| António Valente Cardoso
Arranca a campanha rumo ao Euro 2016, o último de país ‘fixo’, o primeiro a 24, aquele que fechará o ciclo ‘XX’ e iniciará a nova vaga – que sucederá ao Mundial 2018 – com a Liga das Nações, algo semelhante ao que já sucede há anos com outras modalidades através de ligas europeias e ligas mundiais, cada qual encontrando um modelo próprio para procurar dar mais dimensão mediática e retorno financeiro ao seu desporto (hóquei em campo, voleibol, râguebi, por exemplo).
Desde o arranque do Europeu, a quatro na primeira fase, em 1960, já 30 países estiveram presentes em fases finais, três do quais inexistentes hoje em dia – URSS, Jugoslávia e Checoslováquia – além da Alemanha, hoje unida, que se estreou em 1972 ainda como República Federal da Alemanha.
Demasiado se fala em renovação por Portugal. Demasiado porque não há o hábito de convocar os que estão melhor, antes o vício de chamar os que se ‘acha’ serem melhores, dois conceitos que se confundem no âmbito das equipas técnicas e dos media. Existe uma enorme diferença entre ser e estar, sendo que o segundo verbo deveria ter muito mais preponderância face ao primeiro, importa mais que se esteja melhor do que se seja o melhor, até porque aguardar que, num dado momento, o que se entende como sendo melhor faça a diferença relaciona-se mais com confiar na sorte, no individual e indivíduo, ao passo que aquele que está melhor vai mais naturalmente, fruto do trabalho e da competência provada em campo recentemente, criar mais-valia, fortalecer o colectivo, pois falamos de uma modalidade colectiva.
O que também é certo é a necessidade de uma espinha dorsal, para melhor englobar cada novidade, encaixá-la no âmbito de um grupo, que se deve pretender aberto. Uma espinha dorsal é isso mesmo, é uma parte vital do corpo mas uma entre várias, ou seja, não é todo um corpo, onde se incluem os membros, o aparelho neurológico, o coração e todos os restantes elementos que compõem um ser vivo. Assim sendo, definir a espinha dorsal como um núcleo de 19 ou 20 elementos numa convocatória de 22, 23, 24 é um claro exagero e esta é outra diferença fundamental das habituais convocatórias lusas para as de outras selecções de primeira linha.
A renovação deve ser uma constante e não razão de tanto alarido mediático face à sua escassez. É igualmente certo que, chamando os que estão melhor, aqueles que são considerados melhores passarão a trabalhar mais no seio dos seus clubes para agarrar lugar e, dessa forma, regressar meritoriamente à selecção. Este género de atitude por um seleccionador funcionará de forma muito mais eficaz do que através da noção do lugar cativo.
Quando não se fica agarrado a um grupo, se vai chamando que demonstra bons desempenhos nos clubes durante a campanha, utilizando os particulares com esse especial foco, de observar jogadores não habituados à selecção mas que se salientam nos respectivos clubes, torna-se muito mais simples, criteriosa e ampla a escolha para uma fase final, obrigando as ‘primeiras escolhas’ a trabalharem mais a partir do momento em que percebem que não têm um lugar assegurado.