quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Só se tem 16 anos uma vez

|Luís F. Cristóvão

7 de agosto, 20h40, Matosinhos – cheguei ao início da tarde ao Pavilhão do Centro de Desportos e Congressos da cidade e estava, agora, perante um pavilhão praticamente cheio, emocionado, a aplaudir uma equipa feminina de sub-16. Durante onze dias viveu-se assim, o basquetebol, no feminino, em Portugal.



Começando do início, talvez devêssemos destacar o facto de 2013 marcar o momento em que várias grandes promessas do basquetebol português completam dezasseis anos. Carolina Bernardeco, a mais jovem de três irmãs que marcam referência no nosso basquetebol (Joana e Filipa estiveram presentes na final da Liga Feminina desta temporada, uma conquistando o título, outra fazendo parte da equipa vice-campeã), e Maria Kostourkova, herdeira de uma dupla de jogadores e treinadores búlgaros que vêm enriquecendo o basquetebol português com o seu trabalho, poderão constituir uma das mais brilhantes duplas que o nosso basquetebol terá o prazer de ver nos próximos anos.

Os seus jogos e estilo complementam-se. Partilham uma enorme inteligência e conhecimento de jogo – algo que, num país de futebol, nem sempre temos a sorte de encontrar, gente que, desde o berço, está habituada a viver basquetebol -, mas também a ambição de poderem tornar esta paixão num projeto de vida. Isso sente-se a cada momento que Maria encontra um espaço para conquistar terreno debaixo da tabela ou nos instantes em que Carolina se atira quase aos pés das adversárias para conquistar um roubo de bola impossível. Estes são os antecedentes do Europeu de Basquetebol de Matosinhos. Sigamos para o que interessa.

À volta destas duas jogadoras foi preciso juntar peças que oferecessem um sentido coletivo ao jogo português. A que mais se terá destacado durante este torneio foi Maianca Umabano. A atleta do NCR Valongo foi apenas a sétima utilizada, em tempo de jogo, da equipa portuguesa, mas apresentou números que roçam a excelência, alcançando uma percentagem de lançamentos exteriores superior a 60%, com 9 oportunidades concretizadas em 14 tentadas. A extremo procurou sempre bem o espaço para utilizar as suas armas, mostrando também uma vontade fabulosa na busca de uma presença no jogo interior, algo que a sua compleição física permite e exige.

A elas, há que destacar o papel que Chelsea Guimarães, Sofia Almeida, Carolina Gonçalves e Leonor Serralheiro tiveram no resultado alcançado pela seleção. Guimarães, pela imponência do seu físico, foi um excelente complemento à presença de Maria Kostourkova no jogo interior, terminando o torneio como a segunda melhor marcadora da equipa portuguesa. Leonor Serralheiro teve o mesmo papel para com Carolina Bernardeco, oferecendo intensidade e espírito de sacrifício como primeira base. E a dupla Almeida/Gonçalves ofereceu-se para ser base essencial da equipa que, em sete partidas, conquistou seis vitórias e uma subida à Divisão A. Com a sua garra, levaram a que o Pavilhão de Matosinhos entrasse em erupção por várias vezes nos jogos da equipa portuguesa.

Sete jogos, seis vitórias. Uma média de espectadores acima dos 3000 por jogo, com a final de 11 de agosto a ficar marcada pela presença de 4000 pessoas em Matosinhos. Repito – para ver um jogo de basquetebol feminino. A prova de que nestas raparigas podemos confiar para levar a modalidade a outros níveis. Oferecendo-lhes a oportunidade de poderem continuar a ser competitivas, de poderem continuar a experimentar as suas qualidades frente a adversárias mais exigentes e de poderem, finalmente, continuar a representar um basquetebol que precisa, e muito, de momentos destes para voltar a reencontrar-se com a vida.

Foi assim em Matosinhos – só se tem 16 anos uma vez, mas essa é apenas uma etapa de uma viagem que esperamos possa ser duradoura e cheia de vitórias como as alcançadas neste torneio.

1 comentário:

  1. 3000 por jogo é obra.
    Algum plano para transformar esses adeptos em agentes de promoção do basquetebol?

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