|Luís F. Cristóvão
Quando em janeiro passado a Zâmbia derrotou o Sudão por 3-0
na sua caminhada para a conquista da CAN, poucos diriam que no reencontro entre
estas duas equipas, os sudaneses levariam a melhor. Mas, no entanto, foi isso
mesmo que aconteceu. Não passaram mais de cinco meses, e os detentores do
título africano sofreram uma derrota por 0-2 na estreia das qualificações para
o Mundial. Enquanto quem é mais dado a superstições poderá ver neste fato uma
malapata zambiana com a maior competição do futebol (a Zâmbia nunca atingiu uma
fase final), razões mais profundas existem para justificar este resultado.
Essas razões, curiosamente, não se localizam na Zâmbia, que
apresentou praticamente o mesmo onze com que venceu a CAN. Estão sim na
evolução do futebol sudanês. Muito longe daquilo que tendemos a aceitar como o
perfume do futebol africano, a seleção do Sudão apresenta um conjunto onde o
rigor tático e a força física dos seus jogadores se impõe. Num relvado escasso
do estádio do Al Hilal, em Omdurman (arredores de Cartum), um onze dominado por
jogadores do Al Hilal e do Al Merreikh (duas das três equipas sudanesas ainda
em prova na Taça da Confederação) foi muito mais forte do que os zambianos.
O primeiro golo, marcado por Muhannad Tahir com um forte
remate de fora da área (não confundir com o outro Tahir que brilhou na CAN),
foi seguido por uma cambalhota que bem poderá exemplificar o que se passou no
relvado. Uma passagem de testemunho entre quem brilhou na CAN e quem quer
brilhar no Mundial.
Desilusão em Luanda
Em Luanda, grandes perspetivas para o que poderia acontecer
na estreia oficial de Romeu Filemon à frente da equipa dos Palancas Negras. A
vitória frente à Académica e o empate a zero frente à Macedónia prometiam o
melhor para esta renovada equipa angolana. No entanto, a desilusão voltou a
apoderar-se dos cerca de 50 mil adeptos que ocupavam as bancadas do Estádio 11
de novembro.
No onze titular, apenas quatro jogadores mantinham a posição
que tinham na CAN. Dany no setor central da defesa, Djalma, Mateus e Manucho
Gonçalves na frente de ataque. Os angolanos até começaram melhor, com Djalma a
marcar aos 7 minutos, mas o que se pode assistir durante todo o resto da
partida foi uma seleção ugandesa mais forte e mais decidida a pontuar do que os
Palancas a vencer.
As próprias trocas de Filemon foram no sentido de fechar os
caminhos para a baliza angolana, deixando que o Uganda continuasse a
aproximar-se com perigo da baliza defendida por Neblú. O golo acabaria por
acontecer ao cair do pano, marcado por Okwi, um jovem de apenas 19 anos. Com
este resultado, Angola começa mal o apuramento, num grupo onde terá que
ultrapassar o Senegal para sonhar com o Mundial.
Uma tarefa nada fácil
para os Palancas Negras.
A lenda dos Mambas
A complicada missão de Moçambique nesta fase de qualificação
teve estreia num estádio vazio. Frente ao favorito Egito, os Mambas
evidenciaram um futebol apostado em aproveitar falhas adversárias. O problema é
que o Egito não falhou. Mesmo sem competição a nível nacional, a seleção
treinada pelo americano Bob Bradley continua a dar cartas a nível continental.
Os jogadores têm beneficiado de treino e jogos de preparação acima do que é
normal para uma seleção, com regressos aos clubes apenas para os jogos das competições
continentais.
Na baliza de Moçambique, uma cara conhecida dos egípcios.
João Kapango, 36 anos, seis deles ao serviço da equipa do Tersana. Kapango
continua a ser a maior referência nas balizas moçambicanas. Lendário pela sua
presença exótica na baliza, o experiente guarda-redes viu a sua titularidade
ameaçada pela chamada do “português” Ricardo Campos ao estágio da seleção. O
guarda-redes do Caldas marcou presença junto com os Mambas, mas acabou fora da
convocatória final de Gert Engels, depois de alguma polémica na imprensa local.
Pinto, guarda-redes do Ferroviário de Maputo, sentou-se no banco e parece ser o
favorito à sucessão da lenda.
Kapango, no entanto, continua a não ter a sorte do seu lado
em jogos internacionais. Depois de se ter dado a conhecer ao mundo na CAN 2010,
onde demonstrou todos os pontos positivos e negativos do seu exotismo, o
guardião voltou a estar em destaque nesta jornada. Por um lado, fez uma
sucessão de boas defesas que permitiu a Moçambique sair apenas vergada a uma
derrota por 0-2. Mas por outro voltou a oferecer uma imagem para os apanhados
do futebol, quando no segundo golo a bola ressaltou do poste para as suas
costas, acabando, neste pingue-pongue, por entrar na baliza.
Como em tudo na vida, não basta ser-se o melhor. É também
preciso parecer-se o melhor.
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