Os primeiros 24 jogos do Europeu
selecionaram as 8 melhores equipas, que irão continuar a lutar pelo
título neste campeonato. No Falamos Futebol, escolhemos quatro altos
e baixos da competição.
Altos
Um antídoto para o tiki-taka? A
primeira sensação deste Europeu foi a possível descoberta de um
antídoto para aquele que é considerado o melhor futebol do mundo. A
Itália de Cesare Prandelli utilizou uma defensiva de apenas 3
defesas, com De Rossi a ser o “terceiro central”, entre os dois
outros na sua posição de origem. Através de um meio-campo muito
versátil, onde Pirlo, Marchisio e Thiago Motta assumem tarefas
defensivas e ofensivas, os italianos respondiam à abertura de jogo
espanhol com dois “laterais” como Maggio e Giaccherini, muito
rápidos e agressivos. É claro que a Espanha, mesmo sem
ponta-de-lança, não é o Barcelona. Mas ficou no ar uma
possibilidade que poderá ser explorada na próxima temporada.
As várias vidas dos gregos sucedem-se,
para surpresa de quem segue o futebol europeu. Depois de estar quase
derrotado ao intervalo do primeiro jogo frente à Polónia, o
conjunto de Fernando Santos soube como regressar ao jogo e somar um
ponto que lhe viria a ser essencial. A seguir a uma derrota vendida
cara frente à Rep. Checa, foi num dos momentos mais dramáticos do
torneio que a Grécia mostrou o seu potencial, afastando a Rússia.
Karagounis, o lutador/artista que lidera a equipa helénica, marcou o
golo da vitória. Vinda de um país a viver uma crise profunda, é
grega uma das melhores histórias do Euro.
Os marcadores de golos. Entre as
confirmações de Mário Gomez como o melhor ponta-de-lança europeu
e a capacidade de Cristiano Ronaldo ser decisivo com a equipa de
Portugal, entram no quadro das revelações dois jogadores que
atingiram o primeiro ponto alto das suas carreiras neste torneio.
Dzagoev, da Rússia, e Mandzukic, da Croácia, mostraram, com golos,
o seu potencial, podendo ter conseguido encontrar também uma nova
porta para as suas carreiras, assinando contratos com equipas mais
relevantes no panorama europeu. São duas novas estrelas do futebol
europeu, com carimbo Euro 2012.
A Inglaterra chegou ao Europeu
condenada ao fracasso. Com um treinador acabado de chegar, uma guerra
entre líderes da equipa, uma quantidade inacreditável de
lesionados. Consciente das suas limitações, Roy Hodgson decidiu
transformá-las em forças. Parker e Gerrard constituem um meio-campo
que dá lições de recuperação de bola e colocação da mesma em
condições na frente de ataque. Ashley Young, melhor nas linhas, é
um dos criativos do campeonato. Welbeck marcou o golo do torneio e
Rooney chegou na hora certa para garantir a vitória do Grupo D. Esta
Inglaterra com asas tem um muro alto para ultrapassar, a Itália, mas
acaba a fase de grupos em alta, como uma das equipas que mostrou mais
coisas que nos eram desconhecidas.
Baixos
A Holanda de Van Marwijk já não é a
Holanda de Van Marwijk. Entre as duas versões, dois anos de
distância e muitos quilómetros de diferença. A equipa que fechava
baixo e procurava a transição rápida na velocidade de alguns dos
melhores artistas do futebol europeu chegou ao Euro 2012 como um
conjunto partido nas ideias, nas possibilidades e nos resultados. Uma
Holanda que sai vergada ao peso de três derrotas, sem qualquer ponto
de positivo onde começar a refazer-se da queda. Como se apenas os
jogadores tivessem entrado no avião para a Ucrânia e a ideia de
equipa tivesse ficado retida no aeroporto, à espera de melhores
dias.
A Rússia caiu de alto, mas de um alto
onde acedeu na primeira jornada deste Euro. A equipa de Dick Advocaat
pareceu prometer atingir o mesmo ponto que alcançara em 2008, mas
depois de bater a Rep. Checa por 4-1 e estar a vencer frente à
Polónia, acreditou ter a qualificação garantida e parou. Cedo
demais. A Polónia acabou por empatar e frente aos gregos, a Rússia
foi uma metáfora da incapacidade aburguesada de quem se achava capaz
de ganhar a toda a gente. A alma russa voltou a ensombrar-se de
tragédia, saindo cedo demais deste Europeu. Mas só deixa saudades
quem mostra, em campo, que pode ser melhor. Apenas pensar que se é,
não chega.
A Rep. Irlanda ganharia todas as
competições de adeptos de futebol. Mas, dentro de campo, mostrou
quão limitada é a ideia de um futebol que aposta apenas na
velocidade e na capacidade de luta. O conjunto de Trapattoni é um
bom exemplo de que a garra e o querer não ganham jogos. Ou existe
qualidade técnica e tática, ou então a equipa não tem a mínima
possibilidade de obter resultados. Ainda assim, qualquer jogo
irlandês é uma festa nas bancadas. Por isso, serão bem vindos
daqui a quatro anos, quando um Europeu de 24 equipas lhes permitirá
não ser a pior equipa em competição.
Os organizadores, Polónia e Ucrânia,
não conseguiram passar da fase de grupos. O fator casa parece valer
muito pouco quando os países organizadores não têm valor
competitivo para fazer frente às melhores seleções da Europa. E se
a Ucrânia (constituída por muita alma e pouca tática) fica de fora
ultrapassada pela Inglaterra e França (para o mal e para o bem,
monstros sagrados do futebol continental), a Polónia (da exagerada
verticalidade) sai de cena para deixar passar a Rep. Checa e a
Grécia. Um amargo de boca demasiado intenso para quem sonharia
alcançar glória no “seu” Europeu.
Sem comentários:
Enviar um comentário