segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Muitas maneiras de jogar feio






Existem muitas maneiras de jogar feio. Apenas, umas serão mais bonitas do que outras. Ontem, em Alvalade, o União de Leiria e Manuel Cajuda saíram de campo aplaudidos pela crítica que elogia os leirienses por jogarem bom futebol frente a um candidato ao título. Mas há que olhar para lá das evidências.


Perante um Sporting fragilizado por lesões e  numa situação de óbvia ansiedade (não nos esqueçamos que se trata de uma equipa muito jovem – ontem tinha dois juniores e dois seniores de primeiro ano nos dezoito convocado – a ver-se bem perto da liderança do campeonato com dez jogos jogados), Manuel Cajuda foi inteligente na forma de montar a sua equipa.

Basicamente, a estratégia passou por duplicar na zona intermediária o esquema mais recuado da equipa. Olhando para o onze, a uma linha de quatro defesas (Ivo Pinto, Hugo Alcântara, Diego Gaúcho e Maykon) que quase nunca saiu da posição, Cajuda juntou uma linha de cinco jogadores com obrigações também defensivas. Tiago Terroso, André Almeida e Marcos Paulo a povoar o centro do terreno, Patrick, um defesa-esquerdo, a marcar João Pereira e Jô, do lado contrário, basicamente a pressionar o jogador com posse de bola. Na realidade, o único jogador com pensamento ofensivo da equipa era Djaniny, que ia aproveitando as dificuldades do Sporting sair com bola para, no espaço entre linhas (faltava, evidentemente, um Rinaudo ao Sporting), criar perigo.

O que resultou desta táctica? O Sporting sentiu dificuldades crescentes para sair com bola, principalmente quando diminuía a intensidade de jogo (aconteceu a seguir aos dois golos). Schaars e Matías eram engolidos pelo meio-campo povoado do Leiria, João Pereira e Evaldo, muito pressionados, não conseguiam encontrar manobras de progressão e a dupla de centrais ia ficando sobre brasas (Carriço e Ilori são duas opções de recurso que, apesar das extremas dificuldades sentidas, saem com três pontos no bolso).

A pressão leiriense também se fez muito da agressividade dos seus jogadores perante um Sporting macio. Edson, Tiago Terroso e Jô foram os que mais se destacaram na forma de abordar as jogadas, sempre em cima do risco. No entanto, um critério bem largo de Manuel Mota (tão largo que deixou ainda João Pereira escapar-se com uma agressão a Patrick) foi permitindo algum ascendente da parte do Leiria. Ainda assim, esse ascendente não se materializou em mais do que um remate à baliza (um remate = um golo), já que no que toca às restantes oportunidades criadas pelo Leiria nenhuma delas permitiu defesa a Rui Patrício. Já o Sporting fez seis remates à baliza leiriense, muito espaçados entre si, como se percebe claramente pelos minutos dos golos (8’, 50’, 93’).

Em resumo, o que aparentemente pode ser considerado como um bom espectáculo, não passou, na realidade, de uma forma particular de utilizar um esquema defensivo subido. Tratou-se de uma boa leitura de Cajuda mas isso não transforma o União de Leiria numa equipa melhor. Aliás, tanto não o faz que este mesmo esquema, na maioria dos jogos do campeonato, pouco servirá aos leirienses, dado que a maioria dos adversários privilegia um jogo directo e saberão desenvencilhar-se de uma defesa que acaba por dar muito espaço no último reduto (dizer também aqui que a opção por Pereirinha, por Domingos, facilitou bastante a vida de Cajuda na primeira parte). Ou seja, jogando assim, o Leiria continuará a perder. Como perdeu, aliás, este fim-de-semana.

Existem, realmente, muitas maneiras de jogar feio em Portugal.

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