quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Campeonato Nacional Andebol 1

| António Valente Cardoso

Mais do mesmo. Como em todos os campeonatos desportivos portugueses, há uma diferença abismal entre os três, ditos, grandes e os restantes emblemas. Um peso que se faz sentir no equilíbrio de cada competição, nos resultados finais e na própria competitividade externa, enfraquecida pela falta da mesma internamente.



Inédito hexacampeão, o FC Porto parte à frente dos rivais na busca do sétimo consecutivo, 20.º campeonato de sete da sua história, com Sporting CP e Benfica como principais contendores. O ABC, com um orçamento bem inferior, correrá por fora, assente no seu peso histórico dentro da modalidade e no bom trabalho de Carlos Resende.

A maioria dos plantéis é feita em casa e, numa segunda linha, estarão Águas Santas, Belenenses, ISMAI, Madeira SAD, Sporting Horta, tentarão as restantes vagas no play-off para o título e Europa, situação que Passos Manuel e os promovidos Ginásio Santo Tirso e Xico Andebol também procurarão.

 Este será o segundo ano de campeonato sem Aleksander Donner, o homem que catapultou o andebol português para o primeiro patamar mundial, com o ABC e a selecção, mudando mentalidades, inovando no treino, criando responsabilidade, crença e ambição, um fantástico trabalho que os dirigentes portugueses conseguiram destruir com o cisma que retirou selecção sénior e clubes desse espaço tão complicado de alcançar.

Continua-se a trabalhar bem na formação, onde as selecções portuguesas vão marcando presença nas fases finais, em masculinos e femininos, mas o reflexo sénior desse labor de excelência pouco se observa. A forte crise que abalou as modalidades de pavilhão em Espanha não ajudou em nada a uma liga totalmente periférica, com valores de enorme qualidade mas sem montra para os ‘vender’. A passagem do FC Porto pela fase de grupos da Liga dos Campeões 13/14 valeu a mudança de Tiago Rocha para o Wisla Plock e de Wilson Davyes para o Nantes, optando Gilberto Duarte por continuar no Dragão Caixa, apesar das diversas ofertas, nomeadamente da melhor liga do mundo, a alemã.

Esta situação não sucederá nesta época pois os portistas não se conseguiram apurar para a fase de grupos. Na EHF Cup o Sporting CP entrará na segunda ronda e defronta os eslovacos do Sporta Hlohovec, enquanto o campeão nacional salta para a terceira ronda da competição. Benfica e ABC jogarão a Challenge Cup, com encarnados a encontrar os noruegueses do Fyllingen Bergen e minhotos a aguardar adversário na ronda seguinte após ficarem isentos do sorteio por serem a formação com melhor ranking.

A crise, ausência de uma aposta e desenvolvimento concertados, conjuntos, tem levado ao abandono de muitos andebolistas de maior ou menor qualidade, dada a pouca probabilidade de uma carreira profissional e a natural aposta na área de estudo/trabalho de eleição fora dos pavilhões e, mesmo da geração dourada, esperar-se-ia mais envolvimento dos nomes agora retirados, na defesa do andebol mais do que na defesa de um ou outro clube, discutindo-se formas, alternativas para voltar a trazer a modalidade ao primeiro plano, delinear estratégias para, por exemplo, associar escolas/academias/clubes às ligas mais fortes, alemã, francesa, polaca, dinamarquesa, húngara, para que os jogadores vivenciem as mesmas, conciliando essa prática com os estudos académicos e os programas de mobilidade europeia, mostrando a qualidade do andebolista português aí e bebendo a metodologia de treino, de jogo da Europa Central.

Desaparecido da RTP, cujo serviço público no que toca ao desporto deixa cada vez mais a desejar, o andebol conta com o canal criado pela federação, os canais dos clubes, Porto Canal e Sporting TV em sinal aberto, Benfica TV com assinatura, aguardando-se para perceber se ABolaTv continuará a transmitir também o campeonato e o programa de Edite Dias, andebola, que mereceria mais divulgação e repetição no canal (também ‘rendido’ basicamente a trios na promoção dos seus próprios programas).


No FC Porto, Obradovic viu chegarem reforços especialmente para a primeira linha. Edgar Landim, Nuno Roque, o cubano Yoel Morales, Arapovic, o brasileiro Babo, Nuno Gonçalves, chegando para a segunda linha o ponta direita brasileiro Wesley Freitas. Ricardo Moreira e Hugo Laurentino são os mais experimentados do grupo que vê subirem dos juniores Leandro Semedo e David Sousa, que acumulará o espaço de terceiro guardião sénior com o papel principal nos juniores e na segunda equipa.

O Sporting CP, orientado por Frederico Santos, foi buscar Pedro Spínola ao campeão, regressando igualmente a Lisboa Bosko Bjelanovic. Para a ponta direita chega Nuno Pinto com alternativa a Pedro Portela e Bruno Moreira terá no ex-sadino Diogo Godinho o concorrente para a posição de pivô.

O Liberty Seguros-ABC/Univ. Minho tem um naipe de experimentados andebolistas, Humberto Gomes, Hugo Rocha, Eduardo Salgado, que regressa do Águas Santas, David Tavares, para enquadrar os mais jovens, futuras estrelas como Rui Rolo, Carlos Martins, Tomás Albuquerque ou Emanuel Ribeiro. Outra aquisição, do vizinho Xico, é o pivô João Gonçalves.

