terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Jorge Costa

Jorge Costa foi o jogador que a maioria dos portugueses aprendeu a odiar, durante os seus anos enquanto capitão do Futebol Clube do Porto. Entre 1992 e 2005, ele foi uma espécie de "líder dos gauleses", uma personificação de Astérix que, de bom coração para os seus, alimentava guerras contra todos e quaisquer adversários.

Muito mais do que qualquer outro capitão do FCP, Jorge Costa alimentou este ódio por ser tão facilmente reconhecível nele todas as características de um homem bom. Por isso, odiávamo-lo ainda mais, quando saído de um relvado onde batera, sem piedade, nos jogadores das nossas equipas, falava no seu característico tom de voz, calmo e ponderado, com um olhar cândido de bebé a quem lhe tiraram o brinquedo preferido.

Com a camisola dos azuis, Jorge Costa coleccionou títulos nacionais, uma Taça Intercontinental, uma Liga dos Campeões e uma Taça Uefa. Com a camisola da Selecção, que vestiu por cinquenta vezes, esteve presente nos momentos mais brilhantes da geração de ouro. Como treinador, passou por clubes como o Sporting de Braga, o Olhanense e a Académica. Foi nesta sua faceta que nos foi permitido aceitá-lo como um dos nossos. Quase sempre sem as condições mínimas para atingir os objectivos a que se propunha, Jorge Costa fez sucesso nos clubes onde passou.

Hoje, depois de dois jogos em que a sua equipa esteve irreconhecível, tivemos a notícia de que Jorge Costa se demitiu da Académica. Mais tarde, em comunicado publicado no site do clube, anunciou que, para além da Académica, Jorge Costa abandona o futebol. Alega motivos profissionais que o impedirão de continuar a exercer a profissão. Poucas vezes temos a oportunidade de ver alguém, no momento da sua aproximação a um ponto alto da sua carreira, desistir. As razões ainda não são claras, mas uma situação destes só pode entristecer quem, nos últimos vinte anos, admirou a dedicação que este homem ofereceu ao futebol.

Se for esta a hora do futebol retribuir, que isso aconteça. Porque para o resto da sua vida, Jorge Costa terá, certamente, muitas outras oportunidades para ser feliz.

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