo, ele preferiria esquecer para sempre.

Acordado

Em 1986, eu era um ilustre rapaz de sete anos e o Mundial do México iniciou-se (oh, ignóbil deus) em tempo de escola. Perante os factos de os jogos se realizarem fora de horas e de, na manhã seguinte, eu ter a obrigação de me apresentar bem cedo na escola primária nº2, ordem parental levou-me à cama antes do jogo começar. Passei os noventa minutos de olhos abertos na almofada, a tentar perceber pelas reacções e pelos barulhos vindo da sala, a marcha do jogo. Quando, na manhã seguinte, o meu pai me disse, feliz, que Portugal tinha ganho por um zero, não sei bem qual terá sido a minha expressão para ele, mas sei que o meu discurso foi um seco "eu sei".

sábado, 12 de junho de 2010

Organização

Mas atrai-me mais ver uma equipa como a Coreia do Sul (sim, eu sei que sou um gajo esquisito). Jogadores velozes, a evoluir no terreno com passes traçados a régua e esquadro, a mesma entrega do primeiro ao último minuto. Para mim o futebol é esta tentativa de organização do que era, antes, apenas um conjunto de bons rapazes. Na vida, é isto mesmo que cada um de nós espera conseguir.

Génio

Logo no início do Argentina-Nigéria desta tarde, vejo a bola chegar aos pés de Messi e espero algo de espectacular. E, na verdade, o pequeno argentino passeia-se entre a defensiva adversária com a bola nos pés, criando jogadas de perigo onde antes havia apenas um rectângulo de relva. O futebol pode ser isto, um génio de quem todos esperam uma solução para a triste vida que levamos. Na vida, poucos acreditamos que tal possa acontecer.

Memória

Mesmo tendo nascido em 1979, o Mundial que me povoa a imaginação desde pequeno é o Argentina 78. E não só a mim, já que a minha turma do 9º ano tinha um fétiche colectivo por esta competição. Lembro-me de ter uma cassete de vídeo, comprada em Espanha, com a história dos Mundiais e o momento Argentina 78 ser o mais apreciado por todos os rapazes que lá iam a casa vê-lo. Razão? Os milhares de papéis que voavam sobre o relvado em cada jogo da selecção da casa.
A verdade é que no final do ano, essa minha turma decidiu reviver o Mundial. Recebidos os trabalhos realizados nas aulas de Educação Visual durante o ano, todos os rapazes se dirigiram ao campo onde nos entretivemos a rasgar os mesmos em pequenos pedaços de papel. Depois, alinhados com uma das balizas, contámos até três e saímos a correr campo dentro, largando os papéis ao vento, gritando "Argentina 78, Argentina 78". Nunca fomos tão felizes juntos, naqueles nossos sonhadores quinze anos de idade. Tudo graças a uma memória que nenhum de nós tinha.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Efeito Parreira

Equipa em que Parreira meta o dedo, é para esquecer ADN criativo. Parreira consegue mais um milagre de transformar uma equipa africana numa equipa expectante, que fica na defesa à espera da oportunidade de, num passe longo (ou num pontapé para o ar) conseguir isolar um dos avançados. Perante um México adormecido, a táctica resultou num golo. Mas não se pode pedir que uma equipa que é selvagem por natureza seja um muro defensivo intransponível. Esse é o erro de Parreira. Achar que a sua razão sobrevive ao coração africano.

Etno-futebol

Graças a estas meo-tecnologias pude ver as imagens do túnel do estádio Soccer City antes da entrada das equipas em campo. E enquanto os jogadores sul-africanos cantavam e batiam palmas, o capitão dos mexicanos, Gerardo Torrado, gritava "da le, da le, cabrón, vamos" e ouvia esta frase repetida pelos seus colegas. São as chamadas opções culturais.

Moral mediática

Mas nem só de paz se faz um mundial. Nas notícias de hoje, uma zanga de irmãos. Já será uma estreia haver num mundial dois irmãos a representar países diferentes (falo de Kévin Boateng pelo Gana e Jérome Boateng pela Alemanha). Quis o sorteio que os dois países ficassem no mesmo grupo. Quis o azar que o ganês Kévin Boateng lesionasse, no último jogo da época, a estrela alemã Michael Ballack. Ora, como se espera entre irmãos, Kévin queria que Jérome o defendesse da fúria mediática que o acusou tal se faz a um criminoso. Jérome, dividido entre a família e a sua pátria, escolheu a pátria, no que me parece ser um dilema moral dos tempos modernos, porque aqui, a pátria, é a raiva destilada em páginas e páginas de jornais, sites de internet, telejornais televisivos. E assim se zangam os irmãos, prometendo não mais voltar a falar-se. Lentes apontadas, lá mais perto do fim do mês, para a forma de cumprimento dos dois, quando as respectivas selecções se encontrarem.

Tutu

Lindo foi ver Desmond Tutu, bispo nobelizado, equipado dos pés à cabeça com o kit de fã Bafana Bafana, a falar apaixonadamente de futebol e de Nélson Mandela. São estas coisas um tanto incoerentes aos olhos de quem vê tudo em linhas rectas que transformam o mundo. Estar de tal forma tomado pela sua missão nesta terra que ligar-se, com naturalidade, aos mais puros sentimentos, é abrir portas que estiveram séculos fechadas. Obrigado, Tutu.

Bandeira

Ontem, dia de Camões, o meu simpático vizinho brasileiro colou uma enorme bandeira canarinha na sua varanda. Começou o Mundial, não é? Logo o meu vizinho do terceiro andar veio com uma bandeira portuguesa e desfraldou-a lá no alto do prédio, assim ao jeito de coisa oficial. E assim, eu, que me empolgo com coisas simples, vou à gaveta do roupeiro, tiro o cachecol da selecção do meio do mofo, e meto-o no estendal, um pouco a respirar, um outro tanto a marcar posição (que isto de ser mundialista na rede passa ao lado das vizinhanças). Venha o vento!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ansiedade

O pior momento de um jogo de futebol é todo o tempo que demora até que esse jogo comece. Agora imagine-se isso à escala de um mundial de futebol. De nada adianta saber que vamos ter, durante um mês, dezenas e dezenas de jogos para preencher as nossas conversas, análises e emoções. Neste momento, ainda não começou. Não há alegria possível num jogo que está ainda por iniciar. Na verdade, essa ansiedade toda nem é ainda futebol. E é por isso que nos custa tanto.

Bicicleta para casa

A lesão de Nani terá sido o maior balde de água fria atirado sobre os portugueses (e já tínhamos o Queirós, o Eduardo, o Duda...). N'A Bola de hoje, o seu irmão revela que a fractura da clavícula aconteceu durante um treino, numa queda após um pontapé de bicicleta mal executado. Muitos gozaram Alex Fergunson quando este proibiu os festejos de golos com belos saltos mortais que lhe são característicos. Mas o que o velho escocês sabia, bem antes do tempo, é que tanto salto desnecessário ainda acabaria mal. Coisas desnecessárias, algo de que o futebol está cheio. Tal como os romances.

Introdução

"O quê, futebol?!?" - esta parece ser a questão exclamativa que passa pela cabeça de muitos amantes dos livros, como se o futebol fosse o anti-cristo dos intelectuais que gostam de ficar sossegados a ler. No entanto, o futebol aparece cheio de histórias e estórias, uma carga dramática nos maiores momentos e nos mais simples pormenores, uma paixão que, arrisco, sobrevive mesmo numa casa cheia de livros. Daí, a reportagem em directo deste Mundial que amanhã começa. Um risco, uma aventura, o que vai agora começar.