Depois de uma temporada abaixo das expectativas, o Benfica decidiu trocar Jorge Rito por um técnico estrangeiro e chegou à Luz Mariano Ortega, brilhante jogador que trocou a lateral pelo banco em 2008, no Aragón, onde permaneceu até esta primeira aventura no estrangeiro. Já com Álamo no plantel, chegam com o técnico os laterais Barragán e Pujol. Do Restelo chegou Flávio Fortes (Fêtê), lateral direito luso-cabo-verdiano de 22 anos. Carlos Carneiro, Hugo Figueira, Dario Andrade e José Costa dão o cunho de qualidade e experiência num plantel que conta com os jovens Davide Carvalho, Tiago Ferro, Miguel Moreira, Gonçalo Valério, Alexandre Cavalcanti, Gonçalo Ribeiro e João Gomes.

Na Maia Paulo Faria vem desenvolvendo um excelente trabalho no Águas Santas Milaneza, onde Telmo Ferreira na baliza, Pedro Cruz a pautar o jogo, Juan Couto na zona pivotal e Jorge Sousa na ponta direita asseguram a voz de experiência para enquadrar os miúdos da casa Pedro Carneiro, João Baltazar, José Barbosa, Pedro Pacheco, António Gomes, Pedro Sousa, Mário Oliveira, Pedro Vieira e Miguel Vieira. Da formação portista chegam os laterais Belmiro Alves e Hugo Rosário e o guarda-redes João Moniz. Pedro Peneda é novidade fafense.

Os açorianos do Sporting Horta recrutaram os cubanos Yosdany Rios e Turiño e o espanhol Ruesga. Kostetskyy mantém-se como estrela máxima do clube que se reforça igualmente com o veterano Inácio Carmo e com Nélson Pina.

Igualmente insular, o AM Madeira AND SAD deixou de contar com os valores que já teve do governo madeirense, baseando-se actualmente na prata da casa, uma equipa jovem com alguns andebolistas mais experimentados, como Gonçalo Vieira ou Luís Carvalho. Chegam Daniel Santos e Nuno Silva do Xico, Daan Garcia ex-ISMAI e Hugo Lima do Benfica, procurando Paulo Fidalgo entrar nos melhores seis da primeira fase.

Ricardo Costa fará o tirocínio como treinador principal sénior, trocando a equipa técnica do FC Porto pela liderança do ADA Maia/ISMAI. Consigo levou Nuno Carvalhais, Francisco Leitão, Miguel Sarmento e Rui Oliveira, chegando ainda ao clube ‘universitário’ Mário Silva, Tiago Silva, Pedro Maia, Tiago Heber e o cubano Gonzales.

Depois de anos no andebol feminino, João Comédias pegou no NAAL Passos Manuel para o trazer à divisão máxima do andebol nacional, onde se conseguiu manter na época passada. Fernando Ramos é excepção numa equipa com quase todos os elementos com menos de 25 anos, chegando um trio do Benfica, João Moreira, João Ferreira e Miguel Ferreira, além do lateral ex-Benavente Ricardo Barrão.
Histórico também no andebol, o Belenenses tem em Pedro Alvarez uma boa aposta no banco. Um técnico consciente da formação, que guiou o clube ao título nacional de juniores há cerca de uma década, com trabalho igualmente de nota no Ginásio do Sul, tentará voltar a colocar o clube em lugares mais cimeiros, contando com o regresso de João Pinto e as chegadas de Carlos Siqueira, também ele regressado ao clube após a passagem pelo ABC, de Tiago Silva e dos internacionais angolanos Rome Hebo e Edivaldo Moreno. João Lino, Rui Silva, Luís Nunes e Vasco Ribeiro são as caras da experiência no Restelo, a que se une novamente João Pinto.

Após três temporadas, com manutenção, quase subida e a histórica promoção, Adelino Passadiço não permaneceu em Santo Tirso, para onde rumou Luís Santos, que orientava o ISMAI. O Ginásio Clube Santo Tirso mantém-se fiel ao plantel, sem capacidade para recrutar apenas viu chegar o ponta Mário Lourenço do Águas Santas.

Guimarães volta a ter representante, após a curta ausência por descida do Francisco de Holanda, reconvertido em Xico Andebol, numa bela estreia de Eduardo Rodrigues no banco vimaranense, com a subida. A equipa é exemplo de formação e continua com a aposta na prata da casa, por opção – mas também obrigação dada a escassez de recursos financeiros, Os jovens Paulo Castro, ex-Fafe, João Martins, ex-Fermentões, Tiago Resende e Manuel Sousa, ambos ex-Académica s. Mamede e Humberto Ferreira, ex-Águas Santas, são as novidades para 14/15.


Apesar da fraca entrada de capital, do investimento luso na modalidade, seria interessante pensar numa liga/divisão máxima a 14 ou 16, vendo regressar nomes como o Vela Tavira, o Alto do Moinho, o Vitória Setúbal, o Loures, o Boavista, o São Bernardo, o FC Gaia, o Académico Porto, a Académica São Mamede, o Fafe, a Avanca, a Sanjoanense, o Sismaria, que poderiam trazer uma outra animosidade ao campeonato e aos lugares fora do eixo, projectando-se igualmente mais ‘tropeções’ dos habituais candidatos ao título e um acréscimo competitivo. Tudo isto, naturalmente, num contexto de pensamento e desenvolvimento de uma estratégia comum para reaproximar o andebol português à elite.

Sem comentários:

Enviar um comentário