quinta-feira, 21 de abril de 2011

Basquetebol Feminino em Portugal - Entrevista a José Tolentino

Figurada grada da divulgação do basquetebol feminino, José Tolentino é presença obrigatória no momento de fazer uma análise à modalidade.

Para além de ser colaborador do Planeta Basket desde a primeira hora, José Tolentino é dirigente federativo, vivendo assim, por dentro, os problemas, mas também tendo possibilidade de apresentar as soluções para melhorar o basquetebol no feminino. Assim, não podíamos deixar de o ouvir.


A análise dos problemas do basquetebol nacional apresenta bastantes diferenças entre a modalidade no masculino e no feminino. Na tua opinião, quais são os grandes obstáculos que o Basquetebol Feminino enfrenta na actualidade?

Esta é uma situação que é transversal à nossa sociedade. Ainda que se proclame que os apoios devam ser iguais, a verdade é que continua a prevalecer a desigualdade do género. As oportunidades não são as mesmas e por isso por muito que se lute para nivelar as coisas, ainda estamos aquém desse cenário ideal. Da minha parte tenho procurado lutar contra este estigma mas não é nada fácil. Continuo  a não perceber por exemplo o porquê de a Comunicação Social continuar a votar o basquete feminino ao ostracismo. Sem divulgação, os patrocinadores afastam-se e a vida dos clubes que se dedicam ao feminino é um autêntico quebra-cabeças.

  
Ao nível das selecções, temos conseguido obter bons resultados nos escalões de formação, algo que ainda não teve reflexos no escalão sénior. A que se deve essa diferença?

Na minha opinião, o facto de nos escalões de formação por vezes se conseguir melhores resultados duns anos para outros depende das gerações. Há gerações e gerações. No escalão sénior há outros factores que se tornam mais preponderantes tais como a experiência internacional, o ritmo competitivo, o peso e a estatura. No caso concreto de Portugal, raramente temos conseguido reunir os nossos melhores valores, umas vezes por lesão outras por não haver disponibilidade para representar a Selecção Nacional e quando isso acontece num universo mais curto em relação a outros países, necessariamente que tem maior peso. Alguma vez conseguimos reunir Ticha Penicheiro, Mery Andrade, Sónia Reis, Paula Muxiri, Joana Lopes, para não falar de outras? 

     
A organização de competições a nível nacional segue escalões diferentes da competição internacional. Porque acontece isso?

É uma prática que acontece há bastantes anos e julgo que tem por base a necessidade de proporcionar às jovens jogadoras mais um ano de prática antes de subirem a sénior. A nível internacional a idade de júnior corresponde ao escalão de Sub18 e a nível interno ainda temos mais um ano (Sub19). 


Quais as razões para o “desinvestimento” feito a nível europeu no escalão de sub-20, onde existem apenas 11 equipas na Divisão B?

Embora desconheça as verdadeiras razões, admito que o haver menos equipas estará eventualmente relacionado com o facto de ser uma idade em que as jovens investem bastante em termos de formação escolar (normalmente estão na Universidade) tendo em vista a futura inserção no mercado de trabalho, estudando inclusive fora do país, o que naturalmente dificulta os trabalhos de preparação das selecções.

  
E quais são os desafios que se colocam ao basquetebol português para se afirmar no contexto europeu?

Para isso acontecer será necessário continuar a trabalhar com mais determinação e empenho, procurando elevar os níveis em todos os aspectos: físico, técnico e táctico. Há também um aspecto que reputo de fundamental. É preciso ter ambição. Sem isso é muito complicado.   


Quais foram os ganhos de termos uma maior atenção mediática na Liga Feminina esta época?

É difícil quantificar a curto prazo. Todavia julgo que a empatia revelada pelo público que encheu por diversas vezes os pavilhões pode servir de exemplo para que num futuro próximo haja mais interesse pelo basquete feminino, cativando a juventude para a prática de uma  modalidade tão bela e espectacular como é a nossa.   
    
A Federação está a fazer alguma coisa para conseguir ter maior controlo sobre os casos de subsídios em atraso nas equipas da Liga?

A Federação já tem com que se preocupar com outras obrigações que os clubes devem cumprir e que se relacionam com as regras inerentes à participação nas diversas competições. É óbvio que cada clube é responsável pelos compromissos que assume aquando da constituição do seu plantel e como tal não é nossa prática interferir na gestão interna de cada um.

  
Consideras que as atletas portuguesas estão a beneficiar de tempo e nível de competição aceitável para evoluir?

Acho que sim. Falando a nível sénior é evidente que há clubes que trabalham melhor que outros mas entendo que este ano o nível competitivo da Liga Feminina deu um salto qualitativo em relação a épocas anteriores. Além do campeonato existem mais três provas: Taça Vítor Hugo, Taça Federação e Taça de Portugal, com diferentes modelos competitivos.

  
Como é que a participação de equipas nas competições europeias contribuem para a evolução das jogadoras portuguesas?

Na maioria dos casos os adversários são de países onde o basquetebol está uns furos acima do nosso e isso naturalmente que coloca mais dificuldades às nossas jogadoras, obrigando-as a superarem-se. E é da contínua superação e de serem obrigadas a melhorar os seus níveis que resulta a evolução. Como em tudo na vida as facilidades não ajudam ao progresso e à melhoria gradual.

                   
Acha que a participação das jovens atletas com 16 e 17 anos nas equipas da Liga Feminina é benéfica para elas? Porquê?

 Inquestionavelmente que sim. Que evolução podem ter se competirem apenas no seu escalão etário? As mais aptas devem ser confrontadas com desafios mais exigentes, defrontando jogadoras mais altas, mais pesadas, mais experientes. Não é a ganhar jogos por grandes diferenças pontuais que se progride.

        
Quais consideras serem as áreas de intervenção no basquetebol feminino onde estamos mais avançados (os factores mais positivos do sector)?

 Os diversos agentes envolvidos no feminino são mais solidários, são capazes de dar as mãos em prol de um projecto em que acreditem. Sabem que para conseguirem chegar a patamares mais altos têm que trabalhar muito mais, superando dificuldades de vária ordem.

  
Quais devem ser as principais medidas a tomar no futuro próximo?

Apostar na formação, apoiando os clubes que a ela vêm dedicando muitas horas de trabalho. É fundamental que o parque desportivo autárquico e escolar racionalize os espaços horários, a preços compatíveis com as dificuldades financeiras que os portugueses encontram no dia a dia. Continuar a dar oportunidades para os técnicos se valorizarem. Proceder ao eventual ajustamento de alguns quadros competitivos. Prosseguir a política dos Centros de Treino, onde as mais aptas possam desenvolver mais rapidamente as suas potencialidades, não só no domínio do treino em todas as suas vertentes mas também ajustando os modelos competitivos em que participam.        


Consideras que o trabalho de um site como o Planeta Basket tem um papel importante dentro dos objectivos de promoção da modalidade?

Sem sombra de dúvida. Abarca áreas bastante diversificadas, procurando manter as pessoas que gostam do basquetebol o melhor informadas possível.   

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